Arquipélago dos Alcatrazes

Antigo alvo para tiros, paraíso brasileiro receberá turistas

Ilhas do litoral norte de São Paulo são refúgio da vida silvestre há um ano


Publicado em 11 de setembro de 2017 | 03:00
 
 
 
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SÃO PAULO. Primeiro, veio o cessar-fogo com a Marinha, em 2013. Depois, a transformação em área protegida, no ano passado. Agora, o arquipélago dos Alcatrazes, no litoral norte de São Paulo, vai ser finalmente aberto ao turismo. A portaria que regulamenta a visitação pública deve ser publicada na quarta-feira, quando será realizada cerimônia de celebração de um ano da criação do Refúgio de Vida Silvestre (Revis) de Alcatrazes.

Serão autorizadas apenas atividades marinhas de mergulho e contemplação, sem desembarque nas ilhas. O lendário arquipélago fica a apenas 35 km de São Sebastião, decorando o horizonte de algumas das praias mais famosas do Estado, mas está fechado à visitação desde o início da década de 1980, por imposição da Marinha – que até recentemente utilizava as ilhas como alvo para prática de tiros e outros exercícios de guerra.

Sua aparência pré-histórica, com formações rochosas semelhantes às do Pão de Açúcar carioca, é um reflexo fidedigno do seu isolamento geográfico e das peculiaridades de sua biodiversidade, que inclui várias espécies endêmicas, que não existem em nenhum outro lugar. Entre elas, a jararaca e a perereca-de-alcatrazes, ambas ameaçadas de extinção.

A ilha principal, com 2,5 km de extensão, abriga o maior ninhal de fragatas do país, com cerca de 6.000 aves. O espetáculo se repete debaixo d’água. É o ambiente com a maior biodiversidade de peixes conhecida no Brasil.

“Todo mundo merece ver esse lugar”, diz o biólogo Leo Francini, fotógrafo e mergulhador profissional, que trabalha com cientistas e ambientalistas no arquipélago há mais de 20 anos. “Não passa um dia sem eu receber um e-mail de alguém ansioso em ir para lá”, conta.

O turismo em áreas protegidas sempre envolve riscos, mas a experiência mostra que ela ajuda na proteção, especialmente em unidades de conservação marinhas, ainda mais difíceis de fiscalizar do que as terrestres. “A visitação pública é sempre desejada”, diz o secretário de Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente, José Pedro de Oliveira Costa, que participa dos esforços pela conservação de Alcatrazes desde a década de 1980.

“Havendo visitação e pesquisa, é maior a presença de pessoas bem intencionadas na área, o que aumenta a vigilância. Há também um importante fator de educação ambiental. Mais importante do que tudo, o visitante ficará extasiado com tanta beleza e será mais um, entre muitos, a defender a proteção de Alcatrazes”, diz Costa.


Regras

Proibido desembarque. Para a proteção de turistas, fauna e flora, a visita será somente na água. 

Só acompanhado. Também não será permitida a visitação por particulares.

Entrada gratuita. Nesse primeiro período não será cobrado ingresso.

Empresas interessadas. Cadastro no Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

Visitação só vai começar em 2018

A visitação de fato deve começar no início de 2018. Os próximos três meses serão dedicados ao cadastramento de empresas e treinamento de condutores, entre outras atividades. As atividades permitidas serão as de mergulho autônomo (com cilindros de ar comprimido) e passeios de barco, que poderão incluir observação de aves e mergulho livre (com snorkel).

“O primeiro passo para garantir que o turismo não traga um impacto negativo é o bom planejamento”, afirma a chefe do Núcleo de Gestão Integrada do Arquipélago dos Alcatrazes do ICMBio, Kelen Leite.

Um importante diferencial desse processo, diz ela, é que as regras previstas funcionarão em caráter experimental nos primeiros dois anos, com a possibilidade de alteração – tanto no sentido de flexibilizá-las quanto de endurecê-las. A ideia é desenvolver o melhor regramento possível, sem engessar o plano de manejo da unidade. 

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