Ensino remoto

Aulas remotas da rede municipal em BH retornam no dia 1º com ‘dois anos em um’

Conteúdos referentes a 2020 serão contemplados ao mesmo tempo que as matérias previstas para 2021

Por Gabriel Rodrigues
Publicado em 26 de janeiro de 2021 | 17:35
 
 
 
normal

O ano letivo da rede municipal de ensino em Belo Horizonte será iniciado no dia 1º de fevereiro, na próxima segunda-feira. As atividades serão remotas até que o ensino presencial seja autorizado pela Prefeitura de BH (PBH), o que ainda não tem data para ocorrer. Na perspectiva de profissionais da educação, problemas que afetaram o ensino em 2020 seguirão em 2021, como o desafio de alcançar todos os estudantes e a dificuldade de os professores terem acesso a equipamentos de trabalho. Ao mesmo tempo, a prefeitura propõe que o ensino contemple o conteúdo do ano passado e o deste. 

Em 2020, as escolas municipais já ofereciam o ensino remoto, com foco nos alunos que estavam terminando um ciclo de ensino — ou seja, quem estava no quinto e nono ano do ensino fundamental. Neste ano, todos os anos deverão cumprir a carga horária mínima de 1.600 horas, somando 800 horas referentes a 2020, incluindo o que já foi realizado no ano passado, e outras 800 a 2021. A exceção são os alunos do primeiro ano do fundamental, que seguirão com a carga horária habitual. Isso não significa, porém, que os demais precisarão ficar seis horas por dia online com os professores, já que esse cálculo também abrange o tempo necessário para executarem atividades. A participação dos estudantes será avaliada a partir da distribuição de cem pontos ao longo do ano letivo, que terminará no dia 23 de dezembro. 

A prefeitura estabeleceu, por meio de uma portaria publicada nesta terça-feira (26), que cada escola ficará responsável por contatar as famílias dos estudantes e fornecer material impresso para aqueles que não conseguirem acompanhar as atividades virtualmente. Uma professora que atende a quatro turmas de quinto ano em uma escola municipal na região da Pampulha e que pediu para não ser identificada diz que, em 2020, só cerca de 30% dos alunos conseguiram acompanhar as atividades propostas. Procurada pela reportagem, a prefeitura não informou quantos estudantes acompanharam o ensino remoto em 2020. 

A educadora avalia que o esquema de junção de anos letivos proposto pela prefeitura é a conclusão mais adequada para este momento. “No contexto da pandemia, é o possível. Está longe de ser o ideal, mas estamos em uma época de exceção e essa medida parece a mais correta para dar sequência ao ensino”, diz. 

Incertezas

Já a cozinheira Antônia Lourenço, 50, encara com ceticismo o esquema de “dois anos letivos em um” proposto pela prefeitura. Seu filho, Pedro Henrique, 13, estava no oitavo ano em 2020, e agora continuará nessa etapa ao mesmo tempo em que verá conteúdos do último ano do ensino fundamental. “Ele teve 15 dias de aula presencial no ano passado. Só em setembro começaram o sistema remoto. Os professores mandavam atividades pelo WhatsApp uma vez por semana. Em uma, eram textos de português, na outra, de matemática, e assim sucessivamente. Ele não vai ter base com um sistema de dois anos em um. Os meninos vão chegar ao ensino médio e ficar agarrados”, diz. 

Do outro lado da equação, professores também sofrem com uma estrutura deficiente para atender ao ensino remoto, de acordo com o Sindicato dos Trabalhadores em Educação da Rede Pública Municipal de Belo Horizonte (Sind-Rede BH).

“A prefeitura alega que o professor que não tiver equipamentos pode ir à escola presencialmente, mas isso é uma chantagem. Primeiro, porque não é verdade que a estrutura da escola seja boa assim, a rede cai muito. E ou você usa seu equipamento ou se expõe (ao vírus). É óbvio que a maioria das pessoas cedem e usam o delas. E o computador que a professor comprou há dez, 15 anos, servia para ela até antes da pandemia, agora não serve mais, não dá conta de rodar todos os programas”, diz uma das diretoras do sindicato, a ex-candidata à vereadora pelo PSTU Vanessa Portugal. Mesmo com todas as fragilidades que nota no ensino remoto, ela defende que o presencial seja retomado somente após a vacinação dos trabalhadores da saúde e de grupos de risco da Covid-19. 

Portugal cobra, ainda, que mais professores tenham acesso a chips e a telefones celulares para ampliarem a busca pelos estudantes para o início das atividades. O Sind-Rede BH tem uma reunião marcada com a secretaria nesta quinta-feira (28) para discutir a retomada do ano letivo.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!