Após o Ministério da Saúde recomendar o uso de testes rápidos para diagnosticar casos de dengue, especialistas reconhecem a importância desse método como aliado nesse cenário desafiador, mas ressaltam que é preciso cautela na utilização. É que a aplicação desses testes em larga escala, sem seguir as diretrizes técnicas indicadas, podem levar a diagnósticos equivocados.
O teste rápido é recomendado para ser feito entre o primeiro e o quinto dia de sintomas. Ele utiliza o método imunocromatografia e requer uma pequena amostra de sangue, que é colocada em um recipiente. Neste processo, ocorre uma reação que detecta a presença ou ausência do antígeno do vírus da dengue, conhecido como antígeno NS1. Os resultados podem ser obtidos em até 30 minutos.
A médica especialista em Patologia Clínica e Medicina Laboratorial, Paula Távora, destaca que a aplicação desses testes deve ser restrita a locais autorizados. “O ideal é que sejam feitos em estabelecimentos de saúde, onde há profissionais capacitados e treinados para realizá-los.”
Paula também explica que o teste não deve ser feito em quem não está sintomático. "O teste rápido não possui 100% de sensibilidade, apesar de ser 100% específico para a dengue. Quando o resultado é positivo e está associado a sintomas clínicos, é realizado o diagnóstico adequado, confirmando a presença do antígeno viral", salienta.
De acordo com a médica, quando o teste apresenta resultado negativo, mas o paciente segue com sintomas semelhantes aos da dengue, não se pode garantir que o indivíduo não tenha a doença. "Por isso existe a preocupação dos testes rápidos serem realizados em larga escala e sem um controle clínico-laboratorial adequado, porque há a possibilidade de existirem situações falsas negativas. Os testes são uma oportunidade de descentralizar a assistência e auxiliar a população, porém é preciso ter esses cuidados", reforça.
Outro ponto destacado pela especialista é uma decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que pode autorizar a comercialização de autotestes de dengue no Brasil. “Essa possibilidade nos preocupa devido à dificuldade na aplicação do teste pela população leiga, por requerer uma punção capilar e quantidade de sangue superior, quando comparado a uma glicose capilar, por exemplo, sem contar na interpretação inadequada.”
Ainda segundo Paula, essa solução emergencial pode prejudicar o diagnóstico precoce e o controle da doença. “O momento e a maneira de realizar o teste são fundamentais. A urgência não pode comprometer a precisão,” finaliza.
Esse assunto seria discutido pela Anvisa em uma reunião marcada para a última terça-feira (19), mas foi retirado da pauta. Ao solicitar o adiamento do debate sobre tema, o diretor Daniel Pereira argumentou que é preciso dar sequência aos “alinhamentos” que o tema envolve junto ao Ministério da Saúde.
“Esse processo é um processo quase que conjunto, Anvisa e Ministério da Saúde. A gente precisa de um outro lado, de uma política relacionada a esse tipo de produto, por se tratar de um diagnóstico de uma doença de notificação compulsória. Tendo em vista ainda a fase desses alinhamentos, solicito a retirada de pauta do item.”