A estudante de veterinária Carolina Arruda, de 27 anos, foi internada por tempo indeterminado na Santa Casa de Alfenas, no Sul de Minas Gerais, nessa segunda-feira (8 de julho). A mineira, que vive há 11 anos com neuralgia do trigêmeo, um distúrbio que provoca uma dor considerada “a pior do mundo”, iniciou um novo tratamento para tentar reduzir seu sofrimento. Mesmo assim, ela afirma que não desistiu da eutanásia na Suíça – a vaquinha para arrecadar R$ 150 mil continua aberta. O suicídio assistido é proibido no Brasil.
Na Santa Casa, Carolina está sendo examinada por um dos especialistas em dor de destaque no país, o médico Carlos Marcelo de Barros. Conforme a estudante relatou aos seguidores em sua rede social, o novo tratamento será feito “do zero”, isto é, ela vai refazer todos os exames e ressonâncias. Não há expectativa de alta no momento. “Esse tratamento vai durar meses, ele é longo, e não vai provar resultado agora. Tenho mais de 50 ressonâncias, mas o médico quer que seja tudo do zero. Estou aqui, tomando meus medicamentos e morfina”, relatou ela, que é mineira de Bambuí.
O procedimento na Clínica de Dor é 100% do Sistema Único de Saúde (SUS). o objetivo é amenizar o sofrimento da estudante e torná-lo, pelo menos, suportável. “A expectativa com o tratamento é que a dor dê uma amenizada. É como se o meu cérebro fosse ‘reiniciar’. Eu vou ficar em um estado de sedação, sem dor, para o cérebro descansar, e partirmos para os próximos passos. Vai demorar. Nem eu, nem as pessoas devem ficar ansiosas”, continuou.
Carolina está, no momento, sem acompanhantes no hospital. Ela explicou que o marido teve que retornar às aulas na faculdade e a mãe vai seguir a rotina de trabalhadora autônoma. Já a filha fica sob os cuidados da avó. “Isso não é um problema para mim. Eu fico sozinha tranquilamente”, disse. Já que não tem data para ter alta, ela entrou com pedido de atividades online para não precisar interromper a faculdade de veterinária.
Mineira vai desistir de eutanásia?
Apesar do novo tratamento, Carolina Arruda afirmou que não desistiu da eutanásia. Ela explicou que o processo de suicídio assistido é burocrático e, enquanto isso, irá sim tentar reduzir a sensação de “pior dor do mundo”.
“Eu tenho que fazer todos os trâmites de documentação e tradução para alemão ou inglês, juntar diversos laudos e relatórios de todos esses anos com a dor e ainda passar por médicos psiquiatras que confirmem que estou consciente da decisão. Só de trâmites, são mais ou menos dois anos. Nesse período, quero ficar com o mínimo de dor possível. Por isso o tratamento”, disse.
Entenda: neuralgia do trigêmeo
Conforme informações compartilhadas pelo Hospital Albert Einstein, a neuralgia do trigêmeo provoca uma dor forte na região do rosto, por onde passa o nervo trigêmeo, responsável pela sensibilidade tátil, térmica e dolorosa da face. A dor pode ocorrer várias vezes ao dia, com intervalos variados.
No caso da Carolina, a dor crônica atinge o rosto, nos dois lados da face, na forma de pontadas ou choques. Ao longo dos últimos anos, a estudante passou por quatro cirurgias, se consultou com 70 médicos e testou mais de 50 medicamentos.
Rotina de dor
Além de canabidiol, a mineira faz uso de dez medicamentos por dia, entre antidepressivos, anticonvulsivos, opioides e relaxantes musculares. As crises já afetaram sua saúde mental. Carolina relatou ter tentado suicídio duas vezes.
Faz parte do tratamento a aplicação de botox a cada quatro meses no músculo temporal e masseter (um dos quatro músculos da mastigação). A terapia deixa a dor cerca de 5% menos intensa, de acordo com a paciente.
Eutanásia
O ato tido como um suicídio assistido é proibido no Brasil, mas permitido em alguns países, como na Suíça. Para viajar, Carolina, moradora de Bambuí, região Oeste de Minas, abriu uma vaquinha nas redes sociais e pretende arrecadar dinheiro para o procedimento, que, segundo ela, é burocrático. A mineira já recebeu mais de R$ 127.737 mil em doações on-line.