As redes sociais e os aplicativos de mensagens como o WhatsApp e o Messenger do Facebook foram invadidos, nos últimos 15 dias, por sedutores convites para participar de uma iniciativa que seria “o novo bitcoin” e ganhar muitos dólares apenas indicando amigos. A Initiative Q se define como um projeto de um novo meio de pagamento que, pelo uso de tecnologia, poderá substituir os que já existem, quando a adesão das pessoas se tornar global. Se parece bom demais para ser verdade, é melhor abrir os olhos.
“Para a comunidade das criptomoedas é alarmante, porque temos muitas pessoas se ligando à empresa, fornecendo dados sem ter conhecimento exato de o que ela é. Isso pode abrir caminho para vários tipos de golpes”, afirma o diretor de operações da corretora de moedas digitais Foxbit, Guto Schiavon.
O primeiro sinal de alerta surgiu, segundo Schiavon, quando começaram a circular informações desencontradas sobre a relação do fundador da Initiative Q, Saar Wilf, com a empresa de pagamentos PayPal. “Falaram, no começo, que ele seria um dos fundadores da PayPal, mas não é nada disso. Ele fundou uma empresa que foi comprada pela PayPal e, por isso, criou-se um vínculo, provavelmente para fazer o processo de transição para a nova gestão”, diz Schiavon.
O segundo ponto de estranhamento foi a forma de recrutar pessoas para o projeto. “Lembra o esquema de Ponzi (pirâmide), já que a pessoa é premiada indicando amigos para o projeto”, diz o especialista. Para fazer parte da Initiative Q, a pessoa precisa receber um convite e ser validada por quem o convidou. Depois, o convidado também pode reencaminhar convites. No site, a empresa refuta a ideia de ser um esquema piramidal. “Convide pessoas de sua confiança”, diz na internet.
“A Initiative Q tem características comuns às pirâmides financeiras, como a associação com criptomoedas, currículos dos fundadores ‘inflados’ e, por último, a estratégia de marketing de rede, prometendo dinheiro para quem indicar novos membros”, afirma o analista de sistemas e palestrante de blockchain e criptomoedas João Ferreira.
Segundo Ferreira, outro motivo para se ter cautela é a falta de informação sobre como o projeto será implantado. “Não se sabe nada na parte tecnológica nem na econômica, como será a troca por moeda, só marketing mesmo”, diz.
Os especialistas concordam que a chance de se tratar de uma criptomoeda é pequena. “Tudo indica que é uma rede centralizada de pagamentos, ou seja, emitida por uma fonte, que seria a empresa. Isso vai contra um dos princípios das criptomoedas”, afirma Schiavon. “Pelo que divulgaram, parece uma rede centralizada de pagamento, como cartões de crédito ou Dotz. Nesse caso, não seria uma criptomoeda”, diz Ferreira.
Evasivo. A reportagem de O TEMPO entrou em contato com a empresa Initiative Q nos Estados Unidos. Eles enviaram informações por e-mail, mas sem responder às perguntas encaminhadas.
Estratégia incentiva cadastro
Uma das estratégias do marketing de rede usadas pelo projeto Initiative Q é argumentar que quem chega primeiro ganha mais dinheiro. Mas é bom ter cautela. “Alguns amigos foram ‘early adopters’ (primeiros a adotar), e acabei me cadastrando. Já me arrependi. Hoje acho que é enganação. Eles só querem os dados”, afirma o engenheiro de software Ricardo Bittencourt.
Para o especialista em blockchain João Ferreira, “se quiser arriscar, o ideal é a pessoa criar um e-mail exclusivo para isso”.
Os dados em si podem ser o produto
Para participar da Initiative Q, basta fornecer nome completo e e-mail. Pode parecer inofensivo, mas especialistas discordam. “Hoje, uma base de dados gigante é um ativo e pode ser vendida se o projeto não der certo”, diz o diretor de operações da corretora Foxbit, Guto Schiavon. O projeto, porém, nega, em seu site, que as informações serão usadas para outros fins.
“Inicialmente não há risco, mas a empresa vai usar a base de usuários que está coletando para arrecadar dinheiro para o projeto de alguma forma”, pondera o especialista em criptomoedas João Ferreira. O engenheiro de software Ricardo Bittencourt concorda. “Agora, que conseguir dados do Facebook está mais difícil, é uma base valiosa”, avalia.
Entenda
Como se ganha dinheiro? Segundo a Initiative Q, quem se cadastra, por meio de um convite, ganha Q, a moeda virtual do projeto. Caso ele seja bem-sucedido e se torne líder global como meio de pagamento, cada Q será substituído por US$ 1.
Quantos amigos é preciso indicar? Inicialmente, são cinco amigos. Com essas indicações a pessoa já ganha mais de 1.000 Qs. Outras tarefas vão surgindo quando as metas são batidas.
Como convidar? A pessoa cadastrada ganha um link que divulga para os amigos. É necessário validar o amigo depois de aceito o convite.
- Portal O Tempo
- Economia
- Artigo
Nova febre nas redes sociais, Initiative Q demanda cautela
Quando parece bom demais para ser verdade, provavelmente é, alertam os especialistas; analistas apontam elementos comuns aos esquemas de pirâmide financeira
Clique e participe do nosso canal no WhatsApp