Eles não sonham mais em fazer carreira dentro de uma só empresa. Também não querem trabalhar com o que não lhes dá prazer. Não bastasse a fome de inovação, a taxa de desemprego para a faixa de 18 a 24 anos é o dobro da média nacional. E, como não tem emprego para todos, empreender tem sido uma alternativa cada vez mais adotada. Em apenas quatro anos, o número de jovens empreendedores cresceu 86%. Em 2014, eles eram 2,8 milhões e correspondiam a 16,2% dos novos negócios. Em 2017, chegaram a 5,2 milhões, ou seja, 19% de todos os 27,5 milhões de novos empreendimentos, segundo a pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM/2017), que faz um raio-X do empreendedorismo no Brasil.
Wericson Souza tem 22 anos. Há três, abriu sua empresa de chocolates: a Provocatto Cacau. Mas desde a adolescência, aos 16, já sabia que iria empreender. Começou vendendo balas na escola. Até ajudantes ele arrumava, para facilitar a distribuição entre os vários corredores. “Eu chamava de Wericson’s Balas”, lembra o jovem. Logo depois, aprendeu a fazer bombons e incrementou o negócio.
A certeza veio quando, mesmo depois de fazer um curso de técnico administrativo e enviar centenas de currículos, nenhum emprego apareceu. “A crise não me cedeu espaço, então resolvi começar a empreender”, conta o jovem, que, além de aceitar encomendas, criou sua própria rede de revendedores e adaptou uma bicicleta, que agora é sua “foodbike”.
Ele até chegou a conseguir um emprego com carteira assinada, mas não era nem de longe o que queria fazer. “Achei que seria promotor de vendas, mas queriam mais um estoquista. Eu dava várias ideias, e ninguém aceitava. Meu plano era juntar dinheiro para aplicar na minha empresa, mas fiquei só três meses”, lembra.
Na avaliação do gerente do sistema de formação gerencial do Sebrae, Ricardo Pereira, essa faixa etária é ideal para empreender, pois o jovem ainda não acumula muitas responsabilidades e tem mais tempo pela frente para poder errar. “Pode não ter emprego para todo mundo, mas tem trabalho. Em um mercado que está mudando muito, o jovem consegue enxergar possibilidades novas e tem buscado oportunidade de exercer sua expertise sem investir muito”, avalia.
Pereira ressalta mais uma particularidade: o imediatismo. “Essa é uma geração que tem pressa, o que se confronta com o emprego formal, em que demora um pouco para ser promovido. Eles querem colocar em prática o que aprenderem rapidamente e não encaram essa velocidade do mercado de forma fácil”, ressalta.
Geração não tem medo do novo
Allysson Miranda, 26, começou a empreender aos 16 anos, desenvolvendo sites em Coronel Fabriciano, no Vale do Aço. Ele queria fazer um curso de guitarra e, em troca, ofereceu ao dono da escola a construção do website. “Eu não sabia fazer. Mas, com a ajuda do meu irmão, aprendi. Depois me formei em engenharia de mobilidade, mas não achei emprego na área. Então, junto com meu irmão e outros amigos, criei a startup Influenzer, voltada para um marketing mais humanizado”, conta.
Assim como os jovens dessa geração, ele sonhava em trabalhar com algo que “realmente fizesse a diferença” e apostou no nicho da divulgação de marcas por meio das mídias sociais. “Criamos um programa e, cada vez que alguém comenta sobre um serviço ou produto na rede social, ele vai acumulando pontos. A recomendação de amigos traz resultados mais eficientes”, explica Miranda.
O gerente do sistema de formação gerencial do Sebrae, Ricardo Pereira, ressalta que o campo de trabalho hoje está mais aberto. “Para o jovem aprender, tem que ver sentido no que está fazendo. Para empreender é a mesma coisa. Atualmente eles conseguem enxergar muitas oportunidades na área de inovação”, afirma.
Evolução
Entre os jovens de 18 a 24 anos, quantos (%) empreendem no Brasil?
2014: 18%
2015: 19%
2016: 19,7%
2017: 20,3%
Fonte: GEM/Sebrae
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Sem emprego e com desejo de inovar, jovens buscam empreender
Faixa etária é ideal, pois envolve menos responsabilidades e mais tempo para poder errar; em quatro anos, número de negócios tocados por eles cresceu 86% no país
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