O grave acidente que matou, na noite do último domingo (7/9) a estagiária de jornalismo Brunna Ribeiro de Castro Rosas, de 22 anos, acendeu o alerta para o risco de se descer de um carro que foi atingido por fios de alta tensão. Nestes casos, segundo o Corpo de Bombeiros, a orientação normalmente é que as pessoas não desçam do veículo, já que, lá dentro, seria o local mais seguro até a chegada das autoridades. Entretanto, no acidente registrado na avenida Nossa Senhora do Carmo, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, um agravante impediu que isso ocorresse, uma vez que o carro das vítimas acabou se incendiando após a batida.
Ouvido pela reportagem de O TEMPO nesta segunda-feira (8/9), o porta-voz dos bombeiros, tenente Henrique Barcellos, explicou que, neste caso, é preciso utilizar uma técnica específica para evitar a eletrocussão ao descer o carro. "Quando não há fogo, não há fumaça, a orientação é que as pessoas fiquem dentro do carro, onde estão protegidos do choque, e liguem para o 193. Mas, se o veículo começa a se incendiar, as pessoas vão ter que abandonar o veículo e, para isso, é preciso seguir um procedimento muito específico", alerta.
"A pessoa precisa abrir a porta com cuidado, para não ter contato com a lataria do carro. Usando um calçado, é preciso descer do banco com os dois pés juntos, apoiando os dois ao mesmo tempo no chão e colados um ao outro. E, dali, é preciso andar arrastando os pés no chão, ainda colados um no outro. A pessoa não pode dar o passo como normalmente estamos acostumados a fazer. Só se pode andar da forma normal depois que estiver a mais de 10 metros do carro", orienta Barcellos.
Assista ao vídeo que ensina a técnica:
Normalmente, a orientação para casos de acidentes com rompimento de cabos de energia de alta tensão é que as pessoas permaneçam dentro do veículo. Porém, o que fazer caso o carro esteja em chamas? O Corpo de Bombeiros explica como agir em um momento como o grave acidente que, na… pic.twitter.com/wNjfXfpKzc
— O TEMPO (@otempo) September 8, 2025Segundo o porta-voz do Corpo de Bombeiros, existe uma explicação para o uso da técnica para descer do veículo. "Quando você tem um ponto energizado, em volta dele se criam várias circunferências de tensão. Se estou em um raio de 2 metros do carro, é uma tensão. Se estou a 3 metros, já é outra. Por isso a importância de andar com os pés juntos, pois todo o corpo fica submetido a uma mesma corrente. Por isso não pode dar o passo normalmente, uma vez que um pé pode estar em uma tensão e o outro na outra, fazendo com que a tensão maior entre no meu corpo e saía no ponto de menor tensão", alerta o tenente.
A reportagem também procurou a Cemig, que não se posicionou até a publicação da reportagem.
"Usei meu casaco para apagar o fogo dela", lembra testemunha
O grave acidente aconteceu por volta das 22h30, momento em que a via ainda estava bastante movimentada, sendo presenciado por dezenas de pessoas. Uma delas foi o advogado Frederico Campos Coutinho, que estava em um dos carros que desciam a via e ajudou a retirar as vítimas de perto do carro em chamas. Ele conta que, inicialmente, achou que se tratava de um transformador explodindo.
"Quando cheguei mais perto, vi que tinha um carro batido no poste e muita faísca saindo. A porta do motorista estava aberta, acredito que ele ainda estava consciente. As pessoas ao redor gritavam para que ele tivesse cuidado, por causa da eletricidade. Enquanto eu ligava para a Cemig, solicitando o corte da energia, algumas pessoas tentavam se aproximar para ajudar e outros gritavam para que eles se afastassem", relembra.
Ainda conforme Coutinho, em seguida ele viu uma pessoa arrastando a jovem, que estava com as roupas em chamas. "No desespero, corri para ajudar a afastá-la e usei meu casaco para apagar o fogo em suas roupas. Acabei sofrendo queimaduras na mão e no braço, tanto pelo fogo quanto pela descarga elétrica. Infelizmente, acredito que ela já tinha falecido, pois não apresentou qualquer reação enquanto eu tentava apagar as chamas", conta o advogado.
Questionado sobre como as pessoas que presenciarem esse tipo de acidente devem agir, o tenente Henrique Barcellos, porta-voz dos bombeiros, orienta que o mais importante é acionar a emergência e isolar o local, para evitar que pssoas desavisadas se aproximem e sejam eletrocutadas.
"O choque que tomamos em casa, de 110 ou 220 V, se você estiver com um calçado ou usando uma madeira, você consegue isolar o choque. Mas, em caso de média e alta tensão, estamos falando de kV, que são mais de 100 vezes o choque doméstico. Nestes casos, o calçado, um bastão de madeira, já deixa de ser isolante. Por isso, não se deve tentar aproximar até a chegada dos bombeiros, uma vez que nós temos um equipamento específico, chamado bastão isolante, que permite essa aproximação com segurança", completa o militar.
Relembre o acidente
Brunna era estudante de Jornalismo na PUC Minas e fazia estágio na Record TV em Minas Gerais. Ela estava em um Chevrolet Ônix que era dirigido pelo namorado, de 26 anos. No veículo, também estava um colega de emissora da jovem, de 36, que ficou ferido no acidente. O carro de passeio atingiu um poste na esquina da movimentada avenida com a rua Rio Verde.
Após o impacto, o carro teve um princípio de incêndio e, em seguida, tiveram início explosões na rede elétrica. A jovem morreu ao sair do carro e sofrer uma descarga elétrica devido aos fios partidos com o impacto do acidente.
O namorado de Brunna Rosas ficou inconsciente no veículo e foi retirado com a ajuda de pessoas em situação de rua. Ele foi encaminhado para o Hospital João XXIII em estado grave. A Polícia Civil investiga o caso.
Câmeras de segurança flagraram o momento da batida:
Imagens de câmeras de segurança registraram o momento exato do acidente que matou a estudante de jornalismo Brunna Ribeiro de Castro Rosas, de 22 anos, na noite desse domingo (7), na Avenida Nossa Senhora do Carmo, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte.
O carro em que a jovem… pic.twitter.com/yDs6RtKi8B