Insuficiência renal

Diálise: maior rede privada do país ameaça parar de atender SUS

Rede DaVita, que tem unidades em Juiz de Fora e Uberlândia, diz que repasse público paga apenas 53% do valor do tratamento

Por Agências
Publicado em 17 de setembro de 2022 | 14:55
 
 
 
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São Paulo. A rede de clínicas de diálise DaVita disse que não renovará contratos com a rede pública e que deixará de atender novos pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) caso os governos estaduais ou o Ministério da Saúde não cubram os prejuízos que a empresa afirma ter com a terapia até outubro. Hoje, o valor da sessão de diálise paga pelo SUS é 53% menor que o custo real do procedimento, de acordo com a Associação Brasileira de Clínicas de Diálise e Transplante (ABCDT). O tratamento é utilizado para substituir as funções de um rim deficitário.

A rede é a maior do país no ramo e atende 15% do total da demanda do SUS por diálise - são cerca de 14 mil pacientes com insuficiência renal crônica. Em Minas Gerais, possui unidades em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, e Juiz de Fora, na Zona da Mata.

Ao longo desta semana, a empresa notificou 13 dos 15 Estados em que opera demandando a recomposição econômica. "Se isso não acontecer, comunicamos que não renovaremos os contratos com o SUS e precisaremos reavaliar de imediato o aceite de novos pacientes porque há uma fila imensa, que não poderemos mais suprir caso não haja uma resposta conclusiva", disse o administrador Bruno Haddad, CEO do grupo DaVita.

SUS paga R$ 218 pelo procedimento de diálise

O preço pago pelo SUS hoje é de R$ 218, valor que foi reajustado após cinco anos sem aumentos em dezembro do ano passado, mas a rede argumenta que o custo real por sessão é de R$ 303. "Em 2021, houve um reajuste simbólico que não compensou absolutamente nada. Os custos aumentaram muito. Insumos, variação cambial, inflação, correções salariais de 10% ao ano e as consequências da pandemia. É impossível se recompor sem um reajuste. Por essa razão, a DaVita não tem mais como subsidiar essa realidade do SUS", afirma Haddad.

Hoje, apenas Rio de Janeiro, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul cobrem os custos demandados pelo setor. O posicionamento do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) é de que a terapia deveria ser integralmente custeada pelo Ministério da Saúde.

Clínica de diálise cobra resposta do Ministério da Saúde até o dia 23

"Reiteramos o posicionamento do Conass, de que o financiamento da terapia renal substitutiva é exclusivamente federal, e que os Estados não se furtam a discutir o cofinanciamento do SUS, mesmo porque já o fazem de forma robusta", explica Ribeiro.

No ano de 2021, por exemplo, enquanto São Paulo investiu, em média, R$ 460 per capita no SUS, o Ministério da Saúde aportou R$ 323 por habitante na saúde do Estado, conforme dados do Sistema de Informações sobre Orçamentos Públicos em Saúde (Siops).

Além de notificar os Estados, a DaVita também enviou uma carta ao Ministério da Saúde com prazo de resposta até 23 de setembro, solicitando um posicionamento sobre uma eventual recomposição do déficit da diálise na rede pública. "A ausência de retorno com uma proposta de reequilíbrio no prazo supracitado culminará na inviabilização imediata do aceite de novos pacientes, bem como na impossibilidade de renovação dos contratos vincendos, além das medidas judiciais cabíveis", diz a carta assinada por Haddad, que ainda não teve resposta.

Questionado na quinta-feira, 15, antes do ultimato da DaVita, se planeja reajustar o valor pago pela diálise no SUS, o Ministério da Saúde respondeu ao Estadão que "repassa mensalmente recursos financeiros a todos os e Estados e municípios para custeio de procedimentos e serviços hospitalares, incluindo procedimentos de hemodiálise".

"Em 2021, foram repassados mais de R$ 63,1 bilhões aos fundos estaduais e municipais de saúde. Em 2022, até agosto, foram repassados mais de R$ 36,3 bilhões", diz a nota. A pasta ressaltou ainda que o "financiamento do SUS é tripartite, cabendo a participação dos Estados e municípios". (Estadão Conteúdo)

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