O Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) acatou o pedido da defesa e colocou sob sigilo, nesta quinta-feira (27 de junho), o processo por estelionato contra a socialite mineira Samira Monti Bacha Rodrigues, de 40 anos, presa na última quarta-feira (26) em uma operação da Polícia Civil contra um esquema que desviou R$ 35 milhões de empresas das quais a mulher era sócia. 

De acordo com o Fórum Lafayette, o pedido de sigilo foi acatado durante audiência de custódia presidida pelo juiz Leonardo Antônio Bolina Filgueiras, quando foram ouvidos cinco dos 12 presos na operação "Dubai", entre eles duas mulheres.

"Durante a audiência de custódia, requerimentos foram feitos tanto pela defesa dos acusados, quanto pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). Dentre os pedidos estão a imposição de sigilo ao inquérito durante a fase de investigação, fornecimento de medicamentos prescritos a alguns dos acusados e revogação das prisões temporárias, além de cumprimento de outras diligências", detalhou o tribunal.

Ainda conforme o fórum, o MPMG se manifestou contra a revogação da prisão de dois dos acusados, pedindo ainda um prazo para analisar o inquérito e se manifestar sobre a manutenção das prisões dos outros três réus. "Por essa razão o juiz estipulou um prazo de 24 horas para que o MPMG tenha acesso aos autos do inquérito e, após essa manifestação, decidir sobre a custódia dos acusados", concluiu o Fórum Lafayette. 

Além da mulher, considerada a cabeça do esquema, outras 11 pessoas também foram detidas suspeitas de participação nos desvios. Entre elas destacam-se o pai da mulher, empresário renomado em Minas, a mãe, irmãos e quatro ajudantes do lar. Dos presos, cinco foram ouvidos e liberados: as funcionárias que auxiliavam a mulher nos afazeres domésticos e os pais dela, devido à idade avançada e por terem colaborado com as investigações.

A empresária

Em consultas pelo nome da empresária, a mulher aparece como sócia em pelo menos quatro empreendimentos. Uma das empresas é da área de cobranças, enquanto a outra atua com investimentos financeiros. Os outros dois estabelecimentos no nome da mulher são uma plataforma de pagamento, voltada para médicos, e uma empresa de joias.

A última delas foi criada em março deste ano e, segundo a Polícia Civil, era usada na lavagem do dinheiro desviado no esquema. As empresas das quais a mulher era sócia estão localizadas em bairros de classe alta de Belo Horizonte, como Gutierrez e Lourdes, e, também, em Nova Lima, uma delas no luxuoso bairro Vila da Serra. 

A reportagem de O TEMPO tentou contato com o advogado da socialite, Luiz Aguiar Botelho, porém, até a publicação desta reportagem, ele não tinha enviado um posicionamento sobre a prisão de sua cliente. 

Como funcionava o esquema?

Segundo a Polícia Civil, além de ser sócia, a mulher também trabalhava, desde 2018, no setor financeiro das empresas. No entanto, os golpes teriam começado apenas em 2020. Segundo o delegado responsável pela apuração, Alex Machado, Samira se aproveitou da "parceria, amizade e confiança" que mantinha há cerca de 20 anos com os demais sócios das empresas para realizar as fraudes. 

Após o golpe financeiro que causou um prejuízo de R$ 35 milhões, duas das três empresas alvo do esquema precisaram declarar falência devido ao rombo. O delegado explica que ela começou a aplicar golpes na empresa que lidava com recarga de cartões de alimentação. Para isso, ela chegou a recarregar o próprio cartão e cancelou a fatura dos gastos.

Em seguida, a suspeita passou a operar com outra empresa do grupo, que fornecia benefícios para a classe médica. Neste caso, ela chegou a recarregar seu próprio cartão com valores de até R$ 500 mil. A terceira empresa de onde a mulher desviou recursos era uma firma que fornecia crédito para grandes empresários. Nesta empresa, a suspeita simulava operações e depositava altos valores financeiros em sua própria conta bancária.

"Foi somente após os desvios nesta terceira empresa do grupo que ela foi descoberta pelos sócios. Com todas as provas dos desvios, os empresários procuraram a polícia no mês passado.  Ela tentou negar o crime de estelionato, mas com todas as provas que reunimos, é impossível que ela se livre", destacou o delegado Alex Machado.

A mulher também é suspeita de realizar lavagem de dinheiro comprando itens não rastreáveis avaliados em R$ 15 milhões, como bolsas de grife e relógios. As joias e pedras preciosas adquiridas pela suspeita em Dubai, nos Emirados Árabes, eram repassadas para a revenda em uma joalheria de alto padrão em Nova Lima — a suspeita também era sócia desse estabelecimento.

Ela ainda comprava joias no Brasil e conseguia, no exterior, uma espécie de certificação que aumentava o valor das peças.

(Com informações de Alice Brito)