Contagem é conhecido pelos seus centros industriais, mas ainda é um município com fazendas e muitas áreas de interesse ambiental. Para garantir que não haja desmatamento, prejuízo a nascentes ou invasão de regiões preservadas na cidade vizinha a Belo Horizonte, entra em ação a tecnologia. Com drone, é possível fazer um monitoramento mais preciso.

“Com a tecnologia, não aumentamos o número de multas. Mas demos mais subsídios aos relatórios. As imagens feitas com os drones comprovam que alguém descumpriu a legislação”, afirma Eric Machado, que é superintendente de Fiscalização Ambiental de Contagem.

O município tem seis drones e um deles é dedicado a essa fiscalização ambiental. O equipamento é guiado por um geógrafo autorizado pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). “Só ele pode mexer. Ele mesmo faz as captações de imagens, coloca no sistema, trata as imagens, insere no mapa, entre outros”, explica Machado.

Em Belo Horizonte não é diferente. Os drones são utilizados nas mais diferentes ações, como mapeamento de topografia, monitoramento e gestão de trânsito, levantamento de dados sobre áreas protegidas e atualização da base cadastral do município. 

De acordo com Marcelo Antônio Nero, professor do Departamento de Cartografia do Instituto de Geociências da UFMG, o drone proporcionou uma redução de custos imensurável para as prefeituras e as empresas, que antes precisavam investir alto para levantar dados geográficos.

“Antes você precisava de um avião e profissionais capacitados para levantar os dados. Até mesmo o piloto tem que ter habilitação para aquilo, porque é um voo específico. Com os veículos aéreos não pilotados, você consegue voos mais baixos e mais precisão nas imagens, coletar detalhes nos elementos de uma superfície. Para ter uma ideia, uma foto de drone é capaz de captar um botão de flor”, diz o professor. 

Equipamentos próprios

Além de oferecer precisão, os drones também proporcionam uma imensa economia nos gastos - não é preciso mais investir em avião, tripulação ou querosene de aviação para ter imagens aéreas ou acessar áreas remotas. Além disso, como o drone consome apenas bateria e substitui veículos movidos a combustíveis fósseis, ele se encaixa bem nos planos de muitas empresas comprometidas com a agenda ESG (Sustentabilidade, Diversidade Social e Governança).

Drones inserem sinalização em linhas de alta tensão. Foto: Cemig

 

Economia e sustentabilidade motivaram a Cemig a investir no desenvolvimento dos próprios drones para monitorar sua extensa rede de transmissão de energia. Atualmente, cerca de 20 equipamentos estão espalhados por todas as regiões de Minas para colaborar no trabalho dos eletricistas. 

De acordo com Carlos Alexandre Meireles Nascimento, engenheiro de sistema de transmissão da Cemig, com os equipamentos é possível ter uma eficiência no monitoramento dos ativos que seria muito difícil de ser feito sem contar com a tecnologia. 

“Vou dar um exemplo: subir numa torre de transmissão para ver a parte aérea dessa torre de transmissão. Com o drone a gente faz isso de uma forma muito mais fácil. Bom, mas também tem a limpeza da faixa de linhas de transmissão. Essa faixa tem que estar bem limpa, para que não ocorra incêndios, para que não ocorra desligamentos da linha. O drone, como ele faz esse voo, tem uma capacidade de análise que é muito melhor do que a capacidade do olhar do nosso eletricista, que é muito mais intuitiva”, explica.

 Esse trabalho de limpeza é improtante porque é comum acumular vegetação embaixo e/ou próxima à linha de transmissão - e este é um dos fatores de risco de desligamento em caso de temporais ou queimadas. Os drones ajudam a fiscalizar se há vegetação que pode (em caso de evento extremo) causar o desligamento. 

Outro exemplo importante, segundo ele, é a instalação de equipamentos junto à alta tensão, que antigamente era feita por aeronaves tripuladas. Sabe aquelas bolas alaranjadas que ficam nos fios de alta tensão para indicarem a pilotos de avião onde está a linha de transmissão? Esta é uma das ações que podem ser realizadas através da nova tecnologia.

“(Esta é uma área) onde existe uma necessidade de uso de helicóptero, que normalmente está embarcado com humanos, o piloto e o eletricista. E com o uso do drone a gente irá substituir essa atividade de risco, uma vez que o drone tem uma capacidade autônoma e o piloto fica no solo”, conta Nascimento.

O engenheiro explica que o sucesso da aplicação da tecnologia em todas as equipes espalhadas pelo interior de Minas está no grande investimento que foi feito na capacitação dos eletricistas. “Um ponto-chave para adoção seria a adaptação do corpo técnico da empresa a essa tecnologia, e o drone tem sido um diferencial, dado que a gente observa que as pessoas amam a tecnologia do drone. Elas se sentem motivadas, elas utilizam a tecnologia com muito mais eficiência do que se fosse pelo próprio a forma humana”, garante.

A estimativa é que as equipes da cemig tenham uma economia de 75% do tempo de trabalho graças aos drones. 

Previsões

E mais do que operar os drones, também é preciso ter profissionais que saibam ler a riqueza de imagens feitas pelo equipamento. No mercado, há empreendimentos focados apenas em sistemas de informação geográfica (mais conhecidos como GIS, sigla em inglês para geographic information system), onde hardware, software, procedimentos especiais e profissionais especializados se unem para facilitar análises a partir de dados geográficos.

Localizada em São José dos Campos (SP), a Imagem Geosistemas é uma empresa de soluções de Inteligência Geográfica que não oferece os drones, mas as leituras possíveis a partir dos dados extraídos pelo equipamento. Mineração e agronegócios são algumas das áreas onde estão os principais clientes. 

Daniel Henrique Candido, especialista de recursos naturais da Imagem, explica que os drones oferecem dados mais precisos que podem ser usados em escalas mais generalizadas ou precisas - tudo vai depender da necessidade do cliente.

Na mineração, por exemplo, os dados colhidos permitem a criação de modelos 3D. “Você pode enxergar um talude, encosta ou uma cava da mina em um modelo 3D e, dessa forma, delimitar áreas de atuação. Além disso, como você pode fazer voos diários com drones, você pode fazer comparações diárias e encontrar rapidamente alterações em sua área, como uma ocupação irregular ou uma supressão vegetal”, explica. 

Ana Sofia Gutierrez, especialista no setor de agronegócios da Imagem, afirma que a leitura de dados é fundamental para o planejamento de tratamento de uso, plantio, monitoramento dos cultivos e colheita.

Quanto mais informações são geradas ao longo do tempo de um determinado cliente, mais fácil fica usar os dados para um planejamento mais estratégico. “Com as imagens, eu consigo extrair um monte de informações. E com clientes mais avançados, a gente já utiliza inteligência artificial para ajudar na análise. Por meio de calibração que a gente faz nos algoritmos, a gente consegue prever tendências climáticas, previsões de focos de incêndio, conseguir trazer por meio da imagem uma leitura inteligente para fazer previsões”, diz Ana Sofia.