O ex-deputado federal José Genoíno, que também já foi presidente do PT, causou polêmica ao sugerir um boicote a empresas de judeus em função da guerra entre Israel e Hamas, que acontece desde outubro de 2023 no Oriente Médio. A declaração foi vista como ofensiva e gerou reações tanto de comunidades judaicas, quanto de autoridades.
O atrito começou no sábado (20), quando Genoíno declarou achar “interessante” a espécie de punição a essas empresas “por motivos políticos que ferem interesses econômicos”. Ele falou em entrevista ao DCM (Diário do Centro do Mundo) TV, portal popularmente conhecido no campo político de esquerda.
Na ocasião, ele foi questionado especificamente sobre o movimento de um grupo de empresários, encabeçado por Luiza Trajano, do Magazine Luiza, para pressionar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a desistir de apoiar uma denúncia da África do Sul contra Israel na Corte Internacional de Justiça da Organização das Nações Unidas (ONU) por genocídio. Desde o início da guerra, o petista chamou, por mais de uma vez, a ação militar israelense na Faixa de Gaza como "genocídio".
“Essa ideia da rejeição, essa ideia do boicote por motivos políticos que ferem interesses econômicos é uma forma interessante. Inclusive, tem esse boicote em relação a determinadas empresas de judeus. Há, por exemplo, boicotes a empresas vinculadas ao Estado de Israel. Inclusive, eu acho que o Brasil deveria cortar relações comerciais na área de segurança e defesa com o estado de Israel”, afirmou Genoíno na entrevista.
Genoíno reforçou a posição de Lula e disse que há, no Oriente Médio, o “genocídio do povo palestino”. Ele ainda acusou Israel de promover “destruição, liquidação e violência contra crianças, mulheres, jovens e pessoas idosas”.
“O que está acontecendo na Faixa de Gaza coloca em risco o sentido humanitário da gente como ser humano, de defender o futuro da humanidade. Temos de nos revoltar mesmo contra as atrocidades praticadas pelo governo de Israel”, acrescentou.
Conib acusa Genoíno de antissemitismo
A fala do político motivou uma nota de repúdio "veemente" da Confederação Israelita do Brasil (Conib). "É uma fala antissemita, e o antissemitismo é crime no Brasil. O boicote a judeus foi uma das primeiras medidas adotadas pelo regime nazista contra a comunidade judaica alemã, que culminou no Holocausto", disse o comunicado.
"A Conib mais uma vez apela às lideranças políticas brasileiras que atuem com moderação e equilíbrio diante do trágico conflito no Oriente Médio pois suas falas extremadas e em desacordo com a tradição da política externa brasileira podem importar as tensões daquela região ao nosso país", completou a Conib.
No Brasil, o Supremo Tribunal Federal (STF) já definiu que o antissemitismo, que é a injúria proferida contra um judeu em razão dele ser judeu, constitui crime de racismo e é imprescritível e inafiançável. A pena para racismo é reclusão de dois a cinco anos, além de multa.
Genoíno repudia nota acusação da Conib
Nesta segunda-feira (22), foi a vez de Genoíno repudiar a nota da Conib. "Apresento meu repúdio à nota da Conib (Confederação Israelita do Brasil) e afirmo que não sou e nunca fui antissemita. Repudio, também, qualquer tipo de preconceito contra o povo judeu e defendo a existência de dois Estados", disse.
"Temos a obrigação de denunciar o genocídio do governo de Israel contra o povo palestino. Tenho defendido, incansavelmente, o cessar-fogo, a paz entre os povos e a solidariedade ao povo palestino", completou o político.
Deputados acionam o MPF contra Genoíno
As falas de Genoíno geraram reações que respingaram em órgãos de investigação. O deputado estadual Guto Zacarias (União-SP) apresentou uma notícia-crime ao Ministério Público de São Paulo contra o ex-presidente do PT. Ele pediu que o MPF abra um inquérito policial, caso entenda que não há elementos para já iniciar uma ação penal para enquadramento na lei antirracismo.
“O boicote defendido por Genoino fere a liberdade de crença prevista na Convenção da ONU contra toda forma de discriminação; ademais, priva alguém (empresários judeus) de direitos por motivos de crença religiosa, ferindo a Constituição Federal”, argumentou Zacarias.
O deputado federal Kim Kataguiri (União-SP) também foi ao MP e pediu uma ação de responsabilidade por danos morais coletivos causados à comunidade judaica no Brasil. Kataguiri disse ser a responsabilização de Genoíno é "fundamental para coibir e punir discursos de ódio que incitam a população a atos de desordem e violência".