imprudência

Mais de 3 mil motoristas morreram em acidentes em rodovias federais em 2022

Número, registrado até julho deste ano, é 2% maior que os 2.997 óbitos no mesmo período de 2021

Por Agência
Publicado em 22 de setembro de 2022 | 11:56
 
 
 
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Acidentes de trânsito em rodovias federais provocaram a morte de 3.065 motoristas nos sete primeiros meses deste ano. O número é 2% maior que os 2.997 óbitos no mesmo período de 2021. Os dados fazem parte de um estudo realizado pela Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet) a partir de registros da Polícia Rodoviária Federal e publicado nesta quinta-feira (22).

Das dez principais causas de mortes, seis estão diretamente relacionadas à imprudência. A principal delas é transitar na contramão, com 419 casos. Mas também constam velocidade incompatível, ultrapassagem indevida, acessar a via sem observar os veículos que passam e consumo de álcool. Segundo a análise, fatores humanos e relacionados à saúde provocaram 2.703 mortes e 33.573 feridos nas estradas federais entre janeiro e julho deste ano.

A associação médica diz que em 2019 e nos anos anteriores à pandemia de Covid-19, a PRF não trazia classificação compatível para comparação com os dados usados no estudo. Para Antonio Meira Júnior, presidente da Abramet, a pesquisa aponta que o fator humano é responsável por 83% dos casos. "Se o condutor não desrespeitasse as leis de trânsito e se tivesse um bom acompanhamento de sua saúde, muitos acidentes teriam sido evitados", afirma.

"O comportamento humano é o grande responsável por sinistros, até mesmo porque como a manutenção é responsabilidade do condutor, as falhas no veículo devem ser vinculadas também a ele" afirma o diretor científico da Abramet, Flavio Adura. Os sinistros de trânsito, explica a associação, são eventos não intencionais, evitáveis, causadores de lesões físicas e emocionais.

Meira Júnior defende mais campanhas de conscientização, fiscalização e rigidez na punição. Para o médico, a legislação de trânsito brasileira "é linda", mas precisa ser mais efetiva na hora de punir infratores. O presidente da associação médica defende que cada vez mais as vias de trânsito devem ser construídas de olho no erro das pessoas, com ruas e estradas que tenham menos curvas sinuosas e dispositivos de segurança e sinalização.

O engenheiro Sérgio Ejzenberg, mestre em transportes pela Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo), concorda. "Boa parte dos acidentes são decorrentes de falhas do sistema viário. A via deve perdoar o erro", afirma. "Uma pessoa que dorme ao volante não deve bater em uma árvore, mas em uma barreira, onde esbarra com o carro, desperta e volta para rodovia."

Em nota, o Ministério da Infraestrutura diz que desde 2019 cerca de 5.000 km de rodovias federais foram renovadas em todo país, com obras de duplicação, pavimentação e restauração.

Saúde em dia 

Para Meira Júnior, assim como o carro precisa ser revisado antes de uma viagem, o motorista necessita passar por avaliações médicas frequentes. Entre outros, cita deficiências visuais, distúrbios de sono e comprometimento motor ou de raciocínio como problemas de saúde que podem interferir na condução de um veículo.

O mal súbito, com perda de consciência provocada por problemas cardiológicos, como infarto e arritmias, e neurológicas, como AVC ou convulsões, também entra na pesquisa, com um total de 390 mortos e feridos.

Com quase 600 vítimas no período analisado no estudo, ausência de reação, tardia ou insuficiente lidera o ranking de mortes. E isso, segundo especialistas, pode estar relacionado tanto a problemas de saúde quanto da falta de atenção provocada pela imprudência de se manusear um celular ao volante, por exemplo -o uso comprovado do aparelho por motoristas provocou acidentes que mataram cinco pessoas e feriram outras 73 nas rodovias federais entre janeiro e julho, segundo o PRF.

André Sugawara, médico fisiatra da Rede de Reabilitação Lucy Montoro, na zona sul de São Paulo, é favorável que aplicativos de celular, como os de entrega ou mesmo GPSs, travem a partir de uma determinada velocidade, o que impediria seu manuseio com carro ou moto em movimento.

Em um retrato da violência do trânsito, 11% dos pacientes atendidos pela rede de reabilitação entre janeiro e agosto sofreram amputações e 61% se tornaram paraplégicos ou tetraplégicos. "O trânsito não é uma prerrogativa individual, é coletiva. As pessoas precisam entender que não dá para dirigir usando aplicativo de celular ou sob efeito de qualquer coisa que diminua a atenção, como drogas, álcool ou medicamentos", afirma o médico, defensor de políticas educacionais para redução das estatísticas.

A ingestão de bebida alcoólica também é relacionada à saúde do motorista no estudo da Abramet. A combinação de álcool e direção provocou 111 mortes e 2.233 feridos nos sete primeiros meses do ano em estradas federais.

O estudante Bruno Henrique Serra Menin, 24, diz recusar entrar em um veículo se suspeitar que o motorista bebeu, mesmo que seja um amigo próximo ou parente, não importante a quantidade. Ele sabe como poucos o que isso pode provocar. Em agosto de 2018, Menin voltava com mais quatro pessoas de uma festa de faculdade quando o motorista, em alta velocidade, tentou fazer uma ultrapassagem e para não bater em um poste, fez uma manobra brusca, perdendo o controle do carro, que bateu com o teto em um poste na região de Anália Franco, na zona leste de São Paulo. O jovem, na época com 20 anos, ficou 24 dias internado, dos quais 15 em coma, e teve de amputar o braço direito.

O Ministério de Infraestrutura afirma que a Senatran (Secretaria Nacional de Trânsito) realiza campanhas voltadas à conscientização dos condutores, pedestres e usuários das vias, relativas à educação e segurança de trânsito. 

Entre elas, diz, estão o curso digital "Visão Zero", ministrado pela Business Sweden Brasil (Conselho de Comércio e Investimento da Suécia); verificação do vínculo causal de possíveis recall de veículos; o aprimoramento de normas, bem como programas destinados à prevenção de acidentes e a redução de mortalidade no trânsito, além de divulgação de conteúdos de caráter educativo, informativo, de mobilização ou de orientação social com veiculação em âmbito nacional. (FÁBIO PESCARINI/Folhapress)

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