A trajetória de Eweline Passos Rodrigues, 28 anos, conhecida como "Diaba Loira", começou longe das disputas do tráfico carioca. Filiada ao TCP (Terceiro Comando Puro) após deixar o CV (Comando Vermelho), ela foi morta a tiros durante um confronto entre facções rivais no Morro do Fubá, zona norte do Rio de Janeiro, no fim de semana.
Nascida em Tubarão, Santa Catarina, Eweline vendeu trufas e cosméticos, trabalhou como alfaiate, abriu uma microempresa de vendas e ingressou na faculdade de direito, pagando a mensalidade com o dinheiro dos doces.
Em 2022, sobreviveu a uma tentativa de feminicídio, que marcaria a mudança de rumo. O ex-companheiro a atacou com uma facada no pulmão, na frente dos filhos. Nas redes sociais, ela dizia que a falta de proteção da polícia em sua cidade natal a empurrou para o crime. "Antes de julgar, vem ver a nossa história", afirmou em vídeo publicado no TikTok.
Pouco depois, passou a ser investigada pela Polícia Civil catarinense sob suspeita de tráfico. Foi presa em flagrante em 2023 com sete quilos de cocaína, que seriam levados para Tubarão (SC), e foi liberada. No ano seguinte, voltou a ser detida por porte ilegal de arma e associação criminosa. Colocada em monitoramento eletrônico, rompeu a tornozeleira duas vezes e se tornou foragida.
Foi nesse período que Eweline se aproximou do tráfico carioca. Encontrou abrigo em comunidades no Rio dominadas pelo CV, como a Gardênia Azul e o Complexo do Alemão, onde ganhou o apelido de "Diaba Loira" - antes, era chamada de "Pitbull". A notoriedade veio não só pelo envolvimento direto nas disputas, mas pela forma como expunha a rotina nas redes sociais.
Com mais de 150 mil seguidores no Instagram e no TikTok, postava fotos e vídeos empunhando fuzis, exibia tatuagens com referências ao tráfico e fazia provocações a rivais e até a aliados. Em uma das postagens mais conhecidas, escreveu: "Não me entrego viva, só saio no caixão".
A visibilidade acelerou tanto sua ascensão quanto os riscos. Em junho deste ano, foi filmada atirando contra policiais durante uma operação na Gardênia Azul. Pouco depois, rompeu com o CV e anunciou a migração para o TCP, associando sua imagem à Tropa do Coelhão, ligada ao traficante William Yvens Silva, na Serrinha, em Madureira.
Nas redes, passou a desafiar diretamente nomes do CV. Em julho, gravou um vídeo ironizando o rapper Oruam, filho de Marcinho VP, e o traficante Doca, apontado como integrante da cúpula da facção. "Dessa vez eu que dei o xeque-mate, bebê", disse, rindo.
Havia três mandados de prisão contra Eweline expedidos pela Justiça de Santa Catarina por tráfico de drogas, organização criminosa e violação de medidas judiciais.
O ex-advogado dela, Leonardo Reinaldo Duarte, afirma que Eweline cresceu em uma família de trabalhadores: o pai era policial militar da reserva e o ex-marido, jogador de futebol profissional. Mãe de dois filhos, deixou as crianças sob os cuidados da avó materna, Marilza da Silva Passos, em Tubarão.
Vinte e quatro dias após desafiar abertamente inimigos, foi morta a tiros em meio a uma disputa entre facções no Morro do Fubá, na zona norte do Rio. Seu corpo foi encontrado em Cascadura, a quilômetros do local do confronto. A Delegacia de Homicídios investiga as circunstâncias da morte.