O final de uma viagem cheia de simbolismos a Israel foi marcado pela tensão e a incerteza de deixar o país no primeiro dia do ataque surpresa do Hamas ao povo palestino. Lu Alves, jornalista que vive em Brasília, viajava pela primeira vez com um grupo de outros brasileiros para fazer turismo religioso em Jerusalém. Era o último dia do passeio, iniciado em 29 de setembro, quando a notícia dos ataques, feitos horas antes, já dominava o assunto no café da manhã.
“Naquela hora, algumas pessoas já viam os mísseis passando no céu. Eu não vi nada. Estávamos em Jerusalém, mais ao centro do país, e os ataques eram próximos ao litoral. Então resolvemos sair”, lembrou. Lu e parte do grupo, entre elas uma grávida, decidiu visitar o mercado de Damasco, próximo ao hotel. As ruas estavam vazias e grande parte das lojas, fechadas, o que ela acreditava ser apenas pelo dia de feriado judaico. “De repente um alarme começou a soar e as pessoas passaram a correr para se abrigar”, contou. Orientados por judeus ortodoxos a caminho do Muro das Lamentações, o grupo se protegeu e no final do alarme, já tranquilizados, manteve o passeio. “Quando estávamos no mercado e vimos os mísseis passando no céu, foi que a ficha caiu e ficamos mais preocupados”, ressaltou.
O transfer que buscaria o grupo no hotel estava marcado para as 18h (horário local). Ali começaria o maior período de tensão, no percurso de 65 km até o Aeroporto Internacional Ben-Gurion, em Tel Aviv. “Foi o momento mais difícil e nervoso porque não sabíamos como encontraríamos a situação nas ruas”, disse.
Os brasileiros chegaram ao aeroporto sem problemas e quando estavam próximos a fazer o check-in, um novo toque de alerta começou a soar e, na sequência, uma grande correria tomou conta do espaço, com pessoas em busca de proteção. O procedimento que os levaria ao embarque foi imediatamente interrompido e, logo depois, vários voos foram cancelados - inclusive o que traria os brasileiros de volta ao Brasil, com conexão nos Emirados Árabes Unidos. A apreensão aumentava. Entre tantas incertezas e medo, o voo foi remarcado e Lu conseguiu embarcar. No percurso de pouco mais de 3h entre Tel Aviv e Dubai, os passageiros no avião seguiram em silêncio.
“A viagem foi normal. Depois de toda essa tensão, foi entrar no avião e todo mundo ‘apagar’. Chegamos aqui em Dubai aliviados, mas, ao mesmo tempo, preocupados com a situação de Israel e com o povo que ficou lá, com conhecidos brasileiros que ainda estão no país”, afirmou Lu Alves à reportagem de O Tempo nas duas horas de conexão, minutos antes de encarar mais 15 horas de voo até chegar ao Brasil. A previsão de desembarque é no início da noite deste domingo (8).