A data de 19 de maio entrará negativamente para a história do Brasil. Exatos 63 dias desde o primeiro registro de óbito pelo novo coronavírus (Covid-19), em 17 de março, o país ultrapassa o número de 1.000 mortes diárias pelo patógeno, feito, em ordem, outrora só obtido por Estados Unidos, França e Reino Unido.
De acordo com o balanço divulgado pelo Ministério da Saúde nesta terça-feira, o Brasil registrou 1.179 óbitos somente nas últimas 24 horas, elevando o número de vítimas para 17.971. No total, 271.628 casos do novo coronavírus foram confirmados no país desde o início da pandemia.
O país chega ao triste recorde negativo em meio às tentativas do governo de flexibilizar o isolamento social, o que acirra ainda mais os debates. Em número absoluto de mortes, o Brasil segue atrás de Estados Unidos, Reino Unido, Itália, Espanha e França, conforme levantamento da universidade norte-americana Johns Hopkins. Confira ranking abaixo.
Nem mesmo a China, de onde o vírus foi disseminado, teve tais números. Segundo os mesmos dados, no total, 4.634 chineses perderam a luta contra a Covid-19, e o número máximo que o país asiático chegou a registrar em um único dia foi de 254 óbitos, em 13 de fevereiro deste ano.
Vale lembrar que a China chegou a registrar 1.240 mortes em 17 de abril deste ano, porém o número se referia aos casos que não haviam sido relatados ao mundo. À época, a curva estava havia mais de 20 dias estabilizada em menos de dez mortes diárias.
A evolução preocupante dos óbitos
Ainda que tenha tido origem na China e grande impacto na Itália e Espanha, por onde o patógeno se disseminou pela Europa em março e chegou a causar quase mil mortes diárias, o vírus teve sua maior curva de letalidade a partir de abril em países que não endureceram antes suas medidas de isolamento, ainda que com exemplos recentes. Não à toa, em 2 de abril, 33 dias após registrar seu primeiro caso, os Estados Unidos apontaram pela primeira vez mais de 1.000 óbitos.
De lá para cá, segundo os dados da Johns Hopkins, somente em três dias o país não teve mais de 1.000 mortes registradas diariamente, chegando ao pico de 4.928 falecimentos em decorrência da Covid-19 em 16 de abril. Curiosamente, nos últimos dias a curva vem sendo achatada, caindo para menos de 1.000 óbitos na última segunda e nesta terça-feira.
Segundo país a apontar mais de 1.000 mortes diárias, a França chegou a esse número em 8 de abril, 50 dias após o primeiro óbito registrado, com 2.004 vidas perdidas para a Covid-19, recorde absoluto. Em outras quatro oportunidades, a taxa de letalidade diária passou de 1.000 no país gaulês. Nesta terça-feira (19), após adoção de medidas rígidas, que culminaram até no fim do Campeonato Francês de futebol, o país viu 131 vidas serem perdidas para o patógeno.
Outro país que subestimou o vírus, o Reino Unido demorou, assim como sua ex-colônia nas Américas, 33 dias para passar de 1.000 mortes diárias, fato registrado em 8 de abril. De lá para cá, essa taxa de letalidade foi observada em outras 11 oportunidades, chegando ao pico em 11 de abril, quando registrou 1.152 mortes. Após medidas severas de controle do isolamento social, o país teve 160 óbitos relatados nesta terça-feira (19).
Ao observar o quadro atual do vírus no país e as medidas adotadas sendo similares a de outros países, Danilo Bretas de Oliveira, virologista da Faculdade de Medicina da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, mostra-se pessimista sobre a reincidência desses dados negativos. Segundo ele, o Brasil optou para enfrentar a crise, o que deverá deixar os tristes números em curva ascendente por bastante tempo.
“Temos um serviço de saúde pública que é referência no mundo. Porém, ele precisa estar articulado para o enfrentamento da Covid, o que não vemos. Por isso, ao ver a curva de crescimento e as políticas adotadas, acho que devemos ser o país que será o epicentro do mundo. Devemos ter um número maior que mil mortes diárias por um longo período de tempo”, apontou Bretas de Oliveira.