A filha de uma das figuras públicas mais populares do país é resgatada depois de um sequestro. A polícia identifica o sequestrador, mas não consegue capturá-lo. Em vez de fugir, ele volta para a casa da vítima, e dessa vez faz o pai dela de refém. Essa trama, que parece exagerada até para um filme de ficção, aconteceu aqui no Brasil em 2001. Quando o apresentador Silvio Santos foi sequestrado pelo mesmo homem que sequestrou sua filha, dias antes.

Na mansão da família Abravanel, em São Paulo, a rotina monótona daquela terça-feira, 21 de agosto de 2001,  é quebrada por um toque inesperado da campainha, logo nas primeiras horas da manhã. O porteiro pergunta quem é, e a pessoa do outro lado responde. É o carteiro. Como identifica o uniforme tradicional dos correios, o funcionário abre a porta. Mas quando menos espera, o homem saca uma arma e rende a equipe da portaria. Era uma armadilha. 

O homem  acena para os outros comparsas em volta da casa e todos entram, fazendo de reféns todos funcionários que veem pela frente. É só quando já estão dentro do corredor da mansão que encontram quem estavam procurando. Umas das patroas. Patrícia Abravanel, a filha do dono da casa, o lendário apresentador Silvio Santos. O invasor larga a funcionária que ameaçava e pega Patrícia. Ela é levada até a garagem, onde está seu carro. Tem uma venda colocada nos olhos e é levada pelos sequestradores.

O resgate

Patrícia ficou em um cativeiro sob o poder dos sequestradores por uma semana, até que foi libertada uma semana depois, mediante pagamento de um resgate de 500 mil reais. A libertação de Patrícia ficou marcada por uma entrevista coletiva que ela deu na varanda da casa dela contando sobre como haviam sido seus últimos dias.

Essa entrevista teve muita repercussão na época. Muitos avaliaram que Patrícia não demonstrava estar abalada ou traumatizada, na verdade, muito pelo contrário, ela afirmou ter sido uma experiência enriquecedora. O discurso dela teve cunho religioso, e ela disse ter perdoado os sequestradores. Na época, muitos cogitaram que ela pudesse estar sofrendo com a chamada síndrome de Estocolmo, que leva as vítimas a se apaixonarem pelos seus sequestradores.

Perseguição cinematográfica

Enquanto isso, a polícia corria atrás dos envolvidos no sequestro. Dois dos autores foram encontrados menos de 24 horas depois do crime. Marcelo Batista dos Santos, de 27 anos e Esdras Dutra Pinto, de 19 anos.  Mas ainda faltava o homem que seria o líder do grupo. Ele até foi encontrado pouco tempo depois, mas isso não quer dizer que a situação estava resolvida. Na verdade, era apenas o começo de um dia muito longo para a polícia.

A funcionária de um hotel de luxo em Barueri, na região metropolitana de São Paulo desconfia de um hóspede que dizia ser músico e pagou toda a estadia em dinheiro. Mas é só quando ela nota uma arma e uma mala de dinheiro no quarto dele que ela aciona a polícia. É Fernando Dutra Pinto, o sequestrador de Patrícia Abravanel que estava foragido. A polícia age rápido, invade o prédio pra capturar Fernando, mas ele não se entrega. Tem um embate direto com os policiais. Na troca de tiros, dois investigadores acabaram mortos e Fernando é baleado, mas mesmo assim consegue fugir. A perseguição pelas ruas de São Paulo é cinematográfica, e transmitida ao vivo pelas principais emissoras de TV do país. Mas Fernando acaba levando a melhor, e os policiais perdem ele de vista.

Segundo sequestro

Fernando ficou desaparecido até o dia 30 de agosto, quando ele reapareceu no lugar mais improvável possível. A casa de Silvio Santos. Ele escalou o muro e invadiu novamente o local. A sala de ginástica da mansão foi utilizada para manter o próprio apresentador de refém, enquanto as filhas dele foram libertadas. Foram longas horas de angústia, enquanto o homem se recusava a negociar com a polícia. Ele só se rendeu quando Geraldo Alckmin, então governador de São Paulo, foi até o local para participar das negociações.


Fernando Dutra não chegou a ser julgado pelo crime, já que morreu de parada cardíaca na prisão em janeiro de 2002. Em março de 2002, Esdras Dutra Pinto e Marcelo Batista Santos foram julgados e condenados a 19 anos e 15 anos de prisão, respectivamente.


Mesmo que o caso do sequestro de Silvio Santos e Patrícia Abravanel não tenha tudo um final trágico pras vítimas, ele ficou marcado na história do Brasil. Não só pela ousadia dos criminosos ou pelas reviravoltas cinematográfica, mas por lembrar as pessoas de que ninguém está imune ao crime e a violência, nem mesmo uma das figuras públicas mais populares do país.