A Prefeitura de Belo Horizonte pode substituir Guardas Municipais por “pessoas da própria comunidade” para lidar com problemas de segurança nessas instituições. Na semana passada, um comunicado de retirada dos servidores gerou medo e insatisfação por parte dos profissionais da saúde, que temem que a ausência de um agente de segurança possa trazer conflitos com a população. Segundo o prefeito Álvaro Damião (União Brasil), a maior parte dos problemas dentro dos centros de saúde são causados por estresse. “Ninguém vai lá para atacar o outro, roubar o outro, as pessoas vão ali e o estresse provoca o problema que é gerado dentro do centro de saúde”, afirmou Damião durante a cerimônia de 22 anos da Guarda Civil Municipal, nesta segunda-feira (25/08), na Praça da Bandeira, na região Centro-Sul da cidade.

Ainda segundo o prefeito, a ideia é que a guarda faça o patrulhamento nos bairros, e atenda pontualmente os centros de saúde, caso haja necessidade. “Há uma ideia de pegar pessoas da própria comunidade, pessoas que conhecem o posto, que conhecem o médico, que conhecem a recepcionista, conhece todo mundo, para estar ali. Não estou falando que eu vá acertar, mas a minha chance de acertar é muito grande, porque essa pessoa  que vai falar: ‘ó, senhor João, você de novo? Tem que ter calma , fica aqui na fila, aqui, senta aqui, vamos tomar um café, conversa, espera um pouquinho’. Essa pessoa que a gente está procurando, uma forma de colocá-la dentro dos quadros da Secretaria de Saúde para que ela possa atuar dentro do posto”, detalhou.

A ideia faz parte de um plano maior envolvendo a segurança pública, que conta com aumento do efetivo e investimento em tecnologia e equipamentos para  a corporação.

“Até o final do ano, nós vamos apresentar para a população de Belo Horizonte um pacote de segurança pública para melhorar, resolver; se não conseguirmos resolver de imediato, melhorar muito a vida do povo belo-horizontino. Ladrão não vai entrar no nosso município, roubar e embora com as portas abertas tranquilamente não vai, pode ter certeza absoluta do que eu estou falando. Belo Horizonte não é lugar de ladrão, ele vai ter que roubar, se quiser roubar em outro lugar, porque aqui se ele roubar nós vamos pegar”, pontou. 

Investimentos

No começo deste mês, o prefeito de Belo Horizonte, Álvaro Damião (União Brasil), anunciou a convocação de 500 guardas municipais, excedentes no concurso público realizado em 2019. 

Eles irão reforçar a instituição que conta com 2.048 agentes na capital mineira. Junto aos novos profissionais, o prefeito anunciou a compra de 545 tasers, além da instalação de compartimentos para detidos em todas as viaturas. O investimento é de cerca de R$ 5 milhões.

Análise

A experiência proposta por Damião é analisada pelo especialista em segurança pública Arnaldo Conde como válida. “Centro de saúde é um lugar tenso por si só. Não é um local de gente feliz. Essa pessoa vai fazer um trabalho de intermediação da tensão. Não é pelo fato de ter um guarda municipal ou policial militar que ela será reduzida. Com essa pessoa da comunidade no centro de saúde, a forma de controlar a tensão será mudada. Vejo como uma ideia a ser experimentada.”

Segundo Conde, “ao redor do mundo” algo semelhante acontece. “Na Inglaterra há um trabalho voluntário de segurança nas ruas e quarteirões feito pelos próprios moradores. Durante um determinado período, eles exercem a segurança do espaço onde residem. Nem por isso eles vão exercer atividade de polícia”, destaca.

O estudioso ainda pondera que, no Brasil, há um conceito de que os problemas de tensão precisam ser “tratados com repressão”. “A maioria das vezes, sim, mas nesse específico é ser um mediador. Caso não dê, aí sim aciona-se a força policial. A participação da sociedade é absolutamente importante. Essa proposta é um exemplo de que, se as regras estão claras e as pessoas sendo reconhecidas, ela pode funcionar”, complementou.