Moradores do bairro Jardim Guanabara, na região Norte de Belo Horizonte, denunciam a falta de segurança e estrutura de uma das principais pontes de acesso à região. A estrutura, que também serve como passarela para pedestres sobre o Córrego Tamboril, é utilizada por quem vem dos bairros Jardim Felicidade, Granja Tupi e Floramar.
O problema é antigo. No Google Maps, em imagens de maio de 2024, já é possível observar mato alto e a estrutura de proteção comprometida. Hoje, o cenário inclui ferrugem em boa parte do metal, fissuras no asfalto, depredação e peças soltas, o que afeta a segurança.

Sem área exclusiva para pedestres, crianças, idosos e pais com carrinho de bebê precisam dividir espaço com veículos, que também enfrentam congestionamentos e falta de sinalização na via de mão dupla. Segundo motoristas, a situação se agrava nos horários de pico.
A reportagem registrou, nesta segunda-feira (1º/9), tráfego intenso sobre a ponte, que fica próxima a escolas. Moradores reclamam da demora na manutenção e temem acidentes. Recentemente, um cavalo caiu da estrutura e quebrou duas patas. Atualmente, a única intervenção no local é um tapume de madeira com um aviso de papel: “Atenção, trecho em obras”. Segundo moradores, operários trabalharam por apenas dez dias no último mês de agosto e não voltaram. “A promessa era concluir a obra em 30 dias, mas 20 já se passaram sem avanços”, afirmou uma moradora que preferiu não se identificar.
“Essa ponte nem devia estar funcionando”, diz moradora
Para Weverton Santos, de 31 anos, trabalhador em um depósito de construção e pai de um bebê que leva à escola pelo local, seria essencial uma ponte exclusiva para pedestres. Ele conta que já presenciou acidentes graves no trecho, inclusive, ao ponto de um carro ficar “pendurado” e quase cair dentro do córrego. “Na minha opinião precisa de outra ponte, não para carro, mas só para pedestre, para evitar qualquer acidente”, disse.
O aposentado José Terra, morador do bairro há 46 anos, relata que o aumento do fluxo de veículos se deve ao desvio feito por motoristas para fugir da avenida Cristiano Machado e para aqueles que desejam acessar a Catedral Cristo Rei. “De um ano para cá aumentou bastante o fluxo de carros. A sensação é péssima, é de insegurança”, afirmou.
Ele defende a instalação de quebra-molas ou que a via funcione em sentido único. O morador também presenciou a queda de um cavalo no córrego. “Isso aconteceu porque nessa rua o carro desce ao mesmo tempo que outro sobe, e ninguém respeita”, disse.
Patrícia Santos, de 55 anos, também reclama da falta de sinalização. Segundo ela, havia apenas uma faixa informando que veículos pesados não poderiam passar durante a manutenção, mas a regra não é respeitada. “Ônibus e caminhão continuam passando normalmente”, relatou.
Ela ainda lembra que a passarela interditada também era insegura. “O pior era a passarela de pedestre, que sacolejava muito. Mas aqui também é perigoso: se você passa junto com o ônibus, corre o risco de ele virar e te pegar”, explicou.
A cuidadora de crianças Divina Viana, de 59 anos, alerta para o risco de atropelamentos. “Os carros não param. Quando a gente tenta atravessar, buzinam como se a gente fosse o impedimento. Esse trajeto virou atalho para quem vai para Santa Luzia e São Benedito. Acabou o sossego”, afirmou.
Ela também denuncia desentendimentos frequentes no trecho. “Já vimos pessoas descerem do carro e se agredirem porque um está no meio e outro no início. Essa ponte nem devia estar funcionando. Começaram a reforma, pararam e deixaram tudo inacabado”, disse.
Sinalização é fundamental, aponta especialista
O especialista em segurança no trânsito, Agmar Bento, explica que, em uma infraestrutura como a da ponte sobre o Córrego Tamboril, não é adequado que pedestres e veículos compartilhem o mesmo espaço de passagem. Para ele, são necessárias intervenções que garantam a segurança de todos.
“Por ser uma ponte estreita, seria necessária uma sinalização automática, como o sistema de siga e pare, utilizando luzes vermelha e verde alternadas, ou mesmo placas indicativas”, afirmou Agmar. Ele ressalta ainda que deve haver uma barreira física de, pelo menos, 1,5 metro, como um guarda-corpo, além de um desnível que diferencie calçada e pista. “Em casos de passagens provisórias, pode-se utilizar um material improvisado, como um tapume de madeira. Mas cones não são suficientes, pois são frágeis; é preciso algo contínuo”, completou.
Segundo o especialista, por se tratar de uma obra recente, é fundamental a instalação de sinalização adequada para motoristas e pedestres. “É necessário que haja placas informando sobre a obra e também iluminação específica, como luz vermelha destacando o local em intervenção”, explicou.
Ele defende ainda a criação de desvios para veículos de grande porte antes da chegada à ponte, para reduzir os riscos. “É importante que haja sinalização de desvio para caminhões e ônibus, e que as placas estejam posicionadas antes do acesso à ponte, e não apenas sobre ela”, destacou.
Entre outras medidas indicadas pelo especialista estão:
- Placas de redução de velocidade;
- Ondulação transversal;
- Placas informando sobre a circulação de pedestres e veículos no mesmo espaço.
O que diz a prefeitura
A Subsecretaria Municipal de Zeladoria Urbana (Suzurb) informou, em nota, que estão em andamento serviços de manutenção da ponte e da passarela, incluindo:
- Substituição e reforma do guarda-corpo;
- Troca do piso;
- Instalação de montantes transversais de reforço;
- Reparo de partes danificadas.
Segundo a subsecretaria, durante os serviços a passarela ficará interditada e pedestres devem atravessar pela ponte, em área sinalizada. A previsão é que as obras sejam concluídas até o fim de setembro.
Sobre as reclamações feitas pelos moradores, a Prefeitura de Belo Horizonte afirmou que a obra, assim como a passagem de pedestres no local, foi sinalizada. "Sobre a proibição do trânsito de veículos pesados, cabe ressaltar que a faixa com a proibição foi fixada em local de fácil visualização e que cabe aos motoristas respeitar a sinalização", destacou.
A PBH ainda ressaltou que o objetivo da obra é trazer maior segurança para os usuários. "As equipes estão trabalhando no local desde o dia 19/08/2025, de segunda a sexta-feira, cumprindo o cronograma previsto", afirmou.
Prefeitura de Belo Horizonte:
A Subsecretaria Municipal de Zeladoria de Urbana (Suzurb) informa que está sendo feita a manutenção da ponte e da passarela localizadas na continuidade da Rua Geraldo Ferreira de Abreu, entre a Av. Lucas de Oliveira e Rua Franzen de Lima, bairro Jardim Guanabara, conhecida como Ponte Xodó Marize. Estão sendo executados a substituição e reforma do guarda-corpo da passarela e da ponte, substituição do piso, instalações de montantes transversais de reforços e manutenção de partes danificadas. Durante a execução dos serviços, a passarela ficará totalmente fechada para o tráfego de pedestres, que devem realizar a travessia em área sinalizada na ponte. A previsão é que os trabalhos sejam finalizados até o final deste mês de setembro.
*Estagiária sob supervisão de Cidades.