O clima de insegurança tem tomado conta de moradores e comerciantes do bairro Belvedere, na região Centro-Sul de Belo Horizonte. A sensação de insegurança é causada por uma onda de assaltos, alguns em plena luz do dia, que têm sido registrados nos últimos meses. A equipe de O TEMPO foi ao bairro nesta quinta-feira (12) e conversou com a população. Vítimas detalharam como os bandidos têm agido na região.
“Eu não saio com nada de valor. Se preciso sair a pé, não uso joias, deixo meu celular escondido na calça e sempre levo meu cachorro, um pastor alemão, comigo. Quando estou com ele, as pessoas ficam com medo de se aproximar de mim”, afirma a dentista Isabela Stehling, que mora no bairro há 13 anos. Ela é moradora da rua Desembargador Jorge Fontana, que foi palco de um assalto à mão armada recentemente. Pelas imagens de uma câmera de segurança, é possível ver um rapaz parado na frente de um prédio. Em determinado momento, ele é surpreendido por um homem que usa um capacete. A ação não dura um minuto. O criminoso usa uma arma para render a vítima, que entrega os pertences. Na sequência, o ladrão foge.
A poucos metros de onde o crime aconteceu, uma Base Móvel Comunitária da Polícia Militar faz a segurança do bairro, mas nem a presença da polícia afasta os bandidos. “A polícia faz rondas, mas não adianta. Eles (criminosos) estão mais criativos. Usam roupas de ginástica, fingem estar malhando ou parecem entregadores, e, na verdade, são assaltantes. Agem como pessoas comuns”, disse a empresária Joice Braz, 69, que há 25 anos mora no bairro.
Se nem a presença da polícia basta para evitar o aumento da criminalidade em um dos bairros mais luxuosos da capital mineira, a estratégia de alguns moradores é se defender como podem. Joice, a empresária citada acima, disse que “não dá bobeira na rua”. “O povo parece que não acredita. Eu saio da academia e algumas amigas ficam paradas na rua, conversando, com o celular na mão. É o tempo de alguém passar e levar embora. Eu não saio a pé com celular, deixo tudo em casa”, garante.
Sair com a menor quantidade de pertences também é um hábito da Fabiana Martins, de 46 anos. “Os próprios policiais nos alertam a evitar sair com pertences, porque eles mesmos disseram que os assaltos aumentaram muito”, disse. A reportagem solicitou uma entrevista com o responsável pelo 22º Batalhão da Polícia Militar, que faz o patrulhamento da área, mas ainda não obteve retorno.
Trauma
A vendedora Aline Antunes de Souza, de 28 anos, é uma das vítimas da onda de assaltos que impera no bairro. Ela estava saindo da loja onde trabalha quando dois homens em uma motocicleta, armados, anunciaram um assalto. A reação dela foi sair correndo e gritar pedindo ajuda. Já a patroa, que a acompanhava, foi assaltada pela dupla.
“Infelizmente, ela perdeu tudo. Levaram bolsa, celular, documentos. Agora, a gente está em pânico”, relatou. Esse assalto aconteceu em julho deste ano, mas, diariamente, relatos como esse circulam entre moradores e comerciantes da região. “É comum a gente ouvir histórias de que alguém foi assaltado, principalmente quem faz caminhada ou transita a pé pelo bairro. Não tem horário certo; teve gente que foi roubada durante o dia”, afirmou a vendedora.
Sensação e Nível de Segurança
Para o especialista em segurança pública Jorge Tassi, as características do bairro Belvedere podem ser um dificultador para as forças de segurança. “Casas espaçadas, muitas árvores e, ainda que a iluminação seja boa, os vazios que existem tornam-se esconderijos para bandidos. Além disso, uma viatura que vai fazer o patrulhamento em uma rua de baixa movimentação é vista a quilômetros de distância”, disse.
Para ele, uma boa solução é unir segurança pública e privada para aumentar os níveis de segurança no bairro. “É fundamental que empresas privadas de segurança patrimonial e de pessoas possam auxiliar no processo e aumentar o nível de segurança, não só a sensação, que é um aspecto psicológico, mas também a qualidade do bairro”, finalizou.