O cinema está cheio de histórias sobre casais que se uniram apesar das diferenças culturais. No filme "O Casamento Grego" (2002), por exemplo, é um norte-americano que se casa com uma mulher grega. Mas você já parou para pensar como seria namorar - ou se casar - com alguém de uma cultura totalmente diferente?

"No começo, não nos suportávamos. Ele me achava chata e eu o achava folgado", brinca a empresária Ana Carolina Diniz, 33, que se casou há quase quatro anos com o cabeleireiro Marco Alexandre Hassui, 38, descendente de japoneses que segue a tradição da família.

Ana Carolina comenta que, hoje, graças ao marido, tornou-se mais tranquila. "Para eles (japoneses), tudo é sempre calculado antes de ser executado, e eu sempre fui muito agitada", justifica a dificuldade inicial.

Hassui, por sua vez, também precisou se adaptar aos costumes da família da mulher. "Na família da Carol, se tiverem cinco pessoas, parecem 50. Todo mundo ‘gritando’, uma farra. Mas a gente se acostuma", conta, explicando que os encontros familiares dos japoneses são mais calmos.

O humor que o casal demonstra exemplifica muito o sucesso do relacionamento. Pensando em ter filhos, Ana Carolina conta que sua mãe brinca que a criança vai dizer "bênção, ‘honolável’ vovó". Deixando as brincadeiras de lado, Hassui, assim como a esposa, acredita que a educação dos filhos deverá ser baseada "no melhor de cada cultura".

Para ele, independentemente da origem, um casal precisa de amor, paciência e adaptação. "O que nos unem são o amor e o respeito um pelo outro e pelo nosso relacionamento. Nós nos divertimos muito juntos e isso é fundamental", completa ela.

Assunto. "Sempre temos muito para conversar sobre como são as coisas aqui e na Alemanha. O jeito dele me faz ver alguns problemas da nossa cultura como, por exemplo, nossa necessidade de sempre ser agradável", diz a advogada Pilar Coutinho, 24, que namora há oito meses com o engenheiro Timo Ebeling, alemão.

O idioma, por sua vez, pode trazer "pegadinhas" para a vida do casal. Timo mora no Brasil há um ano, e viveu situações inusitadas. "Combinamos de ele me ‘pegar’ na rodoviária. Eis que estou lá, com mala e cuia, e ele chega a pé", conta Pilar, que esperava que o namorado tivesse entendido que era para buscá-la de carro.

Também para a advogada, o fundamental na relação é o senso de humor. "Se não souber rir de todos os problemas que decorrem de qualquer diferença entre as pessoas, simplesmente o namoro perde o tempero", diz.

"De fora". Embora o brasileiro seja crítico com os costumes "de fora", ele tem fascinação pela cultura diferente, defende o doutor em psicologia clínica Orestes Diniz Neto, professor de psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Para Diniz Neto, a relação com as diferenças é o que convida as pessoas a pensar diferente. Em um relacionamento bem-sucedido, um deve entender sobre os costumes do outro. "Essas pessoas terão que criar um campo de interpretação mútua que permita dialogar com as duas culturas, sem se perderem em nenhuma delas", orienta.