Física

Nunca foi tão fácil enriquecer urânio para bombas atômicas

Quanto mais se trata o minério, menos complexo se torna o processo

Por WILLIAM J. BROAD
Publicado em 09 de março de 2010 | 20:04
 
 
 
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NOVA YORK, EUA. No deserto iraniano, em uma vasta área industrial cercada por arame farpado  armas antiaéreas, uma mudança no enriquecimento de urânio está gerando preocupações globais. Essa medida pode encurtar o caminho do Irã até a obtenção de armas nucleares.

Isso também ilustra uma das peculiaridades do enriquecimento de urânio, no qual os ricos ficam ainda mais ricos, cada vez mais rapidamente. E o processo complicado de enriquecimento de urânio acelera ao mesmo tempo em que avança.

"Quanto maior a concentração, mais fácil fica", disse Houston G. Wood III, especialista em enriquecimento nuclear e professor de engenharia mecânica e espacial da Universidade da Virginia. O processo é não linear, como gostam de dizer os cientistas.

Quatro anos atrás, o Irã começou a enriquecer urânio em escala industrial com centrífugas, máquinas que giram extraordinariamente rápido para separar urânio 235 da forma mais comum do elemento, urânio 238. Raramente encontrado na natureza, o urânio 235 se divide facilmente em dois, desintegrando-se em energia atômica, seja em um reator ou em uma bomba. O combustível de reator nuclear geralmente é o urânio 235 enriquecido a 4% ou 5%, enquanto para se fazer uma bomba nuclear utiliza-se esse material enriquecido a pelo menos 90%.

Irã. O complexo iraniano no deserto, a instalação nuclear de Natanz, elevou o nível de urânio 235 de sua concentração natural de 0,7% para aproximadamente 4%. Com o tempo, Natanz produziu duas toneladas de material concentrado. Essa quantidade, se for mais enriquecida, é o suficiente para fazer quase duas bombas atômicas. No começo de fevereiro, o Irã anunciou que começaria a enriquecer seu urânio estocado a 20% - supostamente para fazer combustível para um reator de pesquisa em Teerã. Especialistas nucleares dizem que, embora esse aumento na percentagem pareça um grande salto, passar de 4% para 20% foi um passo bastante fácil - esse avanço não é tão difícil e demorado quanto subir de 0,7% para 4%. E a facilidade de se enriquecer urânio uma vez que ele já estava enriquecido fez o mundo se preocupar.

A questão é que, à medida em que o urânio vai sendo enriquecido, é preciso cada vez menos centrífugas para produzir urânio 235 cada vez mais potente. Por exemplo, uma usina pode precisar de 3.936 centrífugas para enriquecer a 4%, e apenas 128 centrífugas para enriquecer urânio a 90%.

O motivo é que "você está movendo muito mais material em níveis menores de enriquecimento", disse David Albright, presidente do Instituto para a Ciência e a Segurança Internacional. "É a redução do material que torna o processo gradualmente mais fácil", explica o cientista, citando que a cada passo do trabalho das centrífugas, mais partes do urânio pesado são removidas, e o material restante, agora com uma concentração maior do isótopo mais leve, entra novamente no processo.

Usinas nucleares
Produção. Há 20 usinas de enriquecimento de urânio em operação no mundo. Só Israel, EUA, Índia, China, Paquistão, Reino Unido, França e Rússia. têm capacidade para fazer uma bomba.

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