Ao menos seis pacientes denunciaram à Polícia Civil o cirurgião-dentista Fernando Lucas Rodrigues Alves. Ele está sendo investigado por violação sexual e erros em procedimentos estéticos, conforme noticiado por OTempo neste sábado (20). As queixas dos pacientes dizem respeito a lesões, traumas e cicatrizes que teriam sido adquiridas após a realização de tratamentos com o profissional. 

Felipe Velloso, advogado das vítimas, relatou que já está atuando na defesa de seis pessoas que denunciam o dentista. Ele, no entanto, diz que há um outro grupo, com cerca de 20 pessoas, que devem prestar queixa contra o profissional. “Todas as vítimas relatam que além dos erros nos procedimento estéticos, foram dopados para a realização da cirurgia, em vez de receber uma anestesia. Ele (o dentista) dava um remédio e os pacientes acordavam horas depois”, detalhou o advogado. 

Relatos 

A reportagem teve acesso a dois boletins de ocorrência registrados contra o cirurgião-dentista. Em um deles, uma paciente que terá a identidade preservada, denunciou que ao chegar ao consultório do dentista para duas cirurgias, foi orientada por uma enfermeira a tirar toda a roupa, inclusive as peças íntimas, e vestir um avental hospitalar que não possuía botões.

No entanto, segundo o boletim de ocorrência, ao acordar, ela notou que apenas um procedimento foi realizado e o dentista disse a ela que teria esquecido de realizar a outra terapia contratada. Após isso, o profissional ainda elogiou o corpo da paciente, sendo reprimido por ela. Aos policiais, ela ainda disse que o procedimento realizado causou “deformidades na face”, sendo necessário gastar com outros procedimentos para corrigir as falhas. 

Já outra paciente, também em boletim de ocorrência, disse que esteve em novembro de 2023 no consultório do dentista para realizar um procedimento de cervicoplastia. Após o terceiro dia de pós-operatório, ela denuncia que observou um inchaço no pescoço e que o ouvido estaria tapado. 

Em contato com o consultório, de acordo com a ocorrência, ela foi informada pela enfermeira que os sintomas eram normais, mas que poderiam ser resultado de inflamação. Sem ver sinal de melhora, a paciente foi ao consultório, onde foi realizada uma punção para retirada de excesso de líquido do local com inchaço. Além disso, ela disse aos policiais que foram retirados dois objetos do ouvido dela. 

A paciente pensou que fosse sangue ressecado, mas uma enfermeira afirmou que se tratava de pedaços de algodão esquecidos no local desde o dia da cirurgia. Ainda conforme o relato à polícia, o dentista realizou um procedimento para retirar uma fibrose no pescoço da paciente, sob efeito de anestesia, e quando a paciente acordou observou três aberturas no rosto. 

Avaliações

No google, há quatro comentários de avaliações relatando problemas com procedimentos feitos no consultório. "Infelizmente minha amiga fez uma Blefaroplastia e ficou com um olho sem fechar. Ela se desesperou. Quando foi fazer a cirurgia de reparo, saiu da cirurgia com um olho muito diferente do outro e menor. A cicatriz foi péssima e ela está em depressão", diz um dos relatos que não foram respondidos pela equipe do cirurgião.

Processos 

O advogado Felipe Velloso disse que além da investigação policial, já há um processo na área cível contra o dentista e que outros deverão ser abertos. À Justiça, as pacientes pedem indenização por danos morais, materiais, estéticos e existenciais. “Também fizemos uma denúncia no Conselho Regional de Odontologia para cada uma delas e na semana que vem vamos representar contra ele no Ministério Público de Minas Gerais (MPMG)”, complementou. 

A reportagem procurou o Conselho Regional de Odontologia de Minas Gerais para esclarecimentos sobre o caso. No site do Conselho, o registro de Fernando Lucas Rodrigues está ativo como especialista em Cirurgia e Traumatologia Buco Maxilo Faciais e Odontologia do Trabalho. 

Mas segundo o CRO, o profissional teve o registro profissional cancelado por 30 dias. O conselho também informou que atua para apurar os fatos e que tem ciência das denúncias de pacientes, da investigação da Polícia Civil e de relatórios da Vigilância Sanitária Municipal, "além de evidências de práticas temerárias reiteradas".

"Em visita realizada no dia 19 de julho, a diligência do CRO-MG constatou que o profissional não estava atuando naquele momento. O CRO-MG continuará
empenhado para fiscalizar o exercício profissional de acordo com as diretrizes éticas e legais, visando o perfeito exercício da Odontologia e preservação dos interesses da sociedade", finalizou o Conselho em nota.

OTempo também procurou o advogado do cirurgião-dentista Fernando Lucas Rodrigues Alves, mas os telefonemas também não foram atendidos. Na clínica em que o profissional atende os pacientes ninguém foi encontrado.