Às vésperas da realização das consultas públicas acerca da criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Córregos Tamanduá, Poções e Peixe Bravo, no Norte de Minas Gerais, o uso de fake news contra a preservação da área é denunciado por integrantes dos Geraizeiros da região, que são comunidades tradicionais camponesas que vivem na transição entre o Cerrado e a Caatinga. 

Segundo denúncia recebida por O TEMPO, até mesmo carros de som estariam circulando nas comunidades tradicionais com informações falsas sobre a RDS, que abrangerá áreas nos municípios de Riacho dos Machados, Serranópolis e Rio Pardo de Minas. 

"Está rodando muita fake news na região, pessoal dizendo que a gente não pode tirar um pau sequer depois que consolidar a RDS. Isso é fake news, não fique ligado nessas ondas de pessoas que não são da região. O que a gente quer é proteger o nosso modo de vida na comunidade, com a nossa água limpa e pura, proteger o nosso rio e as nossas nascentes que são ameaçados por grandes projetos que não são benéficos para as comunidades", disse Raimundo Pereira da Silva, uma das lideranças do Quilombo Peixe Bravo. 

Ainda segundo ele, as afirmações de que eles não poderiam produzir ou plantar mais estão assustando os moradores da comunidade. As consultas públicas sobre a criação da unidade acontecem na tarde desta sexta-feira (25 de abril) e na manhã de sábado (26). 

ICMBio se posiciona

Diante da circulação das informações falsas, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) divulgou uma nota de esclarecimento sobre a criação da unidade de conservação. 

"A proposta de criação da RDS Córregos Tamanduá-Poções-Peixe Bravo foi reivindicada pelo movimento Geraizeiro na década de 90, para a proteção dos campos gerais (Cerrado), das cabeceiras de Rio (áreas de recarga hídrica) e do modo de vida tradicional das comunidades Geraizeiras no norte de Minas", explica o órgão. 

A comunidade do quilombo de Peixe Bravo já foi indicada em estudo antropológico, mas ainda não teve sua área demarcada e, por isso, aderiu à reivindicação da criação da RDS para incorporar o seu território e proteger os seus recursos naturais e modos de vida. 

"Ambas as comunidades sofrem pressão de atividades econômicas, em especial setores produtivos, tanto lícitas quanto ilícitas, que ameaçam seus modos de vida e os recursos naturais presentes nos seus territórios", completa o ICMBio. 

Confira a nota do órgão na íntegra: 

"Diante da ampla circulação informações falsas e distorcidas prévias às consultas públicas para a criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Córregos Tamanduá-Poções-Peixe Bravo, que ocorrerão nos dias 25 e 26/04 nas comunidades Quilombo Peixe Bravo, Riacho dos Machados/MG e Geraizeira de Córrego Verde, Riacho dos Machados/MG, o ICMBio vem esclarecer: 

A proposta de criação da RDS Córregos Tamanduá-Poções-Peixe Bravo foi reivindicada pelo movimento Geraizeiro na década de 90, para a proteção dos campos gerais (Cerrado), das cabeceiras de Rio (áreas de recarga hídrica) e do modo de vida tradicional das comunidades Geraizeiras no norte de Minas. 

Posteriormente, a comunidade do quilombo de Peixe Bravo, cujo território já foi indicado em Estudo Antropológico, mas ainda não foi demarcado, aderiu à mesma reivindicação, visando incorporar seu território na RDS Córregos Tamanduá-Poções-Peixe Bravo, para também proteger seus recursos naturais e modo de vida. 

Ambas as comunidades sofrem pressão de atividades econômicas, em especial setores produtivos, tanto lícitas quanto ilícitas, que ameaçam seus modos de vida e os recursos naturais presentes nos seus territórios. 

A RDS é uma categoria de unidade de conservação que pode garantir esta proteção ambiental reivindicada sem impactar ou restringir o modo de vida tradicional destas comunidades. As atividades ali já praticadas por diversas gerações têm se mostrado totalmente sustentáveis e protetoras da natureza. 

Agricultura familiar, solta de gado, coleta de frutos e outras espécies no Cerrado e na Mata, são totalmente compatíveis e permitidas nesta categoria de UC. 

Toda a infraestrutura necessária para as comunidades incluindo casas, currais, escola, hospital, estradas, casas de farinha, indústrias para beneficiamento de frutas, entre tantas outras possibilidades também são permitidas em uma RDS. 

São permitidas também propriedades tituladas, posses e a titulação no interior da RDS. Contudo grandes fazendas ou propriedades em desacordo com os objetivos da RDS e com o modo de vida das populações tradicionais podem ser indenizadas e desapropriadas pelo ICMBio para uso coletivo da comunidade. 

A gestão da RDS é feita de forma compartilhada com as comunidades por meio de um conselho deliberativo. 
Por fim a proposta para a RDS Córregos Tamanduá-Poções-Peixe Bravo não prevê Zona de Amortecimento (ZA) se limitando ao território indicado nos mapas. 

O Instituto Chico Mendes reafirma seu compromisso com a conservação da biodiversidade e com a promoção do desenvolvimento socioambiental para proteger a natureza integrada com as pessoas."