À medida que o tempo passa e um crime não é desvendado, a sensação de impunidade ganha força entre as famílias das vítimas. A descoberta da autoria do assassinato de Shirley Macline Damasceno Oliveira, 44, três anos após o homicídio ter acontecido, provou que a justiça tarda, mas não falha.
De acordo com a 8ª Delegacia de Homicídios de Betim, ela foi executada com uma paulada na cabeça pelo marido, que forjou o crime de latrocínio – roubo seguido de morte – da própria mulher para ficar com o seguro de vida dela e ainda poder assumir o relacionamento com a amante. O suspeito foi detido na tarde da última quarta-feira (13), na oficina em que era sócio, em Contagem.
Vários detalhes levaram a polícia a descobrir a farsa articulada pelo marido. Até então, o caso estava sendo investigado por uma delegacia distrital. Só há 15 dias, foi encaminhado para a Homicídios.
“Ele matou ela na garagem de casa com um porrete de madeira, e desovou o corpo na avenida Marco Túlio Isaac, no bairro Betim Industrial. Depois, alegou a polícia que ela tinha saído de casa com R$ 3.000 em dinheiro. Nada foi achado com ela. Porém, as características da fratura no crânio não são comuns em um latrocínio. Já a perícia constatou que pela quantidade de sangue que estava ao redor do corpo e a posição em que ela estava, a vítima não havia sido morta no local”, explicou o delegado Rodrigo Otávio Rodrigues, responsável pelo caso.
Depoimentos dados pela irmã de Shirley e pelos três filhos da vítima, de 12, 16 e 18 anos, também reforçaram a autoria do assassinato. “Dias antes de ser morta, a vítima contou à irmã que queria se separar, pois havia descoberto a relação extraconjugal do marido. Ela também disse à irmã que estava sendo ameaça pelo marido e estava desesperada.
Além disso, quando o inquérito foi encaminhado para a Homicídios, o homem se desesperou. Passou a ameaçar os filhos, que desde a morte da mãe, foram abandonados pelo pai e moram sozinhos, em uma casa de aluguel. Ele queria que os filhos assinassem documentos em branco, para poder vender a residência da vítima, que estava locada para terceiros, para, provavelmente, poder fugir com a amante”, disse Otávio.
Logo após o crime, o suspeito também azulejou o chão da garagem, supostamente para esconder evidências de sangue no chão, e ainda se contradisse nos quatro depoimentos dados à polícia. “O suspeito também não conseguiu arrumar um álibi para explicar onde estava na parte da manhã, momento em que o crime aconteceu. Ele alega que estava na casa da sogra, mas a sogra alega que ele passou lá por apenas dez minutos. Já o sócio dele contou que no dia do crime, ele chegou atrasado no serviço e, quando chegou ma oficina, lavou o carro duas vezes e ainda trocou os bancos do carro”, completou o delegado.
Ainda segundo o delegado, não há provas materiais de que a amante do homem tenha envolvimento com o homicídio. “Até então, acreditamos que ela pode ter incentivado a ação do amante”, disse.
O suspeito foi encaminhado ao Ceresp Betim. Na delegacia, ele não quis falar com a reportagem, mas, à polícia, negou o crime e a relação extraconjugal.