Após crime

Unidade do Carrefour onde João Alberto foi morto reabre com marcas de protesto

Grade do supermercado onde o homem negro de 40 foi assassinado tinha pichações, cartazes e flores em homenagem à vítima

Por Estadão Conteúdo
Publicado em 23 de novembro de 2020 | 21:36
 
 
 
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A loja do Carrefour onde João Alberto Freitas, de 40 anos, foi morto por seguranças, reabriu ontem, após três dias fechada. No local, ainda era possível ver rastros da manifestação feita na sexta, em reação ao crime, em que houve invasão e depredação do estabelecimento. Lojistas e frequentadores do supermercado relatam que já flagraram excessos dos vigilantes. Pichações, cartazes e flores em homenagem a Beto, como era conhecida a vítima, eram visíveis nas grades do Carrefour. 

Na parte interna do supermercado, o clima era de tensão; funcionários com semblante preocupado trocavam poucas palavras e o movimento era bastante abaixo do normal. Nas televisões internas, uma propaganda oferecia o cartão da loja e, entre os personagens de destaque, aparece um homem negro.

Ênio Dagoberto de Lima, de 67, é vendedor ambulante e há quase 10 anos monta sua barraca com chapéus e camisetas na parte externa da loja. Segundo ele, o comportamento agressivo dos dois seguranças que espancaram Beto até a morte já era perceptível. “Sempre tinha umas mulheres que vendiam macela (tipo de planta), e comprava quem quisesse. Eu vi vezes em que esses dois seguranças colocaram elas para rua com as crianças e tudo”, diz. 

Na avaliação do vendedor, a culpa pelo que aconteceu é exclusivamente dos seguranças. “O Carrefour não tem culpa, o problema foram os dois que são uns guris sem preparo. Não se trata as pessoas daquele jeito.”

Fernando Souza é dono de uma lavanderia no primeiro andar do prédio, onde o Carrefour aluga espaço para pequenos comerciantes. Ele, por sua vez, acredita que a falta de preparo é uma constante dos funcionários da rede varejista. “O Carrefour colheu o que plantou, pagam mal e treinam mal seu pessoal”, afirma.

Entre os clientes reinava  certo desconforto. A maioria dos que foram abordados pelo Estadão preferiam não falar oficialmente e comentavam o caso de forma lacônica. “Fiquei revoltada, porque não é a primeira vez que acontece algo do tipo no Carrefour”, disse Fátima Aparecida dos Santos, de 58 anos, uma das poucas que aceitou dar entrevista.  Ela chegou a entrar no mercado ontem, mas acabou não comprando nada.  Ao falar sobre o sentimento ao ver a ação dos seguranças, ela disse:  “a gente quer segurança, não quer ser espancado.” 

Carrefour afirma dar assistência aos lojistas

Em nota, o Carrefour informa que está prestando toda assistência aos lojistas da unidade Passo D’Areia. Nos casos das lojas com avarias, a empresa já está em contato com os responsáveis para avaliar as medidas necessárias. "Temos uma equipe de manutenção fazendo uma nova vistoria no local para que todos os lojistas recebam o devido suporte. Desta maneira, a empresa está empenhada em buscar rapidamente uma solução."

Os dois seguranças envolvidos no espancamento estão detidos e foram afastados pelo Carrefour. Sobre a outra funcionária que aparece no vídeo, o Carrefour apenas afirma que ela foi afastada. 

 

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