SÃO PAULO. Primeiro, veio o cessar-fogo com a Marinha, em 2013. Depois, a transformação em área protegida, no ano passado. Agora, o arquipélago dos Alcatrazes, no litoral norte de São Paulo, vai ser finalmente aberto ao turismo. A portaria que regulamenta a visitação pública deve ser publicada na quarta-feira, quando será realizada cerimônia de celebração de um ano da criação do Refúgio de Vida Silvestre (Revis) de Alcatrazes.
Serão autorizadas apenas atividades marinhas de mergulho e contemplação, sem desembarque nas ilhas. O lendário arquipélago fica a apenas 35 km de São Sebastião, decorando o horizonte de algumas das praias mais famosas do Estado, mas está fechado à visitação desde o início da década de 1980, por imposição da Marinha – que até recentemente utilizava as ilhas como alvo para prática de tiros e outros exercícios de guerra.
Sua aparência pré-histórica, com formações rochosas semelhantes às do Pão de Açúcar carioca, é um reflexo fidedigno do seu isolamento geográfico e das peculiaridades de sua biodiversidade, que inclui várias espécies endêmicas, que não existem em nenhum outro lugar. Entre elas, a jararaca e a perereca-de-alcatrazes, ambas ameaçadas de extinção.
A ilha principal, com 2,5 km de extensão, abriga o maior ninhal de fragatas do país, com cerca de 6.000 aves. O espetáculo se repete debaixo d’água. É o ambiente com a maior biodiversidade de peixes conhecida no Brasil.
“Todo mundo merece ver esse lugar”, diz o biólogo Leo Francini, fotógrafo e mergulhador profissional, que trabalha com cientistas e ambientalistas no arquipélago há mais de 20 anos. “Não passa um dia sem eu receber um e-mail de alguém ansioso em ir para lá”, conta.
O turismo em áreas protegidas sempre envolve riscos, mas a experiência mostra que ela ajuda na proteção, especialmente em unidades de conservação marinhas, ainda mais difíceis de fiscalizar do que as terrestres. “A visitação pública é sempre desejada”, diz o secretário de Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente, José Pedro de Oliveira Costa, que participa dos esforços pela conservação de Alcatrazes desde a década de 1980.
“Havendo visitação e pesquisa, é maior a presença de pessoas bem intencionadas na área, o que aumenta a vigilância. Há também um importante fator de educação ambiental. Mais importante do que tudo, o visitante ficará extasiado com tanta beleza e será mais um, entre muitos, a defender a proteção de Alcatrazes”, diz Costa.
Proibido desembarque. Para a proteção de turistas, fauna e flora, a visita será somente na água.
Só acompanhado. Também não será permitida a visitação por particulares.
Entrada gratuita. Nesse primeiro período não será cobrado ingresso.
Empresas interessadas. Cadastro no Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Visitação só vai começar em 2018
A visitação de fato deve começar no início de 2018. Os próximos três meses serão dedicados ao cadastramento de empresas e treinamento de condutores, entre outras atividades. As atividades permitidas serão as de mergulho autônomo (com cilindros de ar comprimido) e passeios de barco, que poderão incluir observação de aves e mergulho livre (com snorkel).
“O primeiro passo para garantir que o turismo não traga um impacto negativo é o bom planejamento”, afirma a chefe do Núcleo de Gestão Integrada do Arquipélago dos Alcatrazes do ICMBio, Kelen Leite.
Um importante diferencial desse processo, diz ela, é que as regras previstas funcionarão em caráter experimental nos primeiros dois anos, com a possibilidade de alteração – tanto no sentido de flexibilizá-las quanto de endurecê-las. A ideia é desenvolver o melhor regramento possível, sem engessar o plano de manejo da unidade.