Recentemente, durante um encontro do projeto Magia da Deusa, propus uma prática que parecia simples — mas que abriu portais profundos de cura, vergonha, riso e libertação. Reuni minhas alunas num salão espaçoso, aconchegante e seguro, e entreguei a cada uma delas um espelho. O convite era esse: olhar, com amorosidade, para a própria vulva.

Sim, olhar de verdade. Não de relance, não com pressa, não com julgamento. Mas com presença. Com curiosidade. Com ternura. No início, o clima era de estranheza. Um silêncio denso tomou o ambiente. Algumas foram para os cantos, tímidas, quase se escondendo como se estivessem cometendo um pecado. Outras riram nervosas. Teve quem hesitou, quem suspirou fundo, quem chorou... e teve também quem se encantou. Uma das mulheres, de 54 anos, me olhou rindo e disse: “Tami... é a primeira vez na vida que vejo a minha.”

Esse momento me atravessou inteira.

Porque não é sobre sexo. É sobre pertencimento. É sobre reconhecer uma parte do corpo que foi silenciada por séculos, negada, escondida, suprimida. Quantas de nós fomos criadas ouvindo que essa parte do corpo é feia, suja, perigosa? Quantas vezes você mesma se olhou com carinho, com reverência, com curiosidade genuína? Quantas vezes você nomeou sua vulva, explorou a anatomia com atenção, notou onde está o clitóris, a uretra, os pequenos lábios, as glândulas? Essa prática é, na verdade, um ato de soberania íntima. Um retorno pra casa.

Na Sexologia Somática, que é a base do meu trabalho junto com o Tantra, enxergamos a vergonha do próprio corpo — e especialmente da vulva — como um dos bloqueios mais profundos para a experiência plena do prazer. Porque prazer requer entrega. Requer confiança. Requer presença. E como se entregar a um corpo que você não reconhece? Como confiar em sensações que você nunca permitiu despertar?

Eu gosto de dizer que a vulva é como uma flor noturna: ela precisa de penumbra, silêncio e segurança para se abrir. E mais do que isso, ela precisa ser amada por quem a habita. Não existe prazer verdadeiro se a base for rejeição. Quando você sente vergonha de si, você se encolhe, se esconde, e muitas vezes entrega o seu prazer nas mãos de outros, esperando que alguém venha te revelar um território que é seu por direito.

Durante aquele encontro com as minhas alunas, eu observei mulheres rindo pela primeira vez ao falar da própria vulva com naturalidade. Outras tremiam, emocionadas, ao se verem com olhos de acolhimento.

E o mais bonito: elas começaram a conversar entre si sobre o que viram. Uma disse que achava estranho o formato dos lábios. Outra contou que sempre teve vergonha. Uma terceira revelou, com pesar, que sempre achou sua vulva feia. Muitas compartilharam histórias de abuso.

E ali, naquele círculo de mulheres, cada relato era acolhido com presença e amor. Uma se espantou ao perceber que nunca soube onde ficava exatamente o seu clitóris. Foi como acender pequenas luzes em um templo que sempre esteve ali, mas permaneceu às escuras por tantos anos.

Hoje, eu te convido com todo o meu amor a viver essa prática. Pegue um espelho. Vá para um lugar onde você se sinta segura. Sente-se ou deite, respire fundo e, com delicadeza, olhe. Sem expectativas, sem julgamento. Apenas olhe. Observe os detalhes, os contornos, as curvas, as dobras. Perceba como seu corpo fala. Quais são os sentimentos que surgem? É vergonha? É curiosidade? É nojo? É admiração? É desejo?

Permita-se sentir tudo. Você não precisa forçar nada, nem fingir empoderamento. Basta estar presente. E se for difícil no começo, tudo bem. Respira com você. Fica um pouco mais. Lembra que essa parte do seu corpo guarda não só sua história, mas a de todas as mulheres que vieram antes. Ela é templo, é casa, é portal, é flor.

Se você deseja sentir mais prazer na sua relação, aqui vai uma dica... Não é uma técnica mágica que vai fazer você sentir mais prazer. Não é um curso de “sentada mágica” ou uma aula de massagem erótica. O verdadeiro prazer começa a partir da conexão que você tem com o seu próprio corpo. É ali que tudo nasce. É ali que a chama se acende.

Gostou dessa dica? Vejo você na nossa próxima coluna, onde vamos falar sobre algo que vem incomodando muitos homens e destruindo muitos relacionamentos: a impotência sexual, que está se tornando cada vez mais comum — e gerando muita ansiedade. Deseja ler essa matéria? Então te encontro aqui na próxima sexta-feira.