POLÊMICA

Portador de esclerose múltipla torce por lei

Redação O Tempo

Por JOSÉ VÍTOR CAMILO
Publicado em 28 de maio de 2014 | 03:00
 
 
 
normal

Há cerca de 15 anos Gilberto Castro, de 40 anos, morador de São Paulo, foi diagnosticado com esclerose múltipla, uma doença degenerativa do sistema nervoso que causa diversos sintomas neurológicos, como a perda de sensibilidade, espasmos musculares doloridos e dificuldades locomotoras, entre vários outros. “O médico disse que em cerca de 10 anos eu não conseguiria andar. Os corticoides que tomava não faziam o efeito necessário. Só a maconha medicinal aliviou minha dor e ajudou na evolução da doença, já que após este tempo eu tenho dificuldades, mas continuo andando, trabalhando e cuidando da minha filha de 15 anos”, conta Gilberto.

O usuário de maconha medicinal chegou até o tratamento alternativo após pesquisas e, também, por ter sido recomendado por um médico particular. “As três vezes que fiquei sem acesso à Cannabis foram as únicas em que a doença evoluiu. As pessoas precisam entender que a maconha é o melhor remédio para a nossa doença”, defende Castro. No caso dele, a doença causava uma quantidade absurda de dores, dormência pelo corpo e, consequentemente, a falta de sono. “Parece mágica, a maconha some com as minhas dores e traz o sono”, brinca.

Porém, para ter acesso ao medicamento, Castro precisa contar com a ajuda dos amigos. “Não dá para subir o morro, pois sou deficiente. Mas pretendo começar a plantar urgentemente, quero plantar a mesma espécie que Israel ministra para os pacientes com esclerose. Este projeto de lei anima a gente. Esperança de ser aprovado eu não tenho, mas tenho fé”, finaliza o usuário medicinal.

O neurocientista da Universidade Federal de Brasília (UnB), Renato Malcher, explica que o nosso corpo produz uma substância semelhante aos canabinóides presentes na maconha e, por isso, nós   possuímos uma espécie de vetor. Este vetor seria usado para regular praticamente todas as funções do nosso cérebro. “É como se houvesse um estado de guerra e outro de paz. Guerra é o stress físico, um momento de doença, e quando estamos passando por um momento difícil os índices de canabinóides produzidos no nosso corpo são baixos e os pró-inflamatórios são altos”, explica.

Quando a pessoa fuma maconha, ela injeta os canabinóides que alteram para o estado de “paz”. “Os estudo vem mostrando que ela diminui a dor, causa a morte de células cancerosas, estimula o apetite e o armazenamento de energia metabólica. Além disso estimula a busca por experiências lúdicas, prazerosas e de interação humana, o que é bom para quem está doente. Também estimula sexualmente, a criatividade”, explica o neurocientista.

Conforme ele, do ponto de vista fisiológico a cannabis reduz a sensação de náusea, inibe o vômito, e impede o excesso de ativação neuronal. “Por isso ela inibe convulsões e existe agora um indício de que alguns sintomas de autistas, que tem ataques parecidos com a epilepsia, também podem ser controlados. Também inibe o descontrole do Parkinson, da esclerose múltipla, sem falar que a maconha protege os neurônios, pois evita o excesso de ativação e tem componentes antioxidantes, além de anti-inflamatórios que inibem a progressão de doenças neuro degenerativas, como o Alzheimer”, garante o especialista. 

Por conta destas várias funções positivas, que a Cannabis Medicinal é tão indicada, por exemplo, para pessoas que tratam o câncer. Quando se faz a quimioterapia, a qualidade de vida da pessoa cai e isso faz que ela perca peso e esperança, o que prejudica a recuperação. “Com um baixíssimo grau de efeitos ruins, a maconha reduz os principais sintomas indesejados da medicação, aumenta o apetite, e ainda ajuda a pessoa resolver os problemas emocionais. Ela pode esquecer de pagar uma conta, pro exemplo, mas é algo momentâneo”, diz Malcher.

“Ilegal”

Após a grande repercussão do documentário curta-metragem “Ilegal”, dirigido por Raphael Erichsen e Tarso Araújo, que conta a história de uma mãe que descobriu no Canabidiol (CBD) o alívio para as convulsões de sua filha Anny, de 5 anos, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) anunciou que aprovou a reclassificação do CBD no Brasil.

A substância sai da lista F1, de  drogas proscritas, para a lista C1, que podem ser prescritas por médicos com receita normal. Assista o documentário:

 

(Com Lucas Buzatti)

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!