O artista plástico que não liga para diplomas em Belas Artes, Leo Brizola não gosta de encher linguiça, de arte contemporânea, mas adora reticências. Para ele arte é mel e o maior apicultor é o holandês “voador”, Johannes Vermeer. Sua recente exposição está no Galpão Paraíso até final de janeiro.
Leo, qual o pente que penteia sua arte?
O pente que me penteia tem hastes longas e afiadas e entram pelo escalpo e vão até a memória... Essa é que causa tudo.
Qual sua formação?
Fiz escola Guignard durante os anos 80, entrei sem 81 e fiquei ate 89 e fiz somente gravuras. Nos meados dos 80 fiz Belas Artes na UFMG, também gravura. Nunca pintei em nenhuma das escolas e também não concluí nenhuma delas, nunca me importei muito com diplomas e, portanto, não os tenho...
Arte se aprende na escola ou é vocação?
Há a vocação certamente, assim como há para médicos e políticos. Mas na escola deveria se aprender técnica e sensibilidade... No meu caso aprendi sensibilidade na escola Guignard e técnica na UFMG...
Fale sobre sua atual exposição...
Essa mostra no Galpão Paraíso faz um arco dos últimos 14 anos de minha produção e reuni os grandes formatos com nove polípticos que não haviam sido reunidos aqui em BH e os pequenos óleos sobre tela que são minha produção recente.
Qual sua definição de arte?
Arte é o mel que o homem faz.
Qual o papel da arte, ser bela ou ser uma salvação?
Ser bela, ser uma salvação e ser uma corrente nesse negócio que é humanidade... COMUNICAÇÃO.
Você tem um tema recorrente?
Os arquétipos.
Você consegue viver de arte?
Mal e porcamente.
Que tela de outro artista teria em sua parede?
Qualquer uma do Vermeer.
Como diria o poeta Ferreira Gullar, “Traduzir-se uma parte
na outra parte - que é uma questão de vida ou morte - será arte?”.
Quando vejo uma pintura de Lascaux e me emociona e me move e me intriga.... Espero que num futuro alguém sinta o mesmo por uma obra minha.... Talvez pretensioso demais, mas geralmente vivo nas nuvens mesmo...
Já ilustrou livros?
Nunca e raramente faço retratos.... Esses graus de intimidade que exigem não me atraem, prefiro ficar na minha fantasia que é mais livre.
Que imagem representaria o Brasil
Acho que a de Macunaíma representa bem.
Você bebe e escuta música quando trabalha?
Música ou filmes enquanto trabalho, mas bebida nunca... Com ela a mão não obedece.... Prefiro fumar...
Já se aventurou pela fotografia?
Já fotografei e gostei da experiência, foi pontual e não se repetiu mais... Creio que experimentei a fotografia e o resultado foram mais de quatro mil fotografias as quais estão quase todas inéditas ainda...
A pintura já foi personagem de um grande filme? Qual ou quais?
A minha pintura não foi personagem de filme, grande ou pequeno, porém uma grande do cinema apareceu por um tempo em algumas pinturas e foi Marlene Dietrich... Das poucas pessoas nesse mundo do cinema que eu gostaria de ter conhecido pessoalmente.
Já viajou muito?
Viajo pouco e quando é extremamente necessário... Não gosto de deslocamentos... O mais longe que fui foi a NY quando expus lá...
Qual o museu incontornável no Brasil ou no exterior?
Museus não são incontornáveis, mas penetráveis.... Não conheço os museus europeus, nunca estive lá.. O Metropolitan de NY é encantador e os museus de São Paulo e Rio são adoráveis. O museu de arte de Minas não existe até hoje....
O Brasil é careta ou muito doido?
Uma parte da elite "culta" é careta e burra e entre o povo se encontra valores encantadores e muito doidos.
O que acha da arte contemporânea?
A arte contemporânea tem um hábito que me cansa até quase a morte..... Mostrar o processo e achar que isso seja a arte em si..... Um suplício ver coisa rasa e mal feita. Na chamada arte contemporânea isso abunda.
As bienais e salões são um caminho ou pedras no meio do caminho?
A bienal de São Paulo já foi um pouco interessante, um pouco antes da morte dela no fim dos anos 80... De lá pra cá é quase um festival de horrores e não creio que tenha salvação... Não me movo mais para ir ver a Bienal de São Paulo... Já os salões, que também faleceram nos 80, pelo menos aqui em BH, eram oportunidades de se ver o que os artistas daqui estavam fazendo, mas parece que isso não interessa a ninguém.... Além de mostrarem a produção atual eles premiavam os artistas e formavam acervos com as obras premiadas, mas parece que isso também não interessa mais... Afinal memória serve pra que mesmo....