Homofobia

Vizinhos panfletam contra casal de gays que vai morar no bairro

Os dois homens foram surpreendidos com folheto indicando local da ‘baixaria’


Publicado em 14 de abril de 2017 | 20:18
 
 
 
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CURITIBA. Um casal que estava prestes a se mudar para uma nova casa em Curitiba (PR), num bairro residencial, foi alvo de um panfleto homofóbico, distribuído à vizinhança, na última quinta-feira.

O material, apócrifo, traz fotos de um casal aleatório de homens e afirma que “a rua será mais ‘alegre’ com uma visão para inspirar e influenciar toda a vizinhança” – e ainda informa o “endereço da baixaria” dos novos vizinhos, casados há sete anos e prestes a adotar uma criança.

“Eu sentei no chão e chorei. Não sentia as minhas pernas. Foi uma dor que nunca senti na vida”, conta o jornalista João Pedro Schonarth, 29, casado com o servidor público Bruno Banzato, 31.

Os dois registraram boletim de ocorrência por crime de injúria – já que homofobia não é tipificada na lei penal.

Os panfletos apócrifos foram jogados na calçada ao longo da rua, de dentro de um carro, relataram os vizinhos. Muitos pegaram o material e jogaram fora, alertando Schonarth e Banzato.

“Se fazem isso em público, imaginem o que fazem quando estão a sós. Gostou das boas notícias?”, diz o panfleto.

Para o casal, o episódio se soma a outros fatos de “sabotagem” da construção do sobrado, que compraram no ano passado. Um boletim de ocorrência já havia sido registrado pelo construtor, depois que a casa amanheceu alagada por causa de uma mangueira colocada no duto de ar condicionado.

Outros incidentes, como registros de água abertos e pequenos vazamentos, também haviam ocorrido.

“Aí começou a cair a ficha. A gente conhecia a homofobia como conceito, só de ouvir falar, mas viver é muito forte”, diz Schonarth. “É uma violência gratuita. Sou tão igual a qualquer pessoa. Não é minha orientação sexual que me faz diferente”.

A Polícia Civil do Paraná informou que está empenhada e trabalhando em cima do caso para identificar os autores do panfleto, segundo o delegado Fábio Amaro.

Para Schonarth, o fato de homofobia não ser criminalizada cria um clima de impunidade. “As pessoas não entendem o impacto disso na nossa vida. Hoje eu passei isso com um panfleto, na semana passada alguém foi espancado. O Brasil precisa discutir isso. O que eu passei não foi injúria. Foi crime de ódio que acontece todo dia. Então, por que não está na lei?”

Manifestação de apoio ocorre neste sábado

O casal diz que os ataques não vão fazer com que eles deixem de se mudar para o novo lar, onde querem morar com um filho, que está em processo de adoção. Neste sábado (15), amigos e conhecidos irão fazer uma mobilização em frente à casa, demonstrando solidariedade.

“O plano é que a gente se mude no feriado de Tiradentes (21 de abril). Eu vou conversar com os vizinhos, apresentar quem somos. Se eu tiver contato com quem fez os panfletos, quero mostrar que sou uma pessoa normal, com os mesmos sonhos que ela. Não é minha orientação que vai me fazer melhor ou pior, é o meu caráter”, diz João Pedro Schonarth.

“Eu fico feliz, porque, no fim, isso nos fortaleceu. É muito bom ver o quanto somos amados e o quanto existem pessoas prontas a nos apoiar. Disseram que nós vamos tornar o bairro mais ‘alegre’? Vamos mesmo, mas no sentido positivo. A gente pode ser feliz mesmo morando ao lado de vizinhos que pensam diferente de você”.

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