Nesta quinta-feira (24), um dos assuntos mais comentados entre os usuários do X/Twitter foi uma postagem em que uma jovem afirma ter aprovado o uso de um suplemento alimentar para melhorar a concentração e a produtividade nos estudos. Um tema que divide opiniões e atraiu a atenção da cientista Gabriela Bailas. 

“Não precisa de receita. Não tem cafeína. Não tem substância que causa (sic) dependência”, afirmou a dona do perfil 
@daniellemayaa. O tuíte teve quase 3 milhões de visualizações e mais de mil repostagens. 

Mais de 2.000 pessoas comentaram sobre o assunto, dividindo-se sobre o assunto. Houve quem concordasse com os efeitos positivos do suplemento (ou 'vitamina", como é popularmente conhecido), como também quem criticasse a divulgação de algo sem eficácia comprovada. 

O produto, fabricado por uma emrpesa fundada em fevereiro de 2022 em Campinas e à venda em uma das maiores redes de drogarias do país, não deixa claro na embalagem quais são as substâncias presentes em sua fórmula. Mas, na internet, é possível verificar que o suplemento conteria Glutâmico, L-Fenilalanina e Bitartarato de Colina, prometendo melhora na concentração. 

Mas há comprovação científica para o resultado prometido? A cientista e influencer Gabriela Bailas usou as redes sociais para rebater a informação de que esse suplemento faria bem para o cérebro. Ela repostou um vídeo seu em que explica como a eficácia dos suplementos não é atestada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ou qualquer outro órgão renomado. 

“A Anvisa não tem o papel de verificar a eficácia do produto. Ela regulamenta, vendo se aquele produto está dentro das regulamentações, das leis, das normas. Mas a Anvisa não atesta a cientificidade do produto. Isso quem faz é a comunidade científica através de estudos e experimentos. Os suplementos não passam por esses processos”, diz Gabriela Bailas, lembrando que os suplementos são vendidos na categoria alimentar, não são considerados remédios. 

Veja o vídeo da cientista:

Em 2022, um estudo internacional foi publicado na revista Jama Network indicando que não há evidências de que os suplementos podem ajudar na prevenção de doenças. A equipe, composta por 16 especialistas, revisou 84 estudos sobre o uso desses produtos. Um dos pontos observados foi que os suplementos de vitamina E não tiveram efeito benéfico na prevenção de morte prematura, doenças cardiovasculares ou câncer, e que o betacaroteno (um pigmento convertido em vitamina A no corpo) pode aumentar o risco de câncer de pulmão. 

A reportagem de O TEMPO entrou em contato com a empresa fabricante do Neuro Booster para saber se há estudo científico comprovando a eficácia do produto e aguarda retorno.

Anvisa e os suplementos

A Anvisa tem sido bastante cautelosa em relação à venda de suplementos alimentares. Nesta quinta-feira (24), ela proibiu a fabricação e comercialização de um produto com melatonina voltado para crianças e adolescentes. De acordo com a agência, não há segurança de uso comprovada para essas faixas etárias.

No início deste mês, a Anvisa proibiu também a comercialização de suplementos alimentares com indicação para tratamento de problemas de visão, tais como catarata, glaucoma, degeneração macular, entre outros. 

“Para alimentos em geral, incluindo suplementos alimentares, não é permitida a realização de propagandas que aleguem tratamento, prevenção ou cura de qualquer tipo de doença ou problema de saúde, inclusive relacionados à visão”, explicou a agência. 

Ainda de acordo com a Anvisa, produtos que tenham indicação terapêutica precisam ser regularizados na agência como medicamentos. Para os suplementos alimentares, tidos como “alimentos fontes de nutrientes e outras substâncias bioativas”, não é possível comprovar eficácia para fins terapêuticos. 

Todos os suplementos alimentares devem ter no rótulo a identificação “Suplemento alimentar”, próximo à marca do produto. 

Fique atento! Suplementos alimentares não podem ser indicados para prevenção, tratamento ou cura de doenças. 

Empresas que comercializam produtos na internet são obrigadas a apresentar informações claras e completas ao consumidor, incluindo os dados do fornecedor (razão social, CNPJ, endereço físico e eletrônico e de contato) e informações essenciais do produto (nome, marca, fabricante, composição, restrições de uso etc.).  

De acordo com a Anvisa, não é recomendado comprar e utilizar suplementos alimentares que prometam agir nas situações listadas a seguir: 

  • Emagrecimento.
  • Aumento da musculatura.
  • Diminuição de rugas, celulite, estrias, flacidez etc.
  • Melhora das funções sexuais.
  • Aumento da fertilidade, melhora ou alívio de sintomas relacionados à “tensão pré-menstrual”, menopausa etc.
  • Aumento da atenção e foco.
  • Doenças degenerativas, como mal de Alzheimer, demência, doença de Parkinson etc.
  • Câncer.
  • Problemas de aumento da próstata e disfunção urinária.
  • Problemas de visão.
  • Doenças do coração, pressão alta, colesterol e triglicerídeos sanguíneos.
  • Melhora da glicose sanguínea, diabetes e níveis de insulina.
  • Problemas gastrointestinais, como gastrite, má digestão etc.
  • Gripe, resfriado, Covid-19, pneumonia etc.
  • Labirintite, zumbido no ouvido (tinitus).
  • Distúrbios do sono, insônia etc.