Tudo começou quando seu carro, um bacanérrimo BMW, sumiu. Com a intenção de fazer compras em movimentada rua de Auckland, minha amiga estacionou o dito e desceu.
Ao retornar, cheia de sacolas e tranqueiras, cadê? Procura daqui, procura dali, e nada. E olha que carro sumido na Nova Zelândia é caso pra “Jornal Nacional”.
– Mas a senhora tem certeza de que o estacionou aqui? – pergunta o policial, solícito.
– Claro! Sempre paro nesta rua. E, sinceramente, não sei o que aconteceu!
Notícias como essa em Auckland acabam se espalhando rapidinho.
– Roubaram o carro daquela senhora!
– Jesus Christ!!!
– Oh, my God!!!
– Putz grila! – pensa desnorteada enquanto liga para o celular do marido. A loja inteira desce para saber do ocorrido. E alguém logo coloca a culpa nos imigrantes. A discussão étnica quase vira comício, britanicamente falando, claro!
E o policial, pelo rádio, convoca uma tropa de choque. Carros com sirenes e luzinhas aparecem em questão de minutos.
– UOL, UOL, UOOLLL!!! – apitavam as sirenes num estardalhaço monumental. O máximo da emoção para as ruas de uma cidade desacostumada à criminalidade.
E ela, pela enésima vez, repete a placa, a cor, o ano e o escambau do carro novinho que, simplesmente, PUF, desapareceu!!!
– Fica tranquila, minha senhora, nós vamos reaver seu carro – dizia-lhe um segundo policial.
Para isso, quase convocam um helicóptero, fazendo com que a coisa se tornasse ainda mais cinematográfica. Em volta dela, uma multidão indignada.
– Aceita uma água? – pergunta a proprietária da livraria.
– Venha descansar um pouco – oferece gentilmente a dona do café.
O motorista do táxi se prontifica a levá-la de volta a casa. E a polícia, mobilizada, promete ações imediatas.
O marido finalmente aparece. Quer saber dos detalhes. Conversa com os policiais, que, no momento, saem numa busca frenética ao veículo roubado.
Agradecendo as muitas manifestações solidárias, minha amiga entra no carro do esposo. Até que, de repente... olhando para o lado... começa a tremer, as pernas bambeiam. Quer sair dali o quanto antes.
– Darling? Você está bem? – pergunta o marido, neozelandês, preocupado com a palidez repentina da mulher.
– Yes, yes – responde a outra. Let’s go! Please!!!
– Darling! Não tem problema, é só um carro... – tenta consolá-la.
– Let’s GO, pleeeease!!! – diz desesperada.
Horas depois, na calada da noite, dois vultos despontam na rua deserta. O carro do marido para devagarinho. E, de dentro, com um longo e espesso capote negro, óculos marrons e uma tresloucada peruca ruiva, minha amiga sai. Olha para um lado, olha para o outro e, rapidamente, entra num BMW prata que, por um dia inteiro, esteve estacionado na esquina. “OH, MY GOD!!!”