O brasileiro não pensa na aposentadoria?
Gosto de propor para uma audiência uma experiência mental: um mundo sem governo e sem dinheiro. É interessante que nesse mundo imaginário o problema da aposentadoria não desaparece. Esse é um problema natural, que decorre do fato de que nós humanos temos resumidamente três fases de vida: 1) infância, 2) ativa, 3) sênior. Na fase 1, alguém nos sustenta. Na fase 2, produzimos; na fase 3, produzimos pouco ou nada e devemos viver do que poupamos na fase 2. O problema da aposentadoria é o de quantificar quanto se deve poupar na fase 2 para quanto se pode consumir na fase 3. Ajuda o fato de que podemos fazer a riqueza acumulada render a nosso favor. Muito pouca gente entende isso, e pensa nisso. Quase todo mundo que conheço, que está na fase 2, simplesmente gasta tudo o que consegue ganhar, e não tem plano nenhum para a fase 3.
Que dicas você daria para quem está querendo planejar a aposentadoria?
A dica básica é desconfiar muito de governos e fundos de pensão, por eventualmente esses serem alvo de cobiça política ou outros problemas. O que se deve fazer é não gastar tudo o que se recebe, e fazer um plano de poupança como os que os simuladores ajudam a fazer.
O que acha da proposta do governo para mudar as aposentadorias?
Não existe almoço grátis. Se a sociedade deseja que existam generosas aposentadorias (em valor e em tempo de contribuição), terá que pagar por isso. E paga. Operamos o sistema público sem reservas financeiras. Isso é: recolhemos e pagamos. Uns chamam isso com um nome bonito de “solidariedade entre gerações”. Os dados do governo mostram o sistema público de previdência tem déficit enorme e crescente, e que o Tesouro cobre esse déficit. O déficit é crescente porque a população está envelhecendo. Além disso, há diversos privilégios. Muitas categorias têm aposentadoria com regime especial. Para bancar as aposentadorias como constam nos contratos de muita gente, será necessário o Tesouro pagar cada vez mais. A sociedade deverá escolher entre duas opões difíceis: ou vai aumentar muito os impostos para manter as aposentadorias, ou vai reformar a Previdência – cortando benefícios – para diminuir o déficit; eventualmente fará as duas coisas. Um sistema mais justo me parece que seria o de haver um teto não muito grande de aposentadoria pública, para todos os cidadãos. Acima desse valor, o indivíduo teria que buscar um fundo privado. A sociedade deverá entender e decidir o que fazer.