Depois de 40 anos, uma guarda de Congado voltou a se apresentar na Torcida de Deus, em um momento especial da tarde: uma homenagem a Nossa Senhora da Piedade, padroeira da Arquidiocese de Belo Horizonte. O evento, considerado o maior encontro católico de Minas Gerais, lotou o estádio do Mineirão na tarde desta quinta-feira (19 de junho), feriado de Corpus Christi.

Além de apresentações de música clássica, concertos e tenores, o evento convidou a Guarda de Congado da comunidade quilombola dos Arturos para mostrar essa manifestação religiosa e cultural que marca profundamente a história mineira.

Criado em 1975, o Torcida de Deus acontece a cada três anos, mas nos seus últimos de dez anos passou por uma longa pausa. As duas últimas edições, previstas para 2018 e 2021, foram impactadas, respectivamente, pela greve dos caminhoneiros e pela pandemia de coronavírus.

Além do intervalo no calendário, o Torcida de Deus também colocou fim a outro afastamento: o da presença de grupos de Congado na festa de vertente católica. Inspirado em celebrações e rituais africanos oriundos, principalmente, do Congo, Moçambique e Angola, o Congado homenageia divindades, reis e rainhas africanos, incorporando também a devoção a santos católicos negros, como São Benedito, Santa Efigênia e Nossa Senhora do Rosário.

Segundo o padre Filipe Gouvêa, vigário episcopal para a Ação Pastoral da Arquidiocese, a presença da Guarda de Congado nesta retomada é uma forma de valorizar essas expressões tão enraizadas na cultura mineira e também presentes na Arquidiocese de Belo Horizonte. “Trazer a Comunidade Quilombola dos Arturos também é trazer todas as comunidades quilombolas e os congados, que estarão representados pela devoção a Nossa Senhora. São grupos que expressam sua fé de um modo muito especial, bem próximos da querida Mãe Maria. Por isso, queremos a presença deles hoje, para engrandecerem nossa festa e aproveitarem a oportunidade de coroar e homenagear Nossa Senhora”, explica.

Grande Honra

Para a retomada da tradição, foi escolhida também uma comunidade com raízes que vêm de longe. A Comunidade Quilombola dos Arturos, de Contagem, foi a convidada para se apresentar. Reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial de Minas Gerais desde 2014, a participação, para a Rainha do Congado, Maria Gorete Costa, além de encher a comunidade de felicidade, é uma chance de a guarda mostrar sua fé e devoção. “Pra gente é muito potente mostrar um pouquinho do que a gente já faz lá no nosso quilombo, que é rezar o terço e estar junto com Maria, que é a nossa verdadeira mãe e nossa proteção”, destaca a Rainha.