O arrefecimento da pandemia de Covid-19 pode mudar a percepção das pessoas em relação à gravidade do coronavírus. Passado o auge de mortes e contaminação, parte da população deixou de procurar por doses de reforços. Segundo dados do Ministério da Saúde, divulgados na última semana, o Brasil ainda tem cerca de 100 milhões de pessoas que não buscaram um ou mais reforços contra a Covid.
O boletim da Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS) ainda revelou que 69 milhões de brasileiros ainda estão com a terceira dose (ou primeiro reforço) da vacina em atraso e outros 30 milhões que já poderiam receber a quarta dose (ou segundo reforço) não o fizeram.
Grande parte da população do país ainda desconfia da eficácia das vacinas contra a Covid-19, acreditando que elas não deveriam ser obrigatórias ou ainda, que não foram tão fundamentais para o combate à pandemia. A desconfiança com as vacinas, no entanto, não tem respaldo científico. Inúmeras pesquisas já demonstraram a segurança e potência dos imunizantes. Um levantamento publicado na revista Lancet Infectious Diseases, por exemplo, estimou que, entre dezembro de 2020 e dezembro de 2021, os imunizantes evitaram a morte de quase 20 milhões de pessoas.
A falta de confiança na precisão da vacina também foi medida em uma pesquisa desenvolvida pelo Sou_Ciência, centro de estudo sediado na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em parceria com o Instituto de Pesquisa Ideia Big Data. Para 30% dos entrevistados, os imunizantes ainda não reúnem comprovação científica, o que facilita o cenário para a disseminação das ‘fakes news’.
Para Soraya Smaili, coordenadora do SoU_Ciência, os dados coletados são preocupantes. “A pesquisa mostra que apenas 52% dos entrevistados confiam na eficácia das vacinas. Esse índice deveria ser maior e revela uma hesitação por parte dos brasileiros em buscar a proteção vacinal. Como solução a esse cenário, é preciso melhorar a comunicação, com mais campanhas sobre o que já se sabe: vacinas comprovadamente salvam. A população precisa entender que a pandemia só arrefeceu em razão da adesão à vacina e que a redução da proteção pode impactar diretamente nessa queda”, destaca.
O levantamento, ao ouvir 1.200 brasileiros maiores de 16 anos de todas as regiões do Brasil, ainda revelou que apenas 45,9% dos participantes acreditam que os imunizantes contra o coronavírus devam ser obrigatórios, enquanto uma parcela semelhante (46,8%) defende o contrário.
Em algumas cidades brasileiras, a aplicação das doses de reforço contra a Covid-19 está estagnada. Em Belo Horizonte, por exemplo, até o mês passado, a quarta dose da proteção contra a doença só estava disponível para maiores de 40 anos. A prefeitura de BH (PBH) chegou a informar que “não havia doses suficientes para vacinar o público de 18 a 39 anos", e que “aguardava orientação do Ministério da Saúde e da Secretaria de Estado de Saúde de Minas quanto à administração da segunda dose de reforço para esta faixa etária".
Muitos pais também optam por não imunizar os filhos que possuem idade recomendada para a vacinação. No Brasil, a não vacinação de menores de idade pode, por exemplo, resultar em sanção para os responsáveis e até perda da guarda.
Pela lei, as escolas são obrigadas a exigir a caderneta de vacinação das crianças e adolescentes no ato da matrícula. Elas, no entanto, não podem se recusar a receber alunos que não tenham sido vacinados, devendo neste caso, acionar o Conselho Tutelar ou outros órgãos de controle.
No último dia 4, a PBH informou em nota que aguardava novas doses de Coronavac e Pfizer Pediátrica, que são aplicadas contra a Covid-19 em crianças de 3 a 11 anos. O órgão, porém, ressaltou que os imunizantes da segunda dose para crianças de 6 meses a 2 anos, com comorbidades, e dos pequenos de 2 anos e 10 meses a 2 anos, 11 meses e 29 dias, sem comorbidades, estavam disponíveis. Nesses casos a imunização é realizada com a vacina Pfizer Baby. Para o público de 12 anos ou mais, a vacinação também continua na capital mineira, com a aplicação do imunizante Pfizer.