Belo Horizonte não tem mar, mas tem praia, localizada bem no Centro da cidade, há 15 anos recém-completados. Em edição comemorativa ao aniversário do evento, a tradicional Praia da Estação foi responsável por amenizar o calor de mais de 31° da tarde deste sábado (25 de janeiro). Ocupando novamente a Praça da Estação, inúmeros "banhistas" se reuniram para se refrescar, já em clima de pré-Carnaval.

Artista e um dos membros iniciais do movimento, Ed Marte relembrou o início da praia belo-horizontina. "A Praça da Estação era um lugar com muitos shows, muitos eventos. Quando o Márcio Lacerda proibiu qualquer tipo de evento aqui, recebemos alguns e-mails anônimos convidando para discutir a questão desse decreto. De uma reunião surgiu a ideia de começar, não só essa festa, mas uma discussão de como devemos ocupar o espaço público", contou a OTEMPO.

Ed Marte, um dos criadores da Praia da Estação

 

A primeira edição, realizada no primeiro mês de 2010, sequer contou com as fontes d'água que já conheciam na praça. À época, o artista relembra que a Prefeitura de Belo Horizonte desligava as fontes nas datas de Praia da Estação — originalmente coordenadas através da ferramenta de eventos do Facebook. "A gente chamava caminhões-pipa para jogar água, com dinheiro do nosso bolso. Ligando ou não ligando, sempre tinha um caminhão-pipa. Acabou virando uma coisa maior, com todo mundo conhecendo", relatou Ed Marte.

O espaço acabou virando berço de movimentos políticos e culturais da capital mineira, sendo um dos pontapés para o Carnaval de Belo Horizonte. "Em 2011, alguns blocos de Carnaval começaram a ensaiar aqui na Praça da Estação. Hoje, temos mais de 600 blocos na cidade. Virou essa loucura, essa maravilha que está aqui hoje. Foi uma virada para muitos músicos, artistas, que começaram a se apresentar aqui na praia. Eu mesmo comecei a fazer performances aqui", contou o artista.

Outro artista que frequenta a Praia da Estação desde a primeira edição é Hogenério, curador e produtor cultural. "Tem quem reclame que Belo Horizonte não tem praia, mas cada lugar tem seu encanto", disse o artista plástico. "Há alguns anos, eu sofri um acidente, fiquei em coma, e eu acho que o grande lance da vida é celebrar. E hoje é um dia especial, de 15 anos, né? O que a gente quer é essa liberdade, alto astral, que todo mundo se encaixe nessa diversidade", destacou em conversa com a reportagem.

Hogenério participa da Praia da Estação desde o primeiro evento

 

"Banhista" desde 2010, Karen Abreu também fez questão de comparecer aos 15 anos da festa. "É muito bom a gente poder ocupar o nosso espaço, que é público, para ter esse momento de alegria, de encontro, de brincadeira. É muito legal poder vir de biquíni e 'dar um tibum' ali no chafariz, que agora, refeito, foi reconstruído para a gente aproveitar. Nós realmente conquistamos esse espaço há 15 anos e a gente está aí para falar que a cidade é nossa e que a gente vai usar ela para poder se divertir", anunciou, celebrando a "potência do encontro" na festa.

Percussionista no Bloco da Praia, Karen também participa desde as primeiras edições da Praia da Estação

 

Por falar em celebração, não era só a Praia da Estação que estava em modo comemorativo neste sábado. A bancária Roseli Torres reuniu amigos e familiares no local, celebrando seu aniversário com direito a bolo de chocolate, batatas chips e o petisco sacanagem. "Hoje é a praia da Rose", brincou em conversa com a reportagem. "A Praia da Estação é brilhante. Aqui, essa praia é nossa. É o nosso espaço. É como a gente fala: é a nossa praia, é a nossa liberdade, é o nosso lazer. Só venham!", convidou.

Frequentadora há pelo menos 10 anos, Rose comemorou o aniversário na Praia da Estação

 

Reinauguração da Praça da Estação

Fechada para reforma por quase um ano, a praça foi reinaugurada em setembro de 2024, após um investimento de R$ 8,1 milhões da Prefeitura de BH (PBH). Entre as principais atrações da revitalização estava justamente a restauração de suas fontes d'água. Desde então, o equipamento traz jatos d'água e, também, "névoas umidificadoras", que visam justamente trazer um alívio para o calor da região central da cidade. A névoa serve para avisar à população que estiver sobre as fontes que, em breve, os jatos serão iniciados.

Segundo a PBH, a água das fontes passa por processo de filtragem e tratamento químico para garantir o uso pela população. Apesar de ser apropriada para banho recreativo, a água não é adequada para consumo.

Com informações de José Vítor Camilo e Mateus Pena.