O Carnaval de Belo Horizonte 2023 foi encerrado em grande estilo no bairro Renascença, na região Nordeste da capital, neste domingo (26). O bloco Filhas de Clara, que homenageia Clara Nunes, uma das maiores sambistas, cantoras e compositoras da música brasileira, fez a festa de foliões de idades variadas na avenida Clara Nunes, que tem esse nome exatamente em homenagem à cantora, que morou e trabalhou no bairro. 
 
Uma das fundadoras do bloco, a relações públicas Ayala Melgaço, de 37 anos, fala sobre a importância de Clara Nunes para a música brasileira. Ela avalia que a artista foi menos valorizada do que deveria e que o bloco Filhas de Clara é uma forma de corrigir isso. 
 
“Em 2022, ela faria 80 anos (de idade) se estivesse viva. E foram muito discretas as homenagens que ela recebeu. A gente acredita que a Clara não tomou a proporção que outras divas da música brasileira tomaram. Mas é porque ela teve uma carreira curta. Morreu com 40 anos. Pouca gente sabe que ela foi a primeira mulher do Brasil a vender 100 mil cópias de um disco, numa época em que a mulher na música tinha inúmeras dificuldades para além das que ainda permanecem agora”, argumenta a organizadora. 

Presenças ilustres 

O desfile do Filhas de Clara contou com três celebridades da música. A cantora Elza Santos, a Tia Elza, que participou do programa “The Voice+” da TV Globo, foi uma delas. A sambista diz que Clara Nunes foi muito importante para ajudar a abrir espaço para as mulheres na música do país. 
 
“Ela é a responsável pelo samba ‘de mulheres’, com tudo que ela fez. O samba é machista. Sempre foi machista. Sempre foi só para homens. Ela é uma das pioneiras. Com uma voz maravilhosa e com repertório, ela superou tudo isso, e eles não tiveram o que falar. Tiveram simplesmente que aceitar”, relata. 
 
Outra cantora a se apresentar no desfile foi Júlia Tizumba. Pela primeira vez cantando no cortejo do “Filhas de Clara”, ela se alegra com o fato de as ruas da capital serem retomadas pelos foliões após dois anos de pandemia.  
 
“Estamos muito emocionadas de voltar para as ruas depois desse hiato de dois anos de pandemia, sem poder colocar o bloco na rua. E neste ano de 2023, completam-se 40 anos da morte da Clara (Nunes). Então poder estar na rua, olho no olho com o público, homenageando a obra dessa mineira guerreira, uma obra que atravessou o tempo, é muito emocionante”, descreve a artista. 
 
Outra presença marcante no cortejo foi a da cantora Aline Calixto, que é a idealizadora do bloco “Filhas de Clara”. Ela ressalta a valorização das mulheres promovidas pelo bloco. “Levamos a força e a potência das mulheres para as ruas. Hoje a gente homenageia todas as mulheres, porque o ‘Filhas de Clara’ é formado só por mulheres e homenageia Clara Nunes”, explica. 
 
O professor Reinaldo Machado, de 46 anos, foi ao desfile do Filhas de Clara pela segunda vez. Ele exalta a cantora e garante que vai prestigiar mais vezes o cortejo em outros carnavais. “Clara Nunes é um marco na história artística do Brasil. É um bloco sensacional que resgata toda a história que Clara Nunes trouxe para nós. Aqui em Belo Horizonte, em Minas Gerais e em todo o Brasil. Pretendo (voltar), sim”, conclui.

Sobre o bloco 

O Filhas de Clara foi fundado em 2019, por iniciativa da sambista Aline Calixto, que queria homenagear a obra e a memória da cantora Clara Nunes. “O bloco nasceu de um desejo meu, mas eu não queria realizar esse desejo sozinha. Então eu chamei outras mulheres, porque é um bloco coletivo, onde só mulheres tocam, cantam e produzem Clara Nunes", diz.

A relações públicas Ayala Melgaço conta que, desde o início, a ideia de Aline era valorizar as mulheres. “Ela convidou algumas pessoas, entre elas eu e a produtora Joice Cordeiro para a gente criar esse bloco, totalmente feminino, só vocalistas mulheres, instrumentistas mulheres. Porque a Clara também trazia muito isso, o protagonismo feminino”, relata. 

Desde então, o bloco sempre desfila na avenida Clara Nunes, local onde a eterna sambista morou e trabalhou em uma tecelaria.