Apesar das conquistas das mulheres nas últimas décadas, a desigualdade de gênero continua presente dentro da universidade. É o que revela pesquisa realizada dentro da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG): a disparidade na instituição é percebida na dificuldade das mulheres em progredir na carreira acadêmica – seja como professoras ou pesquisadoras – e na presença majoritária de homens nas áreas de maior prestígio.
O estudo de doutorado, feito pelo pesquisador Marcel de Almeida Freitas, teve o ano de 2016 como base. Nesse período, 52% dos alunos de graduação eram mulheres. No cenário analisado, que envolvia 74 cursos de pós-graduação stricto sensu, os homens compunham 58% do corpo docente.
“Quanto mais alto o nível acadêmico, menor é a presença delas. Tentei, então, avaliar e elencar os preconceitos e distinções que elas tenham vivido na docência e na pesquisa”, explica Freitas.
Em um primeiro momento, foram analisados os perfis de mais de 2.000 docentes, entre homens e mulheres. Em seguida, com o levantamento dos dados, Freitas entrevistou 17 docentes do sexo feminino que atuam na instituição para comprovar as informações obtidas.
O pesquisador classificou as discriminações como vertical ou horizontal. “A vertical fala sobre a maior dificuldade enfrentada por elas na hora de progredir na carreira e o pouco número de professoras em cargos de direção e dentro do mestrado e do doutorado, por exemplo”, diz.
Já o sentido horizontal, esclarece o pesquisador, é formado pela presença majoritária de homens em cursos de maior prestígio, mais bem-remunerados e mais valorizados social e academicamente – principalmente nas ciências exatas. “Enquanto isso, as mulheres ainda são maioria nas áreas ligadas ao cuidado e ao acolhimento, geralmente financeira e socialmente menos valorizadas, como ciências sociais e de saúde”, afirma.
Segundo o pesquisador, além da desigualdade numérica, as mulheres entrevistadas relataram certa tendência, nos homens que compõem bancas examinadoras, de serem mais rigorosos com as candidatas. “Quando um homem e uma mulher com currículos equivalentes concorrem, é provável se dar mais credibilidade ao perfil masculino”, acrescenta.
Freitas ressalta, no entanto, que muitas das posturas identificadas como discriminatórias são adotadas de forma inconsciente e não constam nos regulamentos das instituições universitárias.
Instituição se posiciona em nota à imprensa
Cenário onde a pesquisa foi realizada, a UFMG divulgou sua posição quanto ao resultado por meio de uma nota à imprensa. A instituição afirma que “a assimetria identificada na pesquisa diz respeito ao reflexo da desigualdade de gênero na sociedade brasileira na universidade”. Segundo a instituição, o diagnóstico se refere a todo o sistema federal universitário, e não apenas a ela, de maneira exclusiva.
Ainda no mesmo documento, a UFMG diz que a pesquisa se trata de uma questão social e que a universidade é parte desse sistema. “Há um número maior de docentes do gênero masculino, e essa assimetria favorece a existência de produções acadêmicas de pesquisadores homens”.
No entanto, a universidade destaca que busca a isonomia e a igualdade nas mais diversas dimensões – sejam elas de gênero, raça ou etnia. Isso aconteceria principalmente por meio de seu estatuto, que veta a adoção de medidas baseadas em preconceitos de qualquer natureza.
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Pesquisa aponta desigualdade de gênero acadêmica na UFMG
Estudo usou dados de 2016 e detectou maior presença masculina em áreas de mais prestígio
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