Os tradicionais bailes funk do aglomerado da Serra, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, foram suspensos por tempo indeterminado. O cancelamento foi divulgado nesse fim de semana por meio de um perfil da comunidade nas redes sociais. Segundo a Polícia Militar (PMMG), a suspensão acontece após denúncias de moradores sobre perturbação de sossego, o que motivou diversas operações nos locais dos eventos. 

“Caros moradores e frequentadores da nossa comunidade, gostaríamos de comunicar que, por um período indefinido, os bailes estarão suspensos. Isso inclui os eventos da R.D.O, Campinho e R.D.A, além da proibição de carros de som na praça do Cardoso”, diz comunicado dos organizadores. Na publicação, os produtores afirmam ainda que a decisão foi tomada por “motivos relevantes”. 

“Entendemos que essa medida pode gerar questionamentos, mas queremos assegurar que é uma decisão tomada com responsabilidade e por motivos relevantes. Pedimos a compreensão de todos e prometemos informar, assim que for possível, retomar as atividades. Estamos juntos nessa jornada e contamos com o apoio de cada um de vocês”, diz a mensagem.

Uma pessoa que reside no aglomerado da Serra, que não será identificada, contou que a medida ocorre após diversas reclamações de moradores a respeito de transtornos provocados pelos eventos à comunidade. Segundo ela, o intenso fluxo de pessoas que iam aos bailes no aglomerado e a desordem da festa seriam algumas das motivações. 

“Era um baile desordenado, com pessoas de fora da comunidade, que chegavam com carro de som, instalava o som na rua e começava o baile. A maioria das pessoas eram de fora e, por isso, tinha uma desordem que começou a incomodar os moradores. Geralmente começava à 0h e terminava às 6h. No final dos bailes, o pessoal acordava com as portas sujas, já que as pessoas urinavam e defecavam. Nos ônibus, as pessoas não pagavam passagem, quebravam os ônibus e pulava a roleta”, conta. 

O morador conta ainda que a proibição teria sido instituída pela Polícia Militar (PMMG). “O que ficamos sabendo é que a proibição vem da PM aqui dentro do aglomerado”, afirma. Questionada, a PMMG informou que em atendimento às diversas reclamações e solicitações da população residente no aglomerado da Serra, acerca de bailes funk que estão perturbando o sossego, foram efetuadas operações nos locais de realização do evento clandestino, por diversos dias, ininterruptamente. 

De acordo com a PMMG, foram identificadas pessoas que poderiam ser os organizadores dos eventos e, após diversos dias de operações, as redes sociais anunciaram a suspensão dos eventos clandestinos por tempo indeterminado. 

Fomento à economia

Para além dos transtornos, os bailes funks também representam um fomento para a economia local. É o que aponta uma moradora, que terá a identidade preservada. “O baile ele fomenta a renda local porque tem muitos ambulantes, as pessoas conseguem vender comida e bebida. As pessoas vêm de fora e vão consumindo”, pontua. 

O DJ Marcelo Mattos, um dos organizadores do baile da Serra, reforça que muitas famílias dependem dos bailes para sobreviver. “Porque é a única renda que elas têm para dar para o seu filho. O problema não é o baile, são as pessoas que veem e na hora de ir embora ficam com carro ligado e incomoda os moradores. Aqui dentro tem empresas sérias que dependem do funk e trabalham com ele. Temos DJs de renome graças ao bom trabalho que leva o nome da Serra para outro país. A comunidade precisa desse baile”, pontua. 

O organizador cobra apoio do poder público para realização dos eventos. “Nós queremos pedir aos órgãos competentes que venham com a gente nessa jornada. O movimento do funk é muito grande e precisamos dos órgãos ao nosso lado. O funk não é só coisas ruins, ele salva vidas e tira as pessoas do tráfico e do roubo”, garante. 

Em nota, a PMMG afirmou que monitora e registra todos os eventos ocorridos em decorrência de bailes funk a fim de solucionar o problema e realçar a sensação de segurança da população do aglomerado da Serra.