Além das interdições de vias, os motoristas precisam lidar com outra preocupação no período chuvoso: os buracos espalhados pelo asfalto. Em Belo Horizonte, são diversos os flagrantes de pavimentos com irregularidades, que desafiam motoristas e pioram o trânsito. As crateras também destroem peças de veículos e podem causar acidentes. Manutenção contínua é apontada como solução para reduzir o problema.
A reportagem de O TEMPO percorreu bairros de BH nessa quarta-feira (5 de fevereiro) e verificou o estrago feito pelas fortes chuvas que, dias atrás, atingiram a capital. No Santa Amélia, na região da Pampulha, os motoristas precisam reduzir a velocidade e desviar de buracos na rua Mércia Siqueira Pratés, entre os números 225 e 300.
No período chuvoso, os motoristas de Belo Horizonte têm dois temores. Antes das chuvas, vem o medo de inundações que possam bloquear vias e até mesmo arrastar veículos. Passadas as precipitações, vêm a preocupação com os buracos que ficam nas vias da capital mineira. Seja em vias… pic.twitter.com/QljMR4R3KR
— O Tempo (@otempo) February 6, 2025
Os buracos são um problema recorrente, de acordo com o empresário Alexandre Gomes, de 39 anos. Morador do bairro Jardim Leblon, vizinho do Santa Amélia, ele passa com frequência pelo trecho. “É só chover que esse asfalto estoura e vira uma complicação passar aqui. E quanto mais chove, parece que mais aumenta o buraco”, diz.
Segundo o empresário, um amigo dele já se feriu na via, após ser vítima de um acidente causado por um dos buracos. “Ele passou de moto em um desses buracos, caiu e quebrou o dedo. Eu tenho moto, mas estou evitando andar com ela por medo de cair. Eles [agentes da prefeitura] vêm e tampam os buracos, mas, na primeira chuva, já estoura tudo de novo”, reclama.
Também na região da Pampulha, mas no bairro Braúnas, a reportagem flagrou outra rua castigada. Apesar de pouco movimentada por pedestres, a rua Arnaldo Chatoud é bastante usada por motoristas que deixam a orla da Lagoa da Pampulha para entrar no bairro. Nessa quarta, quem fazia esse trajeto precisava desviar dos buracos. Em alguns pontos, pedaços grandes do asfalto estavam jogados na via, gerando, inclusive, risco de danificar os pneus dos veículos.
No outro extremo da cidade, na região do Barreiro, um buraco causava incômodo a quem dirigia pela rua Ulisses Surette, na altura do número 462, no bairro Solar do Barreiro. A cratera, segundo moradores, apareceu no local há cerca de uma semana. A via também costuma ter esse tipo de problema, como conta o mecânico José Jorge Venâncio, de 64 anos.
Buraco na rua Ulisses Surette causa transtorno para motoristas
“Moro aqui há 45 anos e sempre foi isso. Eles não fazem manutenção direito. Surge um buraco, eles tampam. Aí vem a chuva e arranca tudo de novo. A rua vive toda trincada. E aqui é movimentado, passam três linhas de ônibus, no mínimo 150 carros por dia”, diz o homem.
Piora no trânsito e mais gastos para os motoristas
O especialista em trânsito Silvestre Andrade alerta para os prejuízos que os buracos nas vias podem causar tanto no trânsito quanto no bolso dos motoristas. No tráfego, aponta o especialista, o impacto imediato é mais demora no trânsito. “Na medida em que a via está em piores condições, os veículos desenvolvem menores velocidades e precisam tomar mais cuidado. Consequentemente, o trajeto demora mais", diz.
Andrade aponta também os efeitos que os problemas nas pistas causam na economia dos condutores. “A velocidade reduzida leva a um maior consumo de combustível. E essa mesma redução de velocidade para desviar dos buracos exige mais dos amortecedores e dos pneus, causando um desgaste maior. Gasta-se mais combustível, mais lubrificante, mais pneus, tudo fica mais caro”, explica.
Tudo isso, prossegue Silvestre Andrade, sem contar os riscos de acidentes de trânsito provocados pelos buracos. “Eles podem acontecer de duas formas. Às vezes, o buraco é tão grande que o veículo pode ficar preso. Outras vezes, ao tentar desviar, o motorista pode acabar batendo em outro veículo”, alerta.
Foi isso que aconteceu com o filho do mecânico José Jorge, de 64 anos, morador do bairro Solar do Barreiro. “Hoje mesmo, um carro aqui na rua foi desviar do buraco e bateu no retrovisor do meu filho. Até hoje, ninguém se machucou, mas pode acontecer. Para moto, por exemplo, é um perigo, ainda mais em época de chuva”, preocupa-se.
Para Silvestre Andrade, a solução para reduzir o número de buracos após as chuvas é a manutenção contínua. Ele explique que, muitas vezes, as crateras nascessem a partir de pequenas trincas, que não são reparadas da forma adequeada. "Nesses casos, a água da chuva infiltra e deteriora o pavimento pouco a pouco. Assim, um problema que poderia ser resolvido com um custo menor, acaba se tornando mais caro", diz.
Porém, no entendimento de Silvestre, falta empenho do poder público para esse zelo permanente com as vias. “Esse tipo de gasto não costuma ser prioridade para o poder político. Manutenção não gera inauguração, não tem festa, não rende holofotes. No entanto, o custo dela é muito menor do que uma reconstrução completa”, afirma.
PBH garante trabalho ‘rotineiro’
Procurada pela reportagem, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), por meio da Subsecretaria de Zeladoria Urbana (Suzurb), disse que trabalha rotineiramente na manutenção das vias, em todas as regionais da cidade, com investimentos significativos tanto nas operações tapa-buracos quanto nos serviços de recapeamento.
“No ano de 2024, foram executadas 127.272 operações tapa-buracos, com investimento de cerca de R$ 57 milhões. Para este ano de 2025, o investimento previsto neste trabalho é de R$ 58 milhões. Também em 2024, foram recapeados 509 trechos de vias na capital, representando 211,63 quilômetros, com um investimento aproximado de R$ 260 milhões”, afirmou o executivo municipal em nota.
A PBH também argumentou que o período chuvoso e alguns locais com maior movimentação de veículos são dificultadores para manter o asfalto sem buracos.
“Algumas regiões apresentam grande fluxo de veículos, com acessos a importantes centros comerciais, residenciais e turísticos, por onde circulam veículos de variadas tipologias (ônibus, caminhões, veículos de passeio, etc.). Outro componente que precisa ser levado em conta é o período chuvoso, que traz um aumento na demanda de serviços de tapa-buracos e, ao mesmo tempo, se torna um complicador na solução do problema, já que algumas ações precisam ser executadas no período de estiagem”, pontua a prefeitura.
Como solicitar o reparo de um buraco em via pública em BH?
Os serviços de tapa-buracos podem ser solicitados pelos canais oficiais da Prefeitura de Belo Horizonte, como o aplicativo PBH APP ou o site www.pbh.gov.br. Segundo a prefeitura, o cidadão recebe um número de protocolo para acompanhamento da demanda e dos prazos de atendimento.