DISTRITO FEDERAL

Bloco mais antigo de Brasília, Pacotão critica racionamento de água

Música Banho Tcheco foi escolhida para embalar os foliões na capital do Brasil

Por Agência Estado
Publicado em 26 de fevereiro de 2017 | 19:56
 
 
 
normal

Com 39 anos de existência e conhecido nacionalmente por suas sátiras políticas, o Pacotão, bloco de Carnaval mais tradicional de Brasília, continua extraindo do noticiário material fértil para animar os foliões que desde 1978 o seguem pela contramão da W3, uma das principais avenidas da capital federal. O bloco saiu da concentração, na 302 Norte, por volta das 16h30, e reunia 2 mil foliões por volta das 17h10.

Um ano após esconjurar a corrupção com a marchinha Suruba no Alto Escalão, os carnavalescos se voltaram para uma preocupação mundial que, nos últimos meses, tornou-se um problema local: o risco da falta d'água no Distrito Federal.

A música Banho Tcheco foi escolhida em meio à queda no nível dos reservatórios d'água brasilienses que obrigou o governo do Distrito Federal (GDF) a implementar o racionamento em sistema de rodízio. Em vigor desde janeiro em parte do DF, a medida afetará outras regiões, como o Plano Piloto, a partir de segunda-feira (27).

“É banho de bacia / Tcheco, Tcheco, Tcheco / Falta água noite e dia / Tcheco, Tcheco, Tcheco / O Pacotão que vai falar / A falta de gestão faz o DF afundar”, acusa parte da letra composta por Antonio Jorge Sales, Antonio Carlos Sales, Thayane Sales e Hadassa Dolbeth Sales e escolhida entre dezenas de inscritas.

“O Pacotão atrai velhos com seus netos e bisnetos, jovens, tem macumbeiro, feiticeiro, católico, evangélico, espírita e até um judeu preto, que sou eu. É um bloco 'sujo', mas familiar”, comenta um dos fundadores do bloco, o jornalista Cícero Lopes, elogiando o caráter “ecumênico” do Pacotão.

“Em quase quatro décadas, nos firmamos como um bloco de foliões, autêntico, brasiliense. Para mim, o Carnaval de Brasília ainda é o Pacotão, onde não há uma briga”, acrescenta o jornalista. Para Cícero, a crise econômica favorece que mais pessoas permaneçam na cidade e prestigiem os festejos locais, que nos últimos anos vem crescendo e se profissionalizando, com alguns blocos arrastando centenas de milhares de foliões.

Sátira e bom humor
Acostumada com o carnaval do Rio de Janeiro, a professora Vania Cabral do Santos destaca o crescimento do número de blocos brasilienses nos últimos anos. “Os últimos quatro anos, eu passei no Rio de Janeiro. Este ano, optei por ficar em Brasília para conhecer e por ver que o número de blocos vem aumentando. Gostei do bloco a que fui ontem [Babydoll de Nylon, que reuniu 160 mil pessoas, segundo a Secretaria de Segurança Pública e da Paz Social]”, comenta a professora, em sua primeira vez no Pacotão.

Apesar da chuva que caía na capital federal, Vania não se sentiu desestimulada. Para a professora, o humor aliado à sátira política é o diferencial do bloco. “Acho boa esta irreverência do bloco. Assim a gente brinca, se alegra, mas sem deixar de lado a parte política, a realidade nacional”, comenta.

O empresário Ricardo Araújo entrou no clima de criticar com bom humor a política brasileira, tendo se fantasiado de político preso aproveitando o indulto de carnaval. “Decidi aproveitar no Pacotão porque acho um bloco adequado ao momento que o país atravessa. Na companhia da minha escolta policial [parentes e amigos], decidi vir participar, dar minha contribuição para a alegria do Carnaval, uma grande brincadeira”, diz.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!