DE ESTÔMAGO VAZIO

Brasil em fome: 1 a cada 3 brasileiros já viveu situação de vergonha para comer

Pesquisa mostra que muitas pessoas já fizeram alguma coisa que lhes causaram tristeza ou constrangimento para conseguir alimento

Por Nubya Oliveira
Publicado em 08 de junho de 2022 | 13:27
 
 
 
normal

Quem caminha pelas ruas, principalmente das grandes cidades do Brasil, se depara constantemente com pessoas conferindo sacos de lixos a procura de alimentos para matar a fome. Outras, entram em transportes coletivos ou vão a locais públicos para pedir ajuda a fim de comprarem algo para comer. 

Essas situações reforçam uma pesquisa, divulgada nesta quarta-feira (8), mostrando que 1 a cada 3 brasileiros já fez alguma coisa que lhe causou vergonha, tristeza ou constrangimento para conseguir alimento.

O  2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN), revelou o retrato da fome no Brasil em 2022. Segundo o estudo, o número total de pessoas que não tem o que comer chegou a 33,1 milhões. 

Os dados são preocupantes e estão diretamente ligados às questões de políticas públicas, de acordo com Melissa Luciana de Araújo, coordenadora da Comissão Permanente do Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA) do Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável de Minas Gerais (Consea-MG). 

“O que a gente presencia no Brasil, principalmente nos últimos 5 anos, é um desmonte das políticas públicas estruturantes de segurança alimentar. A insegurança alimentar tem razões profundas, políticas e multidimensionais. Não podemos tratar essa temática numa visão superficial, uma vez que ela é uma escolha política,” afirmou a coordenadora. 

Benefícios sociais não são capazes de frear a fome

A insegurança alimentar moderada (quantidade insuficiente de alimentos) e grave (privação no consumo de alimentos e fome) cresceu mesmo nos domicílios que recebiam auxílio financeiro dos programas Bolsa Família e Auxílio Brasil. Na faixa de renda de menos de meio salário mínimo por pessoa, a fome é uma realidade para 32,7% das famílias que relataram o recebimento dos benefícios e para 29,4% das que não o receberam.

“Os auxílios financeiros, concedidos pelo Governo Federal, que são programas de transferências de rendas, por si só, não foram capazes de impedir que as famílias avançassem rumo à insegurança alimentar. 

Aumento da inflação

De acordo com a coordenadora, outro fator preponderante para o aumento de pessoas em situação de fome foi a alta da inflação. “O aumento do preço dos alimentos saudáveis como frutas, verduras, carnes, laticínios, entre outros, foi determinante para a elevação dos índices de alimentação sem qualidade,” afirmou. 

“É urgente se pensar em uma reestruturação de todas as políticas alimentares que convirjam para um acesso mais adequado à alimentação de qualidade para todos,” ressaltou Melissa.

Retrato da fome 

Sob uma pequena barraca improvisada com uma fonte de luz, debaixo de um dos viadutos do complexo da Lagoinha, em Belo Horizonte, Bruno, 33 anos, confere a validade de alimentos que retira de uma caixa de papelão. "2016, esse não encaro não", diz após ler o prazo de validade de um pacote. Natural de Rio Casca, na Zona da Mata, ele vive nas ruas da capital mineira há aproximadamente um ano. 

Segundo Bruno, ele veio para BH após ter sido muito julgado pela população de sua cidade, que o considerava responsável pela morte de toda sua família, que se envolveu em um acidente de carro quando ia visitá-lo na cadeia de Ponte Nova. No presídio, ele cumpria pena por homicídio após assassinar um homem que havia estuprado sua irmã.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!