Por conta da redução de casos e mortes por Covid-19, vários Estados e municípios planejam uma maior flexibilização das medidas de restrição. O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), chegou a anunciar cronograma de ações até novembro, prevendo datas para reabertura de boates e fim da obrigatoriedade da máscara. Mas a variante delta pode atrapalhar os planos de retorno à normalidade.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), nas últimas quatro semanas, houve um aumento de 80% no número de infectados pelo coronavírus no mundo, especialmente por causa da variante, detectada primeiramente na Índia – possivelmente a mais transmissível entre todas as registradas.
A presença dessa variante em 132 países faz com que protocolos e previsões sobre a pandemia sejam revistos. Ontem, a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), braço da Organização Mundial da Saúde nas Américas, chegou a divulgar que será necessário vacinar 90% da população para controlar a disseminação do vírus.
Até mesmo países com boas taxas de vacinação, como Estados Unidos, França e Israel, tiveram que rever suas políticas de flexibilização e abertura para turistas por conta do aumento de casos da doença. A situação é mais crítica na Ásia e Oceania. Diversos países, como China e Austrália, decretaram lockdowns regionais para conter o avanço do vírus. Já o Japão, que neste momento é a sede das Olimpíadas, vive uma crise sanitária, decidindo hospitalizar somente os pacientes mais graves. Ontem, Tóquio bateu mais um recorde diário de casos: 4.166 novos infectados.
O Brasil detectou a delta em poucas amostras (pouco mais de 240), mas isso não quer dizer que a variante não esteja se espalhando pelo país. De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro, a cepa indiana representa 45% das amostras analisadas na capital fluminense. Já a Prefeitura de São Paulo afirmou que delta já foi encontrada em todas as regiões da cidade.
Em Minas, foram quatro detecções: uma em Juiz de Fora, duas em Belo Horizonte e uma em Virginópolis. A variante gama (P1) continua sendo a prevalecente no Estado.
De acordo com o infectologista e professor da Faculdade de Medicina da UFMG Unaí Tupinambás, a variante delta possivelmente fará com que as medidas básicas de prevenção – uso de máscara e distanciamento de dois metros – sejam mantidas até, pelo menos, o fim do ano, até mesmo para pessoas que se vacinaram.
“A variante delta nos coloca nessa angústia sobre o que vai acontecer daqui pra frente. Mas acredito que o impacto sobre a letalidade e sobre os casos graves deve ser menor, muito por conta da população parcialmente vacinada”, afirma Unaí. “Neste mês de agosto, Belo Horizonte deve avançar para 50% da população imunizada com duas doses. Com a vacinação e a população mantendo as medidas não farmacológicas, até o fim do ano teremos uma redução importante no número de casos”.
Segundo o “The Washington Post”, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA verificou que a variante delta é mais transmissível que os vírus da catapora e do ebola.
Vacinas se mostram eficazes
Enquanto a variante delta se espalha pelo mundo, cientistas verificam se as vacinas hoje utilizadas são eficientes em relação a essa cepa. Um desses estudos foi publicado recentemente no “The New England Journal of Medicine” e apresentou dados sobre a eficácia das vacinas da Pfizer e da AstraZeneca, a partir de informações sobre ingleses imunizados até maio. O trabalho indica que, com apenas uma dose, a eficácia dos dois imunizantes é baixa para essa cepa, com uma média de 30,7%. Mas, quando a análise é sobre as pessoas que receberam duas doses, a eficácia sobe para 79,6%.
Essas taxas de eficácia das vacinas são inferiores às observadas em relação à variante alfa, predominante no Reino Unido entre o final de 2020 e início de 2021. Os dados, porém, comprovaram que a imunização ainda é a melhor forma de conter a transmissão de uma variante tão preocupante quanto a delta.
Rio tem aumento de internações de idosos
Independentemente da variante delta, o Brasil não pode deixar de se preocupar com os números ainda altos de casos e mortes. Um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) apontou um aumento na hospitalização de idosos por Covid no Rio de Janeiro, após quatro meses de queda. A preocupação maior é com os idosos com mais de 80 anos, mesmo que essa faixa etária tenha um alto índice de vacinação.
“Nessa faixa etária, somam-se alguns fatores agravantes. Entre eles estão a transmissão comunitária ainda elevada, menor efetividade, maior tempo desde a segunda dose e possível efeito de perda de imunidade (imunossenescência) por conta da idade”, diz a fundação.