A gestora de projetos e jornalista Adriane Assis, de 39 anos, é um exemplo de quem une a espiritualidade à determinação. “Sopro canela todo dia 1º do mês para atrair prosperidade. No final do ano, também faço simpatias com minha família”, conta. Para ela, a simpatia é uma ferramenta de apoio, mas não o caminho principal para alcançar objetivos. “Não adianta fazer simpatia e cruzar os braços. Se eu quero prosperidade, coloco minhas sementes de romã para agir, mas também trabalho muito”, destaca.

Essa visão equilibrada reflete bem a importância de as pessoas não se apegarem apenas aos rituais para conquistar uma mudança de vida, como explica a psicóloga Beatriz Grangê. Ela afirma ser fundamental que os simpatizantes entendam os passos necessários para atingir metas reais.

“É preciso se organizar e se mobilizar para definir prioridades. Pensar em um planejamento para o novo ano, alinhado à sua realidade, ajuda até a escolher qual simpatia usar. Uma coisa não anula a outra”, destaca Beatriz.

Adriane reforça que por trás de uma realização promovida por simpatias sempre estarão o esforço individual e as mudanças que cada um faz em seus comportamentos e suas ações no dia a dia para alcançar um novo objetivo. “Não é só fazer uma simpatia. Existem questões emocionais e físicas e o quão concentrado você está para realizar seus desejos”, explica.

Veja mais

A psicóloga Beatriz esclarece que os rituais podem, sim, ser motivadores, mas não garantem o sucesso por si só. “Simpatias podem impulsionar em algumas direções, mas também podem levar à frustração se os desejos não se realizarem. Se algo deu certo, é porque você fez algum esforço para aquilo acontecer”, ressalta

Além das simpatias e do esforço, um bom planejamento é fundamental para mudanças reais. Especialista em organização pessoal e financeira, Karina Carvalho acredita que tudo começa com clareza de objetivos. “Antes de planejar, é necessário saber o que realmente importa para você e por que você está traçando metas. Sem isso, faltará a persistência necessária para cumprir o que planejou”.

Segundo Karina, a partir disso, é importante criar metas e formas para alcançá-las, em busca de algo maior. “Gosto de fazer uma lista de tudo o que imagino que precisarei fazer para alcançar meus objetivos e definir quais deles precisarão estar cumpridos por trimestre. E toda semana, no momento do planejamento semanal, busco colocar alguma tarefa que me leve à conquista dos meus objetivos. Claro que não precisa ser nada super-engessado. Planejamentos servem para nos guiar, mas podem ser ajustados conforme a rotina de cada pessoa. Também é ótimo colocar lembretes para fazer uma revisão mensal de como está o desenvolvimento desses objetivos”, afirma.

É preciso entender que o ano é feito de alegrias e tristezas

De acordo com a psicóloga clínica Beatriz Grangê, é natural que em todo fim de ano as pessoas façam o balanço do que foi positivo e do que foi negativo. Porém, na avaliação dela, é preciso ter cuidado para fazer essa análise, pois muitas pessoas acabam comparando as próprias conquistas com as de outras, o que, muitas vezes, não vai refletir se algo foi de fato bom ou ruim.

Para Beatriz, cada um deve avaliar as metas que definiu e o que foi alcançado para tirar conclusões, sem se importar, por exemplo, com o que se fala em redes sociais, em que só o que é positivo é destacado. A psicóloga defende que situações difíceis também podem servir positivamente à vida das pessoas, desde que saibam lidar com elas e aprendam algo.
“As pessoas costumam compartilhar somente as alegrias que fizeram o ano ser bom. Mas e as tristezas? Elas não somaram nada ao seu aprendizado? Isso deve ser levado como algo positivo também. Pode até parecer, mas o ano de ninguém é 100% feliz”, destaca.

‘Sucesso vem das próprias decisões’

O gerente de marketing Vinícius Toscano, de 31 anos, não acredita no “poder de simpatias”. Para ele, o sucesso vem das decisões e ações de cada um no dia a dia. “Todo ano, eu penso, planejo e traço metas. Se algo der certo ou errado, é por conta das minhas escolhas, não de simpatias”, destaca.

A crença dele em relação a esses rituais é exatamente o contrário da que tem sua mulher, Luana Silva, de 28 anos. “Minha esposa acredita muito em simpatias. Ela coloca sal grosso atrás da porta, escolhe a cor da roupa por conta da energia. Para mim, tudo isso é besteira”, afirma.

O formulador químico Matheus Henrique, de 25 anos, é direto: “A simpatia é uma forma de tirar de si a responsabilidade da realização. Se algo der certo depois de usar uma roupa específica, por exemplo, não faz sentido achar que foi por causa disso, e não pelo seu esforço”, justifica.

Matheus Henrique não acredita em simpatias
Matheus Henrique não acredita em simpatias (Créditos: Alex de Jesus / O Tempo)

Para o químico, as simpatias servem apenas para fazer com que a pessoa acredite que algo vai dar certo. “O cérebro humano é capaz de nos convencer do que quisermos. Tudo o que temos para fazer já está traçado de alguma forma. Se você quiser acreditar que a prosperidade veio por conta de uma simpatia, seu cérebro vai buscar formas de confirmar isso”, defende.