A raquete é para André Baran o seu meio de vida. Desde que nasceu, lida com ela praticamente todos os dias. De melhor amiga na infância, virou instrumento de trabalho na adolescência e juventude, pelas quadras do tênis de campo. Ainda muito jovem, teve que largá-la, devido às circunstâncias da vida. Mas foi na vida adulta, depois de formado e já distante do esporte, ele reencontrou sua grande parceira. Desta vez na areia, e em altíssimo nível.
Nascido em Florianópolis-SC, foi treinado por Larri Passos, um dos maiores formadores da modalidade no Brasil. Passou por todas as competições de base e aos 16 anos já fez os primeiros pontos na ATP, ao disputar partidas profissionais. Foi dupla de Guga em 2008. Com 21 abandonou o esporte, foi estudar e trabalhar.
Agora, aos 34 anos, luta ‘palmo a palmo’ por um feito inédito alcançado somente por ele no beach tennis brasileiro: o topo do ranking ITF. Em setembro do ano passado, Baran chegou à 1ª posição. Atualmente, ocupa o 3º lugar, mas projeta recuperar a liderança.
Em vias de iniciar a temporada de 2025, ele concedeu uma entrevista para o ‘Viciados no Tennis’, em que abordou sua carreira, o incrível ano de 2024 e projetou os próximos passos para a temporada, que começa para ele na próxima semana, no Grande Prêmio Beach Tennis Caiobá Open.
Após vencer 10 títulos no ano passado, a meta é superar esse desempenho, ao lado de seu parceiro Michelle Cappeletti, italiano que ocupa a 4ª colocação no ranking.
Além disso, a paternidade bate à porta, o que traz ainda mais luz e desafios para os próximos meses do atleta.
Da quadra e campo para a areia: encontrando a felicidade e o alto desempenho
Conseguir se tornar um atleta de alto desempenho em um esporte já é um feito gigantesco para uma vida. André conseguiu ser em dois. Mesmo depois de já dar por encerrada sua aventura como atleta, retornou, com a sanha de alcançar o topo e desbravar caminhos.
Confira abaixo a entrevista completa com André Baran:
Viciados: Você é um atleta de duas modalidades. Dê um resumo de como foi a sua transição do campo pra praia e como tem sido alcançar tantas glórias neste esporte.
André Baran: O tênis corre na minha veia desde cedo. Comecei a jogar tênis com 3 anos de idade, passei por toda a base juvenil, as categorias tradicionais: 12, 14, 16, 18. Joguei o circuito juvenil, tive pontos na ATP cedo, né? Com 16 anos já fiz os primeiros pontos na ATP, joguei profissionalmente.
Acho que cheguei até 700, 600 do mundo no ranking internacional de tênis. Pude jogar dupla com o Guga também. Fui treinado pelo Larri Passos, na época em que ele treinava o Guga. Tive uma experiência muito bacana. Parei de jogar tênis com 21 anos devido às circunstâncias.
O beach tennis foi uma transição que eu não esperava. Não conhecia o esporte muito bem. Quando parei de jogar tênis, fiquei perdido: "O que vou fazer? Qual será o meu futuro?". Tinha uma vida onde treinava 8 horas por dia, ficava na academia do Larry de manhã até de noite, viajava o mundo... De repente, você para.
Fui pra faculdade, me formei em administração, tentei uma vida nova, trabalhei no ramo que estudei. No fim da faculdade, por uma brincadeira, conheci o beach tennis. Foi algo sem planejamento. A gente foi jogar na praia em 2016 ou 2017, no começo do esporte.
Gostei demais e comecei a jogar uma vez por semana. Evoluí, mas ainda por brincadeira. Até que joguei um campeonato estadual, joguei bem e pensei: "Vou ficar bom nisso". Sentia que faltava algo na minha vida, uma chama que não se cumpriu no tênis. Comecei a jogar mais torneios, ainda como amador, até decidir entrar de cabeça no esporte.
Viciados: Quais as semelhanças e diferenças entre o tênis de campo e o beach tennis, principalmente no condicionamento e na mentalidade?
André Baran: Os esportes são muito semelhantes, mas têm diferenças. A mentalidade do tênis ajuda muito: é um esporte individual, perfeccionista, que exige força mental. Trouxe essa disciplina para o beach tennis, além de golpes parecidos como saque e voleios. A rede é mais alta, mas tentei adaptar o que sabia do tênis. Na época, o beach tennis era novo no Brasil, então tive que me reinventar, aprender errando. O tênis me deu uma escola que me tornou quem sou hoje.
