A falta de uma atividade diária fez com que a aposentada Maria Alice Possa Rezende, 64 anos, tivesse grandes problemas de depressão. Segundo ela, a falta de ter o que fazer fez com que ficasse vulnerável e se sentisse inútil, já que começou a trabalhar aos 12 anos fazendo flores artesanais e vendendo para conhecidos.

Mais tarde, conseguiu montar o seu próprio negócio, onde tinha uma vida ativa e de muitos compromissos. Após a aposentadoria, que aconteceu há dez anos, cuidava dos netos. Depois que eles passaram a freqüentar a escola, Maria Rezende teve que lidar com o sentimento da derrota.

"Sentia-me acabada sem produzir", destaca. Foi aí que surgiu a oportunidade de trabalhar com a divulgação de produtos de uma ONG, a Missão Ramacrisna. Com isso, Maria Alice começou a conhecer mais pessoas e a ampliar os conhecimentos.

"Quando ficamos em casa sem nenhuma atividade, o conhecimento é reduzido", informa. Hoje, a utilidade na sua idade é garantia de alegria para Maria Alice.

Ela é promotora de vendas das Massas Ramacrisna e, durante o seu trabalho, faz abordagem de pessoas em vários pontos de venda diferentes espalhados pela capital. Para ela, a vantagem de se trabalhar depois de aposentada é ter uma jornada de trabalho menor, no seu caso, de 30 a 34 horas semanais.

Com este horário mais reduzido, a promotora de vendas prefere se organizar para evitar o horário de pico do trânsito. "Querendo ou não, na terceira idade temos algumas limitações", conta Maria Alice.

A maioria da população brasileira que completou 65 anos continua trabalhando e contribuindo para uma boa parte do rendimento familiar. Este é outro fator positivo apontado pela promotora de vendas com a sua inserção no mercado de trabalho. Segundo ela, a aposentaria que recebe não dá para pagar todas as contas.

Com o salário que ganha como promotora, ajuda na manutenção das despesas, especialmente na compra de remédios. "Os filhos ajudam, mas temos dar nosso jeito", fala. A atitude de Maria Alice em trabalhar representa uma oportunidade para que outras mulheres na terceira idade mudem de vida.

"Vejo que acabei por estimular outras pessoas a trabalhar. Inclusive uma delas que conheci no supermercado. Agora ela está comigo na empresa. Várias senhoras me vêem trabalhando e ficam encantadas. Muitas se sentem sozinhas e, quando me conhecem, percebem que ainda é possível ter novas oportunidades na vida. Hoje o idoso tem seu mercado", lembra.