Um dos personagens clássicos da tragédia grega, Édipo, sentará no banco dos réus em Belo Horizonte no próximo sábado (13 de julho), às 9h. O destino do rei, que matou o pai biológico, será definido em um júri popular na Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Trata-se, é claro, da simulação de um julgamento, que tem como pano de fundo reflexões sobre as relações humanas e como objetivo levar aos estudantes uma experiência próxima àquela que terão nos tribunais.

Escrita pelo dramaturgo grego Sófocles há cerca de 2.400 anos, a peça saltou dos palcos para o consultório, quando ajudou a construir um dos conceitos mais populares do "pai da psicanálise", Sigmund Freud — o Complexo de Édipo. Como obra viva tantos séculos depois, a tragédia servirá agora de enredo para simular um processo em que defesa e acusação, formadas pelos alunos, tentarão convencer o júri quanto ao destino mais adequado ao protagonista.

Os jurados serão escolhidos por sorteio entre estudantes e pessoas inscritas para acompanhar o evento. Haverá duas testemunhas de defesa e duas de acusação, uma juíza (Daniela de Freitas Marques, professora de direito da UFMG e juíza do Tribunal de Justiça Militar de Minas Gerais) e o réu, Édipo, na pele do ator Jitman Vibranovski, que tem 60 anos de carreira atuou em novelas das TVs Globo, Record e SBT. Na simulação, Vibranovski ainda interpretará Jocasta, mãe de Édipo.

"Estruturamos o mais próximo do julgamento de um júri. Teremos as sustentações orais pelos alunos, orientados por mestres e mestrandos. A ideia é estimular os estudantes e dar a eles uma visão transdisciplinar, mostrar que num júri e na nossa prática cotidiana temos que olhar além do direito. A psicanálise nos proporciona muito isso", afirma o professor de direito processual penal da UFMG Júlio César Faria Zini.

O evento é realizado pela universidade em parceria com o Instituto Langage, espaço que une a psicanálise com outras áreas do conhecimento, como o direito. Diretor do instituto, Sérgio Oliveira explica que a ideia de fazer o julgamento vem a partir de uma crítica em torno da ideia do Complexo de Édipo. "O direito vai julgar, mas, para o Langage, a intenção é mostrar mais um ponto de que esse conceito é equivocado, de que precisamos revê-lo à luz do que vivemos atualmente. A teoria psicanalítica e a história construíram uma série de valores a partir de um equívoco."

A história de Édipo

Filho biológico do rei Laio e da rainha Jocasta, de Tebas, Édipo teve seu nascimento envolto em uma profecia: um oráculo disse que ele mataria seu pai e se casaria com sua mãe. Para evitar esse destino, Laio e Jocasta abandonaram Édipo numa montanha. O bebê foi resgatado por um pastor, sendo criado em Corinto por Pólibo e Mérope. Já adulto, ao consultar um oráculo, a mesma profecia foi revelada a Édipo, levando-o a fugir de Corinto, para evitar Pólibo e Mérope.

Mas em um encontro casual em uma encruzilhada, Édipo se envolveu em uma briga fatal com um homem mais velho, sem saber que este era seu pai biológico, Laio. Mais tarde, ao chegar a Tebas, libertou a cidade do terrível desafio da Esfinge ao decifrar seu enigma. Recompensado com a mão da rainha viúva, Jocasta, Édipo ascendeu ao trono como rei. Porém, uma terrível praga assolou Tebas anos depois, revelando que o assassino de Laio, ainda não identificado, era a causa. Investigando o passado, Édipo descobriu com horror que ele próprio era o culpado e que havia cumprido a profecia ao matar seu pai e se casar com sua mãe biológica.

Como acompanhar?

O evento é gratuito e será realizado na Congregação da Faculdade de Direito da UFMG, na avenida João Pinheiro, 100, no Centro. Haverá transmissão online, ao vivo, pela plataforma Zoom. As inscrições para acompanhar podem ser feitas neste link.