Caso Rodrigo Neto

Acusado da morte de jornalista nega crime e diz que não conhecia Neto

O ex-policial Lúcio Lírio Leal, de 23 anos, vai a júri popular no Fórum de Ipatinga; Rodrigo Neto foi assassinado em março de 2013

Por Johnatan Castro
Publicado em 28 de agosto de 2014 | 11:06
 
 
 
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Seis homens e uma mulher serão os responsáveis por julgar o ex-policial civil Lúcio Lírio Leal, de 23 anos, acusado de envolvimento na morte do jornalista Rodrigo Neto, assassinado em março de 2013. O julgamento começou na manhã desta quinta-feira (28) no fórum de Ipatinga, no Vale do Aço. Cerca de 120 pessoas acompanham o júri.

Leal chegou ao fórum cerca de meia hora antes do júri, trazido da capital em uma viatura da Polícia Civil. Sem algemas e bastante calmo, ele não conversou com os jornalistas. Mais cedo, parentes das vítimas e do réu formaram uma longa fila na porta do tribunal. Eles usavam camisetas com fotos da vítima e com a palavra “Inocente”.

Lourdes Beatriz Feria, viúva de Rodrigo Neto, contou que tem acompanhado o caso de perto e que muitos pontos do crime ainda não foram esclarecidos, como a motivação e a identidade de um segundo atirador. "Isso causa medo, porque a gente não sabe quem fez isso e nem o porquê. A gente tem medo do que possa acontecer", disse.

Os pais de Leal também acompanham o julgamento e preferiram não ser identificados. Segundo eles, o filho tinha quase três anos de atividade policial e nunca se envolveu em problemas. "Ele é muito sossegado. Não quero ficar comentando isso, mas afirmo que meu filho é inocente", afirmou o pai.

O primeiro a prestar depoimento foi um investigador da Polícia Civil, que contou que câmeras de vigilância flagraram a caminhonete Strada de Leal percorrendo o bairro onde o crime aconteceu pouco antes do assassinato.

Depoimentos

Dois policiais que participaram da força-tarefa que saiu de Belo Horizonte para investigar a morte de Rodrigo Neto prestaram depoimento. Ambos destacaram que os principais elementos que mostram que o réu participou do crime são a amizade que ele tinha com o atirador Pitote, os telefonemas que eles trocaram pouco antes de o jornalista ser assassinado e o fato de a caminhonete Strada de Lúcio ter passado pelo local do crime 8 minutos antes da motocicleta dos atiradores.

Tanto a motocicleta quanto a Strada foram filmadas por várias câmeras de segurança de estabelecimentos próximos e, com essas imagens, a polícia pôde traçar o trajeto feito pelos dois veículos.

Acusado nega participação no crime

O réu começou a ser interrogado pouco antes de 12h. Em seu depoimento, ele negou envolvimento com a morte de Rodrigo Neto. Segundo Leal, ele estava na casa da namorada no dia do crime e não passou nem perto do churrasquinho onde o jornalista foi assassinado. Ao falar da família, o réu chorou. Os parentes dele que acompanham a sessão também se emocionaram. 

O ex-policial também negou ter ligado mais de 100 vezes para o Pitote nos dias próximos ao crime, como aponta a investigação. Ele disse, ainda, que não conhecia Rodrigo Neto e nem o trabalho dele. Leal afirmou também que não sabe quem é o verdadeiro autor do crime.

Muito emocionado, o pai do jornalista Rodrigo Neto deixou o tribunal enquanto o réu era interrogado.

Após o intervalo para o almoço, teve início a fase de debates do julgamento. O promotor Francisco Ângelo relembrou a cronologia do crime aos jurados e afirmou que às 0h27, hora em que o jornalista foi morto, o réu não estava na casa da namorada, como disse em depoimento. 

O promotor afirmou que o réu agiu como mentor do assassinato e pediu a condenação. A motivação do crime, no entanto, não foi apresentada pela acusação.

O crime

Segundo a denúncia do Ministério Público, Leal integrava um grupo de extermínio que ainda é investigado. Ele teria repassado informações sobre a vítima aos executores pouco antes do crime e traçado o itinerário de fuga dos suspeitos. A promotoria defende que a morte tem ligação com as denúncias feitas por Neto.

Já o executor do jornalista seria Alessandro Neves Augusto, o Pitote, que estava na garupa de uma moto pilotada por uma pessoa ainda não identificada. Assim como Leal, ele foi preso em maio de 2013. Pitote também deve ir a júri popular.

Advogado do réu, Fábio Silveira informou que a defesa pretende deixar claro para os jurados que Lúcio Lírio Leal não está envolvido no crime. “As provas dos autos só reforçam a inocência dele”, afirmou. A reportagem tentou localizar familiares da vítima, sem sucesso.

Testemunhas dispensadas

Após a fase de debate entre a acusação e a defesa, foi feito um intervalo no júri. Em seguida foi a vez da réplica e tréplica. No total seis testemunhas foram dispensadas do julgamento, sendo que cinco delas eram somente da defesa.

Os advogados do réu fizeram um discurso convincente, afirmando que a falta de uma motivação isentaria Lúcio de culpa. Além disso, a defesa dele alegou que a acusação diz ter provas, porém, não as apresenta em nenhum momento.

Relembre

Rodrigo Neto morreu em 8 de março de 2013, após ter sido atingido por oito disparos, quando saía de um churrasquinho no bairro Canaã, em Ipatinga. Em 14 de abril seguinte, o fotógrafo Walgney Carvalho, que trabalhava com Rodrigo Neto, também foi assassinado.

No dia 15 de abril do mesmo ano, a Polícia Civil criou uma força-tarefa para apurar a morte dos jornalistas e outros 14 crimes cometidos na região. Como resultado, seis policiais civis e quatro militares foram presos, e 16 pessoas, indiciadas. Lúcio Lírio Leal foi detido em junho de 2013.

O caso teve grande repercussão e provocou mudanças na cúpula da Polícia Civil em Ipatinga.

Atualizada às 17h00

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