Maio é de calor em Belo Horizonte. Dos 17 dias do mês até esta sexta-feira, todos foram mais quentes do que a média histórica para o mês — 25,7ºC na estação Santo Agostinho, região Centro-Sul da capital mineira. Em seis dias, os termômetros ultrapassaram os 30ºC. Para o restante do mês, os dias quentes continuarão predominando, e a chegada do frio é tratada como uma verdadeira incógnita.

A capital mineira, inclusive, neste fim de semana, está sob alerta para onda de calor, fenômeno que ocorre quando as temperaturas ficam 5ºC acima da média histórica para o período. Ou seja, no caso de Belo Horizonte, em maio, quando a previsão é de máxima superior a 30,7ºC.

O dia mais quente do mês foi 3 de maio, quando fez 32,4ºC. Por outro lado, o dia com temperaturas mais amenas — mas, ainda assim, nada de frio — foi 6 de maio, com máxima de 26ºC. Ou seja, acima da média histórica de 25,7ºC. Naquela ocasião, a nebulosidade impactou nas temperaturas.

Cadê o frio?

A chegada do frio é uma incógnita. Ao menos, neste momento. Segundo a meteorologista Anete Fernandes, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a projeção é que o calor continue durante todo o mês e que quedas significativas de temperatura só ocorram em junho.

Com previsão de máximas na casa dos 30ºC no fim de semana, um “refresco” até pode acontecer entre segunda (20) e terça-feira (21). Contudo, Anete pontua: “Não significa frio, mas, sim, redução do calor, com máxima de 27ºC”. Sobre o frio, “seguimos sem perspectiva nenhuma”.

Ausência do frio

Um bloqueio atmosférico, formado no fim de abril, tem impedido as frentes frias de avançarem, segundo a meteorologista Anete Fernandes. É como se houvesse um “paredão” no céu, que bloqueia a chegada de ventos frios. O El Niño, um dos responsáveis pelo calor histórico do ano passado, ainda impacta o clima e contribui para os dias quentes.

O El Niño provoca o aquecimento das águas do Oceano Pacífico na região do Equador e é atuante no clima em Minas Gerais desde 2023. O fenômeno oposto, o La Niña, que provoca o resfriamento dessas mesmas águas, deve atuar a partir da primavera no Hemisfério Sul, ao menos essa é a projeção. Com isso, a tendência é que o início de 2024 tenha menos calor e chuvas mais contínuas.

Amplitude térmica 

Maio, que, no Hemisfério Sul, está no outono — estação de transição entre o verão e o inverno — tem como característica a amplitude térmica: diferença entre as temperaturas máximas e mínimas. Ou seja, frio durante a noite e a madrugada, e temperaturas um pouco mais elevadas durante a tarde. Mas o cenário neste ano tem sido de temperaturas amenas, e não frio, durante as primeiras horas do dia e muito calor à tarde. 

Essa diferença entre mínimas e máximas ocorre devido à ausência de nuvens. "A atmosfera fica muito seca e transparente. Então a radiação solar que chega durante o dia aquece rapidamente" impedindo que as temperaturas mais baixas da madrugada permaneçam", explica o meteorologista Lizandro Gemiacki, do Inmet. Durante a noite, o oposto ocorre, com a queda da temperatura. "Perde a radiação rapidamente, porque não tem nuvem para segurar o calor", prossegue.

Extremos climáticos

Embora maio, historicamente, seja um mês de transição, com a possibilidade de ondas de frio, não há no horizonte previsão de queda nas temperaturas para a capital mineira. O meteorologista explica que, com o aquecimento global, que promove mudanças climáticas, eventos extremos têm sido cada vez mais recorrentes, com ondas de frio e calor intensas. Com isso, "a climatologia para o mês — que consideramos como previsão, mas que é uma média dos últimos anos — perde o potencial de ser usada como referência. O que está predominando são os extremos climáticos", pontua.

Em maio de 2022, no dia 19, BH registrou, na estação Cercadinho, 4,4 °C, o dia mais frio da capital mineira desde o início da série histórica do Inmet, iniciada em 1961. Essa temperatura está, justamente, descrita nos extremos classificados por Lizandro.