2024, o ano das vitórias para André Baran
No ano passado, o beachtenista conseguiu atingir o topo do mundo, em setembro, após ter sido Campeão Mundial da modalidade. Para além desta glória máxima, ele ainda conquistou 10 títulos e manteve 87% de taxa de vitórias, com 83 partidas vencidas e apenas 12 derrotas.
Viciados: Vamos falar de 2024, um ano em que você atingiu o auge: 10 títulos. Como foi essa temporada?
André Baran: Jogamos 24 a 26 semanas no ano, quase sempre chegando às finais. Trabalhamos muito, e minha dupla fez diferença. Estou no top 10 desde 2019, sempre buscando evoluir. Foi um orgulho (chegar ao top 1). Quero inspirar outros atletas, mostrar que é possível superar dificuldades. Comecei sem patrocínio, mas hoje tenho apoio de empresas. Compartilhar minha história, alegrias e os medos, é o mais importante.
Em 2025: André Baran projeta sucesso nas quadras e na vida
O ano que se inicia será especial para André. E a afirmação é amparada pelos desafios e desejos que o atleta demonstra para esta temporada. A começar, pela vontade de retomar o top 1, que atualmente está sob o domínio do francês Nicolas Gianotti, seguido pelo italiano Mattia Spoto. Os líderes formam a principal dupla rival do brasileiro com Capeletti.
Hoje terceiro, Baran sabe que o caminho será árduo e por isso treina firme desde os primeiros dias de janeiro.
Viciados: Para 2025, o objetivo é retomar o número 1?
André Baran: Com certeza. A briga com o Cap e outros é saudável para o esporte. Em 2024, nós nos enfrentamos oito vezes e foi 4 a 4. É muito bom ter essa briga pelo título, essa briga pelo número 1 entre outros jogadores. Eu falo que o Beach cresceu muito, então tá muito competitivo, tem jogadores muito bons, que estão no top 10, no top 20, brigando. E tem também muita meninada jovem, que vão dar muito trabalho. Então tem que estar sempre muito preparado, porque desde a primeira rodada no campeonato, se você não joga bem, você vai embora. Temos que estar sempre no limite.
Além disso, André ainda possui mais um grande desafio para os próximos meses: a paternidade.
Viciados: 2024 também trouxe uma novidade pessoal: você vai ser pai! Como isso motiva seus planos?
André Baran: Foi uma notícia maravilhosa, depois do Mundial na Itália. Estou ansioso para ser exemplo pro meu filho, conciliando a carreira com a família. Depois que você tem essa notícia, começa a se preparar, você começa a ter uma inspiração, uma empolgação a mais, uma motivação a mais, na verdade.
Eu tô muito feliz em poder continuar, em poder ser um exemplo do meu filho, poder estar em alta performance, não vejo a hora de que tenha hora de nascer, né?
A gente fica ansioso, então foi muito legal, tá sendo muito legal, tô aproveitando cada momento, cada segundo, mas sei também que não vai ser fácil, porque a nossa vida é viagens, a nossa vida é treinos, então vai ter que organizar tudo muito certinho para que eu possa eh ter tempo de qualidade com a minha família e poder também ter performar nas quadras né? Então vai ser muito bacana.
Ao finalizar o papo com o Viciados, André apresentou a sua perspectiva para 2025, com um olhar especial para a rotina de treinamentos que adota.
Viciados: Para finalizar: como estão os preparativos para a próxima competição
André Baran: Nossa, a gente está numa pré-temporada bastante intensa. É a última semana de treinos, e estou bem cansado, acabei de treinar agora. Temos trabalhado muita força e explosão nessa última semana.
As pernas estão pesadas, o corpo cansado, mas reagindo super bem, porque faz parte do processo, né? Tudo para chegar bem na competição. Estamos nos preparando para o próximo torneio, que será em Caiobá, no litoral do Paraná. Vai ser bem bacana, um torneio bonito, que abre o circuito, e a expectativa é a melhor possível, né?
Estamos há quatro semanas em treinamento intenso para aguentar a temporada. Agora é o momento de construir: a parte física, a mental, a técnica, para que a temporada comece com tudo. E, principalmente, aguentar o corpo para a sequência de torneios que virão.