São Paulo

Escolas adotam medidas para prevenir suicídios

Dois casos ocorridos em dez dias geram mobilização para evitar ato extremo


Publicado em 25 de abril de 2018 | 03:00
 
 
 
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São Paulo. Dois alunos do ensino médio do Colégio Bandeirantes, um dos mais tradicionais e conceituados de São Paulo, suicidaram-se em casa em um intervalo de pouco mais dez dias. A notícia tomou as redes sociais e assustou pais e estudantes de escolas particulares.

Uma nota do Bandeirantes no domingo à noite, informando as famílias sobre a segunda morte, foi compartilhada publicamente, e surgiram informações não confirmadas de outros casos em várias escolas da capital.

O Colégio Agostiniano São José, uma instituição católica na zona leste, informou ao jornal “O Estado de S. Paulo” que houve um caso de suicídio na semana passada. Um aluno do Vértice, na zona Sul, também se matou no ano passado. A escola, assim como o Bandeirantes, aparece sempre no topo de rankings de notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e tem altos índices de aprovação nas melhores universidades do Brasil e do exterior.

O Bandeirantes estava em período de provas, quando não há aulas, apenas avaliações para todos os anos. Após o primeiro caso, no dia 10, o colégio procurou uma especialista e programou atividades para tratar do tema com alunos, o que começariam nesta terça-feira (24), quando voltassem as aulas normais.

Mas, no domingo, 22, outro aluno se matou. A escola está em luto. “Eram bons alunos com pais presentes”, diz o diretor, Mauro Aguiar. Coordenadores, professores e alunos de todos os anos choram ao falar do que aconteceu. Na segunda-feira, crianças de todas as idades se sentaram para rodas de conversa mediadas por professores.

“Nós temos expectativas de alto desempenho dos nossos alunos, mas também desenvolvemos muito o lado humano”, completa a coordenadora Estela Zanini. Turma após turma, as professoras perguntavam às crianças e adolescentes se sabiam o que tinha ocorrido, dando espaço para falarem do que sentiam.

Crianças do 7º ano lembravam com indignação de comentários que surgiram nas redes sociais. “As pessoas falam que temos vida fácil financeiramente e parece que não temos permissão para sofrer”, disse o menino no fundo da sala. “Estão dizendo que eles são covardes, fico muito triste com isso”, completou a colega ao lado.

A professora Beatriz Kohlbach, 35, que mediou a conversa, diz que os alunos “precisam saber que são ouvidos”. No fim da atividade, adultos e crianças se abraçaram e choraram juntos.

“Eu não me preparei para isso, nunca imaginei que passaria por uma situação assim”, afirmou a professora de Biologia Carolina Oreb, 37, que dava aulas para um dos alunos que se mataram. Para a psicóloga Karina Okajima Fukumitsu, especialista em processo de luto por suicídio, as conversas são importantes, tanto para acolhimento quanto para identificar outros adolescentes vulneráveis. “O suicídio é um ato de comunicação. A pessoa comunica em morte o que ela não consegue comunicar em vida”.

 

Dificuldade de lidar com as frustrações é um grande sinal

São Paulo. A psicóloga Karina Okajima Fukumitsu explica que a adolescência é uma época complicada, é quando o jovem “busca pertencimento a partir de padrões que ele estabelece e, muitas vezes, não aceita que não consegue”.

Para ela, os pais precisam estar muito atentos a uma eventual dificuldade de crianças e adolescentes de lidar com as frustrações. Karina lembra que o suicídio é sempre multifatorial e envolve três características: ambivalência, impulsividade e rigidez de pensamento. “A pessoa que se mata não tem tolerância”. Os dados mais recentes do Ministério da Saúde mostram que, na faixa etária de 15 a 19 anos, foram 722 mortes em 2015, um recorde nos últimos dez anos.

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