A mata destruída por um incêndio no Parque Ursulina de Andrade Mello, no bairro Castelo, região da Pampulha, em Belo Horizonte, pode demorar mais de cinco anos para se regenerar, conforme especialista ouvida por O TEMPO. A prefeitura ainda calcula a área atingida pelo fogo entre a tarde dessa quinta (11) e a madrugada desta sexta-feira (12 de julho), mas a estimativa inicial do Corpo de Bombeiros é de um espaço equivalente a seis campos de futebol.
Brigadistas da administração municipal e cerca de 30 militares combateram o fogo, que, além de aniquilar parte da área verde do parque, causou danos à fauna local. "Infelizmente, alguns animais foram vítimas desse incêndio, mas a corporação recuperou algumas aves, realizando o salvamento, e as encaminhando à unidade de atendimento veterinário", relata o tenente Henrique Barcellos, do Corpo de Bombeiros.
Reconstituir a vegetação demandará paciência, e o ideal é começar esse trabalho após o período de estiagem, segundo Verônica Mota, engenheira agrônoma e professora do curso de engenharia ambiental do Centro Universitário Una. "A planta, quando queimada, perde as folhas, os troncos e os vasos. Em algumas situações, também a raiz. Quando as raízes não queimam, é como se a planta ficasse em estado de 'dormência' e, no período chuvoso, pode rebrotar", diz.
"Uma regeneração deve demorar mais de cinco anos, porque primeiro nascerá a vegetação primária, o pasto. Quando o mato estiver alto, haverá suporte para começar a nascer a vegetação secundária, que são as árvores e arbustos. O ideal é fazer um replantio de árvores, mas é preciso esperar o período chuvoso (iniciado em outubro)", pontua a especialista.
'Área de extrema importância'
O Parque Ursulina de Andrade Mello tem 312 mil m², envoltos por uma região movimentada no bairro Castelo, entre as avenidas Tancredo Neves e Heráclito Mourão de Miranda. Em meio a casas, prédios e comércio, está a área verde, com diversas espécies de árvores — como fícus, sucupira e ipê-amarelo — e animais — como aves, mico-estrela e gambás —, contando, ainda, com seis nascentes e um lago artificial.
Bárbara França, pós-doutora em planejamento urbano pelas universidades de Barcelona e Federal de Minas Gerais (UFMG), destaca a importância de espaços como esse em grandes cidades. "A área afetada pelo incêndio é uma das últimas remanescentes de mata nativa em BH. Tem um papel fundamental, com fauna e flora ricas em diversidade, e é de extrema importância para o conforto térmico da região", explica.
A especialista ressalta a necessidade de preservar o local e de haver uma atenção redobrada para evitar danos como os ocorridos com o incêndio. "O cuidado com essas áreas precisa ser uma questão central para o poder público, inclusive com ações de conscientização ambiental. Estamos numa metrópole com imensos desafios, como poluição e aquecimento global. Um exemplo é o inverno atual, que parece verão. É preciso investigar se o incêndio foi criminoso e é necessário um monitoramento rigoroso das áreas verdes de BH."
O que prefeitura vai fazer?
A PBH afirma que a área atingida pelo fogo já é estudada pelos técnicos da Fundação de Parques Municipais e Zoobotânica (FPMZB). "Após esse levantamento, eles darão início à sua recuperação, utilizando as técnicas adequadas para os locais. Nesse trabalho, os técnicos verificam quais espécies foram queimadas, quais árvores ainda podem ser recuperadas e quais devem ser suprimidas por causa dos prejuízos causados pelo fogo. O plantio de novas mudas faz parte do trabalho de recuperação e será iniciado tão logo esse levantamento seja finalizado e o terreno esteja pronto", diz a administração municipal.
Incêndio em 2020
O parque já havia sofrido com o fogo em outubro de 2020, quando foi destruído o equivalente a dez campos de futebol. Segundo a PBH, trata-se de uma área diferente da que foi atingida nessa quinta-feira (11). A vegetação dizimada quatro anos atrás segue em processo de recuperação. A prefeitura diz que, até o momento, foram plantadas no espaço cerca de 15 mil novas espécimes.
Leia a íntegra do que diz a prefeitura:
No caso do Parque Ursulina, especificamente, pela característica da área atingida (mata secundária), o método de recuperação estabelecido (para a área queimada em 2020) foi a aceleração da regeneração natural de forma assistida associada ao reflorestamento de espécies nativas (plantios), feito pela equipe própria da FMPZB e com o apoio da comunidade e de parceiros. O objetivo não foi apenas repor a cobertura vegetal, mas também restabelecer a capacidade do ecossistema do local de se autoperpetuar. Ao todo, foram plantadas nessa área, até o momento, cerca de 15.000 novas espécimes.
Nesse processo, as sementes e as plantas que sobreviveram formam uma nova geração de árvores. Técnicos avaliaram as condições potenciais de restauração disponíveis no local, como banco de plântulas, rebrotas de raízes e tocos, bancos de sementes e chuva de sementes. Nesse sentido, foram adotadas um conjunto de ações em cada período do processo. Essas ações foram desde a regeneração natural, redução das perturbações, redução da competição e facilitação de espécies desejadas até a introdução de sementes e mudas de árvores nativas.